domingo, 25 de março de 2012

O FRACASSO DE SUMMERHILL






Alfonso Aguilló


O famoso internato britânico Summerhill, escola que foi carro chefe da educação tolerante e antiautoritária, foi notícia nos últimos anos por suas repetidas ameaças de ser fechada devido ao baixo rendimento de seus escassos sessenta alunos.

Summerhill, fundado em 1921 por Alexander Neill, teve um auge espetacular na década de sessenta e depois foi gradualmente perdendo alunos até ficar semideserto.

Seu método pedagógico era realmente peculiar: não havia exames nem provas, a assistência à aula era voluntária e a vida do centro se regia em grande medida através de decisões dos próprios alunos.

A questão é que os alunos do internato de Summerhill não saiam dele bem preparados. Apenas iam às aulas, e sua formação acadêmica e humana, apresentava, segundo um informe do Ministério de Educação britânico, assombrosas deficiências.


Escola Summerhill - Inglaterra


A tentativa da escola em educar na tolerância e erradicar o autoritarismo merece todos os elogios. Contudo, seus resultados mostraram que nas bases de seu fundamento filosófico havia muita ingenuidade.

O fracasso dessa escola britânica nos faz lembrar – bem contra as previsões de seu fundador – o fracasso do permissivismo, e o fato de que toda pessoa tem de aprender a esforçar-se seriamente se, de verdade, quer conseguir qualquer objetivo válido em sua vida. Sobretudo nessas primeiras etapas da infância e adolescência nas quais é formado o caráter.

Por outra parte, para aprender a esforçar-se seriamente em algo, nada mais prático do que procurar submeter-se – livremente, mas submeter-se – a um plano exigente. E isso é assim porque fazer o que achamos que devemos fazer supõe muitas vezes um esforço considerável. Por isso, uma educação responsável tem que estabelecer um alto nível de exigência pessoal.

E isso não significa nenhum atentado contra a tolerância, mas simplesmente saber o que é educar.

Não teria muito sentido, por exemplo, partir da ideia de que é ótimo dar todas as facilidades para alguém atuar mal se quiser, com a desculpa de que assim a opção pelo bem seria mais plenamente livre e meritória. É tão inadequado uma cerceante e habitual privação da liberdade quanto, ingenuamente, dar facilidades para escolher o mal. (1)


Sala de aula em Summerhill

No caminho de qualquer processo formativo ou educativo é de grande importância facilitar prudentemente as boas escolhas. Não há educação nem formação sem uma certa constrição, e por isso não há porque escandalizar-se de que haja regras e normas, que expressam precisamente o tipo de educação que livremente se escolheu.

Por exemplo, se colocamos uma garrafa de gin ou whisky diante de uma pessoa alcoolizada, provavelmente não conseguirá deixar de tomá-lo. Talvez acredite que é uma pessoa livre, mas parece bem mais ter perdido uma grande parte da liberdade de escolha, pois suas decisões são cada vez menos livres.

Há restrições que ajudam a conservar a liberdade, a saber empregá-la positivamente, a dar-lhe apoio, a não perde-la seguindo caminhos que não têm saída ou que terminam subitamente em um precipício ou se perdem pouco a pouco nas areias de um deserto.

As utopias libertárias são como elixires que, depois de provar-se, mostram-se desencantadores e frustrantes. Não existem essas panaceias nem paraísos terrenos, e os que caíram em tais promessas se sentem enganados. O homem é um ser de capacidades limitadas, que vive em um meio adverso, e cuja liberdade somente se desenvolve quando adquire consciência do dever, autodomínio e ética, (2) não quando se deixa hipnotizar pelas promessas da permissividade.

NOTAS

1. Claro que, quando uma criança ou adolescente, decidem brincar em vez de estudar, quando deveriam fazê-lo, nem sempre percebem que optaram mal. (observação do blog).

2. Os destaques em negrito são do blog.

Fonte: www.interrogantes.net