segunda-feira, 21 de setembro de 2009


DIRETÓRIO NACIONAL DO PT PUNE DEPUTADOS PRÓ-VIDA.

COERÊNCIA OU INCOERÊNCIA?



Valter de Oliveira


Na última quinta-feira, dia 17, a Diretoria Nacional do PT suspendeu os direitos políticos dos deputados federais Luiz Bassuma (PT-BA) e Henrique Afonso (PT-AC).

Por unanimidade, os membros do DN entenderam que os dois deputados infringiram a ética partidária. Na defesa do direito à vida humana teriam assumido uma postura “militante e agressiva contra diretriz definida em resolução do 3º Congresso Nacional do PT a respeito da descriminalização do aborto.”
















Os dois tiveram seus direitos partidários suspensos: Luiz Bassuma por 1 ano e Henrique Afonso por 90 dias.

A íntegra das duas decisões do Diretório Nacional está no site do PT.

O que pensar da punição? Ditadura petista contra a liberdade de expressão e convicções de seus filiados? Intransigência na defesa
do aborto?

E-mail que recebi de um amigo afirma que a sanção, publicada no site do PT, “além de esclarecer em que consiste a punição, evidencia claramente a posição abortista e autoritária do Diretório Nacional do PT.”É assim mesmo? Responderei as questões com breves considerações sobre fidelidade partidária, liberdade e democracia.

Democracia e partidos políticos

As regras democráticas brasileiras afirmam que ninguém pode ser eleito como representante popular a não ser que esteja em um partido político. A legislação britânica permite candidaturas independentes. A nossa nega essa possibilidade.

A democracia representativa através dos partidos permitiria que o povo escolhesse entre programas de governo – com os candidatos eleitos vinculados à sua realização – e não mais através da simples escolha entre indivíduos.O papel do partido seria preparar os programas de governo. Os candidatos eleitos deveriam executá-los fielmente. Dentro das limitações da política.

Essa lógica exige três coisas:

1. que os partidos realmente tenham ideologia – no sentido de princípios e visão filosófica do homem e do mundo – e programas de governo;

2. que os candidatos eleitos – para o executivo e o legislativo – sejam fiéis à ideologia e ao programa de seus partidos. O contrário seria enganar o eleitor.

3. para evitar isso os partidos têm o direito de punir todo associado que desrespeite a filosofia política que disse assumir e seu respectivo programa, desde que cumpridas as normas legais e regimentais.


A realidade brasileira

Em nosso país, em geral, os partidos não têm uma ideologia claramente definida. A ideologia e os programas são escritos de forma vaga, imprecisa. Basta ver o horário eleitoral gratuito. Todos defendem saúde, educação, justiça, meio ambiente, etc. Tirando-se o nome do partido, a propaganda seria perfeitamente adequada para qualquer um deles.

É verdade que partidos menores, geralmente de esquerda, têm um caráter ideológico mais definido. Mesmo assim escondem suas idéias. Não convém assustar o grande público. Às vezes, as idéias que mais chocam estão lá, na internet, mas eles sabem que quase ninguém as lê. O PCdo B não aparece na televisão para dizer que continua a sonhar com uma sociedade em que ninguém terá uma empresa, ou que no futuro, se eles tomarem o governo, não haverá liberdade para criticá-los. Tampouco o PT, algum tempo atrás, se colocaria ostensivamente pró-aborto e cultura da morte. Foi assim que enganou a classe média passando-se por partido comprometido com a ética.

De qualquer modo são os partidos de esquerda que, bem ou mal, são mais consistentes em suas idéias. E normalmente são mais rigorosos na questão da fidelidade partidária. Não há esquerdista que desconheça isso.Ora, ao contrário do que diz a presidente do PSOL, Heloísa Helena, a luta contra a família através do divórcio e do aborto sempre foi bandeira da esquerda mundial. Na lógica marxista a família, que eles chamam de família burguesa, é puro reflexo das estruturas econômicas. Mudadas essas, deixaríamos de ter a família tradicional, e passaríamos a ter a nova “família” socializada, baseada no “amor livre”.

Ademais, todos os partidos claramente de esquerda defendem as bandeiras feministas. E estas, especialmente em nossos dias, exigem a legalização do aborto e outras aberrações.

Com tudo isso queremos dizer que o PT simplesmente mostrou mais claramente a face que sempre teve.

Agora respondo à pergunta: Foi autoritário?

No sentido de exigir a fidelidade partidária, não. Como não seria um partido defensor da vida que punisse um de seus membros por defender o aborto. O PT foi simplesmente coerente. Defendeu-se para não ter obstáculos internos que prejudicassem seu empenho em propagar e implementar a cultura da morte.

E os deputados?

Incoerência e coragem dos dois deputados

Os deputados Luiz Bassuma e Henrique Afonso merecem todo o meu respeito por suas atuações em defesa da vida. Só merecem aplausos por isso. Lamento que venham a perder seus cargos na Comissão de Seguridade Social e da Família na Câmara dos Deputados.

Entretanto não posso deixar de assinalar a incoerência de suas atuações em relação ao PT.

Não conheciam eles as regras, o regulamento do Partido? Não sabiam, ou não perceberam que a ética do PT não é baseada em valores universais? Não entendem que na concepção marxista de ser humano não há uma natureza humana a ser defendida? Desconheciam que aborto é bandeira da esquerda? Foram seduzidos pelo canto de sereia da “justiça”social? Sonhavam em mudar os companheiros?

Entrar em partido de esquerda para defender a vida humana é tão incoerente quanto entrar em partido nazista para defender judeu ou para pedir a Hitler que seguisse a doutrina social da Igreja. Seria pedir ao nazismo que deixasse de ser nazismo.

Como dissemos, ao punir os dois deputados o PT foi coerente com sua visão de mundo e seu falso conceito de democracia partidária. O que a maioria decidiu tem que ser seguido. Não importa se a decisão implica na eliminação de inocentes. Se a maioria decide contra Cristo é preciso seguir Barrabás. Cristalino como água da fonte.

Pretendo escrever aos deputados. Espero sinceramente que vejam que o problema não se limita a suas punições. A questão é muito mais profunda. O erro do PT e de outros partidos de esquerda é de visão do homem e do mundo.

Continuem suas lutas pela vida e pela liberdade. Lutem mais. Ousem mais. Ampliem e aprofundem suas convicções. Saiam do PT e rejeitem qualquer partido que não defenda explicitamente a inviolabilidade da vida humana desde a concepção.




domingo, 13 de setembro de 2009


INJUSTIÇA DO STF


Valter de Oliveira





Chegou a nossas mãos um e-mail enviado pelo padre Luiz Carlos Lodi, presidente do movimento “pró-vida de Anápolis”. É um exemplo chocante de mais uma sentença injusta de nosso Judiciário.

Padre Lodi foi processado porque acusou uma pessoa de abortista. A vítima sentiu-se ofendida...

A seguir a lógica do STF não posso mais dizer que quem defende o nazismo é nazista, ou que quem defende genocídio é genocida... Posso ser punido!

Em suma, a nova ditadura brasileira vai se aprofundando.

Abaixo transcrevemos o e-mail. Nele, caso o leitor deseje, há links para entender melhor o triste episódio.

Terminamos externando nossa solidariedade ao movimento pró-vida de Anápolis e nosso protesto contra a decisão do Supremo Tribunal Federal. Foi mais uma submissão de nossos magistrados à ditadura do politicamente correto. Convém lembrar que foi assim que o Judiciário alemão tornou-se conivente com as barbáries de Hitler.

Pedimos que todos aqueles que defendem a liberdade, e que não aceitam a punição de inocentes, protestem contra tal injustiça. Temos meios para isso. É só querer usá-los.


Segue o e-mail.


CONDENAÇÃO DEFINITIVA PELO USO DA PALAVRA “ABORTISTA”


Padre Luiz Carlos Lodi


O Supremo tribunal federal não conheceu o Recurso extraordinário 548048 interposto pelo Pró-Vida de Anápolis.

Tornou-se definitiva, então, a decisão da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis do Distrito Federal, que em 16-08-2005 condenou a instituição a pagar R$ 4.250,00 (e mais 20% de custas processuais e honorários advocatícios) por causa do uso da palavra “abortista”. Hoje o valor total da indenização chega a R$ 6.052,15.

A Suprema Corte não chegou a julgar o mérito da causa. Simplesmente não conheceu o recurso. Num primeiro momento, o Ministro Gilmar Mendes havia mandado o recurso subir. Depois, porém, que ocupou a presidência do Tribunal, a relatoria foi transferida para a Ministra Ellen Gracie (foto), que resolveu negar seguimento ao recurso.

Agradecemos a Dom Odilo Scherer, na época secretário geral da CNBB e ao seu sucessor Dom Dimas Lara, por terem enviado, em momentos diferentes, cartas aos Ministros do Supremo solicitando a reforma da sentença condenatória.

Agradecemos ao jornalista Olavo de Carvalho pelos artigos “Absurdo monumental” (22/08/2005), “Perdidos no espaço” (08/12/2005) e “Suprema iniquidade” (07/07/2009) escritos para protestar contra essa estranha decisão do Poder Judiciário.

O acórdão de 16-08-2005, que não pode faltar em nenhum repositório de jurisprudência, demonstra até que ponto pode chegar o cerceamento não só à liberdade de expressão, mas ao próprio uso da língua portuguesa.

De fato, até hoje, nenhum juiz, de nenhum grau de jurisdição, informou que outra palavra a não ser “abortista” poderia ser usada para designar quem defende o direito ao aborto, sem causar “danos morais”.

Quem quiser ajudar-nos a pagar essa dívida judicial, poderá depositar sua oferta:
Conta 7070-X
Agência 0324-7
Banco do Brasil
Titular: Pró-Vida de Anápolis, CNPJ 01.813.315/0001-10

Pedimos que nos comunique seu depósito, para fins de controle contábil. Deus lhe pague.


Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis
Telefax: 55+62+3321-0900
Caixa Postal 456
75024-970 Anápolis GO
"Coração Imaculado de Maria, livrai-nos da maldição do aborto"


segunda-feira, 7 de setembro de 2009


MENTALIDADE LAICISTA E ANTI-RELIGIOSA NA REVOLUÇÃO FRANCESA



Valter de Oliveira


Em artigo da semana passada (1) criticamos a ação de laicistas que, no Brasil de hoje, querem tirar símbolos religiosos de locais públicos. Lembramos que isso é próprio de uma mentalidade intolerante, incapaz de ver a correta relação entre o Estado e todos os que têm convicções religiosas. Pior: fazia-nos recordar tristes episódios da Revolução Francesa que foram uma vergonha para a história da França.

Artigos de intelectuais católicos e do jornal “O São Paulo”, da arquidiocese paulistana, também relacionaram o laicismo atual com os tristes tempos de Robespierre. É sobre esse período que vamos escrever algumas linhas.

Em 1793, uma facção revolucionária, a dos jacobinos, tomou o poder na França e estabeleceu um governo despótico que os historiadores chamam de “O Terror”.

O líder desse grupo de facínoras foi Robespierre, que estabeleceu a lei dos suspeitos e constituiu um Tribunal Revolucionário. Este passou a julgar e a condenar todo aquele que fosse suspeito de não apoiar a Revolução. Não havia direito a advogado. Duas "testemunhas" eram suficientes para levar um acusado à guilhotina.



Desde o início os revolucionários tiveram especial empenho em perseguir a Igreja. Em agosto de 1790 criaram a Constituição Civil do Clero, que separava a igreja francesa do Papa e do Estado e transformou os clérigos em assalariados do Estado e a cujo governo deviam fidelidade. Os que ficaram fiéis à Igreja foram chamados de padres refratários. Perderam suas paróquias, suas dioceses, suas abadias. Foram colocados fora da lei. Com o Terror, muitíssimos foram presos e executados, como veremos em próximo artigo.

Os pseudo amantes da liberdade entendiam que um Estado laico tem que proibir manifestações e símbolos religiosos em espaços públicos. Não importava que a sociedade, em seu conjunto fosse cristã. Os fiéis não deveriam ter o direito de expor suas idéias e, com elas, influenciar a atuação do Estado. Tentar expressá-las e defendê-las era um insulto. A liberdade não podia suportar a "ignorância e a superstição".

O brado de Voltaire contra a Igreja devia ser seguido à risca: “É preciso esmagar a infame!”

Foi o que tentaram fazer. Vejamos alguns exemplos.

Líderes revolucionários como Hébert e Chaumette promoveram uma campanha de descristianização. Surgiu um novo culto: o da Razão, em honra do qual Robespierre fez uma festa pública.

As propriedades da Igreja foram confiscadas. Na catedral de Notre Dame foi feita uma cerimônia sacrílega. Colocaram uma prostituta representando a deusa Razão. Eis os versos declamados pelos fiéis da nova religião:

“Nos altares de Maria
Colocamos a Liberdade.
Da França, o Messias,
É a Santa Igualdade."
(2)

Catedrais e símbolos religiosos foram destruídos em muitos lugares. A imponente abadia de Cluny, uma das glórias da França, foi arrasada. De seus sete campanários somente um restou de pé.

Thiers narra o ódio contra as imagens:

“Novembro de 1793. A imagem da Virgem foi suprimida em toda a parte, e todas as Madonas que se achavam nos nichos, nas esquinas, foram substituídas pelos bustos de Marat e de Lejelletier” (3)

O ódio chegou à abolição do calendário cristão. Fizeram um novo, revolucionário, a partir da data da proclamação da República Francesa.(4). 1792 foi considerado o ano I. Tinha 12 meses de 30 dias. As semanas passariam a ter 10 dias de 10 horas. 9 dias de trabalho, um para descanso, o decadi. Ademais, estabeleceram 5 dias de festas para a Revolução. Racionalismo métrico asfixiante. Perfeitamente adequado para os ancestrais da cultura da morte. E para seus seguidores hoje.


Calendário revolucionário

Os nomes dos meses, é claro, foram mudados. Mês das Chuvas (Pluvieuse), das Brumas (Brumário), etc. E em vez de dias santificados passamos a ter o dia da enxada, da batata (11º dia), o do nabo (26º dia) e o 19º, acreditem, foi dedicado ao asno! Talvez uma homenagem à inteligência jacobina...

Não contentes em destruir os símbolos cristãos os revolucionários resolveram criar os seus. A deusa Razão não foi suficiente. Também não bastavam seus “heróis”. Era preciso “canonizá-los”. Surgiu o culto a Marat. O historiador alemão, João Batista Weiss, escreve:

“Na igreja dos Cordeliers se erigiu uma câmara ardente, para o coração de Marat, conservado em uma das urnas do Tesouro da Coroa. Ali ardiam círios em honra do novo deus, como agora na igreja em honra de Santa Genoveva. Ia-se lá em romaria; rezavam-se ladainhas com o nome de Marat, e adoravam-se suas feridas e seu coração. Beaulien conta que tivera em mãos uma oração impressa que começava com estas palavras:

“Oh! Coração de Jesus, Oh! Coração de Marat! Oh! Santíssimo Coração de Jesus, Oh! Santíssimo Coração de Marat!.(5)

A Morte de Marat (1793), tela de Jacques-Louis David

A que ponto chegou o laicismo! Com razão disse o historiador das religiões, Mircea Eliade: “O absoluto não pode ser extirpado, pode apenas ser degradado”. (6)

E como!



NOTAS

1. Laicismo, cultura e combate a símbolos religiosos. (publicado no blog www.claravalcister.blogspot.com dia 29/08/2009 e no site catolicaNet no dia 02 de setembro)

2. WEISS, J.B. História Universal, Tipografia La Educación, 1932, vol XVIII, p. 114.

3. THIERS, M.A. Histoire de la Révolution Française , livro XVII, p.191).
.
4. WEISS, op. cit.. vol. XVIII, pág 807 .

5. WEISS, op. cit. vol XVII, p. 404.

6. in PIETTRE, André. Marxismo. Zahar Editores, RJ. 1969.p. 236.