quinta-feira, 27 de novembro de 2008




A VELA E O GIZ

Valter de Oliveira




Estava lendo a História do Mundo Feudal, de Mário Curtis Giordano. Relia um texto sobre educação que era baseado em uma grande medievalista: Regine Pernoud. A narrativa levou-me a lembrar coisas da infância. Uma a uma foram passando em minha memória as primeiras imagens da Idade Média que tive quando criança. Uma delas foi a capa de um livro sobre Carlos Magno e os doze pares de França. Recordei-me das aulas do ginásio nas quais desfilavam heróis da Cruzada e da Reconquista. Aprendi também que para os autores medievais o mundo seria um quadro ou um espelho do invisível. Daí o amor que tinham pela alegoria, pelo símbolo. Sendo assim, o homem deveria saber ver as coisas, ver o que elas são e o que simbolizam. E ao fazer isto sua alma sentiria um gozo particularmente doce, cresceria no amor pelo absoluto, teria sede do infinito.

Lembrei-me, então, de uns antigos papéis que tenho em algumas pastas. Saí da sala e vim procurá-los em meu micro-escritório. Primeiro encontrei textos sobre heróis medievais: Godofredo de Bouillon, chefe da primeira cruzada, Bayard, o cavaleiro sem medo e sem mácula, Chatillon, que deu sua vida em uma luta memorável para salvar seu rei, S. Luís. Depois encontrei umas folhas amareladas. Eram parte de um estudo sobre a beleza e a arte.

Os textos eram frutos de belas conversas de bons amigos, ainda jovens, e que procuravam crescer no amor à verdade e ao bem. Estavam estudando um autor francês, Edgar de Bruyne, que escreveu um livro sobre a Estética na Idade Média. O livro os ajudou ainda mais a se encantar com tudo o que era belo. Liam, trocavam idéias, escreviam. E ao estudar a alegoria decidiram fazer um exercício: ver o lado simbólico de uma vela e de um giz. A folha amarelada que tenho em mãos está dividida em três partes, em três colunas. Na primeira há dois textos: o de um livro não identificado e o “exercício” deles sobre a vela. Na coluna do centro há uma foto de uma bela vela num castiçal. Na terceira eles fazem um comentário sobre o simbolismo do giz. Pensei: por que não colocar no blog? É o que faço. É bom lembrar dos amigos (1). Fica como uma homenagem a todo o bem que me fizeram. Só não consegui manter a formatação original.


A VELA


“O aço duro da faca feriu a pederneira, fazendo saltar uma chuva de faíscas. O ruído seco parecia ecoar por toda a imensidão da nave da igreja vasta e escura. Ainda uma vez e outra o aço tornou a ferir, até que uma chama vacilante apareceu no topo da enorme vela de cera, afastando um pouquinho a escuridão e refletindo no rosto pálido e assustado do menino, que cuidadosamente a colocou no chão, ao lado do enorme missal.”

“Procurando as páginas, e com alguma hesitação na pronúncia do latim, o menino começou a ler as primeiras palavras da vigília pascal: “Deus, qui per filium tuum...” “Ó Deus, (...) santificai esse fogo novo tirado da pedra.”

“A chama desenhava sombras fantásticas nas colunas próximas. Mas a igreja era tão alta e tão longa que nada se distinguia, nem das paredes do teto. O menino, a vela e o missal pareciam estar dentro de um globo de luz imerso na escuridão”.


“Uma vela que se consome num globo de luz em meio às trevas. Ela é tão pouca coisa: Um pouco de matéria gordurosa, tendo um pavio por “alma” e nada mais. Mas quando o fogo se apodera dessa alma, que transformação! Esse fogo vai lentamente consumindo o pavio, e a vela gera luz e calor.”

“Assim é o homem, tão miserável e tão pouco em si mesmo: um pouco de carne com uma alma que é apenas um sopro. Mas um sopro de Deus, e capaz de receber o fogo da fé e do amor. E se o homem se deixa dominar pelo amor de Deus, ele se consome lentamente num silencioso holocausto espalhando por toda a parte o calor da virtude e a luz da verdade.”


E assim terminamos. E o simbolismo do giz? Cabe a você imaginar. Pare um pouco, esqueça a correria do mundo moderno, reflita, escreva. (2) Se desejar, mande seu texto para o blog.



1. “Amigo fiel é proteção poderosa, e quem o encontrar, terá encontrado um tesouro”. (Eclesiástico, 6,14).

2. Se Deus criou as coisas à sua imagem, é natural que, contemplando as formas, encontremos os vestígios da Sabedoria Divina.

domingo, 23 de novembro de 2008





POLÍTICA E ELEIÇÕES:
A MANIPULAÇÃO DA ÉTICA


Valter de Oliveira


O motivo que me faz escrever esta breve análise sobre alguns aspectos da política partidária brasileira é a necessidade de mostrar como o tema ética na política tem sido abordado de modo completamente equivocado pela nossa mídia. Equívoco ainda mais preocupante quando vemos pessoas de alto nível moral e intelectual serem enredados nas teias de uma falsa ética. Explico-me.

No final do século passado amplos setores da sociedade brasileira estavam cansados de corrupção política. Para muitos, a vitória do PSDB após o sucesso do plano Real, representava a esperança de uma nova forma de fazer política. Houve melhoras em alguns pontos, sem dúvida, mas longe do que era desejável. Para piorar, FHC não usou seu segundo mandato para fazer as reformas há tanto tempo prometidas. Vários erros de seu governo, e a crise internacional, contribuíram para que o eleitorado passasse a ver esperança em outra seara.

Esperta, a esquerda brasileira havia levantado com força a questão da ética na política. Se o governo, por exemplo, socorria o sistema financeiro, o PT e seus aliados bradavam: “É legal, mas não é moral”. Diziam que era Robin Hood às avessas. Tirava-se do povo para ajudar os ricos. O canto da sereia foi parecendo cada vez mais simpático.

Em 2002 o PT foi ficando mais afável e atraiu antigos adversários. Cresceu o discurso da ética na política. Os marqueteiros foram chamados – e regiamente pagos – para dar os retoques necessários. Ajeitaram a barba de Lula, enfiaram-no em ternos com cortes mais distintos, descoloriram um pouco a bandeira vermelha, acenaram com mil esperanças para os pobres. Os empresários foram sendo cooptados. A classe média, cansada dos desmandos da “direita” (?), sucumbiu. Estava na hora de entregar o País para quem iria gerir com honestidade a “coisa pública”. Assim, muitíssimos brasileiros, (1), que nada têm de socialistas, resolveram dar uma chancezinha ao PT! E Lula venceu as eleições de 2002.
E depois?

Depois, as camadas mais pobres se sentiram amparadas. Tudo parecia melhorar. Lula parecia o rei Midas: tudo o que tocava virava ouro. E a mídia propagava suas proezas. Até que começaram os escândalos. Um, dois, cem, uma infinidade. Cada vez mais o PT se afundava neles. E o presidente nada sabia... Um professor de Harvard indignou-se contra o mar de lama. Afirmou que era o governo mais corrupto do governo republicano. Exigiu impeachment! Hoje é ministro do governo Lula...Sem constrangimentos...(2)

Após longo e tenebroso inverno a classe média começou a acordar. E, graças a Deus, o povo também. Mas continua de pé a pergunta: Por que até mesmo a classe média, que teóricamente tem mais meios e informações para não cair nas garras da mídia gramsciana, foi tão habilmente enganada?

Na verdade tudo acontece porque, como dissemos no início, deixamo-nos enganar por um conceito errado do que é ética.

Ética é só honestidade financeira?

A grande mentira que nos estão impingindo é que político ético é o que não rouba. Alguns “roubavam, mas faziam”. Com o governo Lula teria chegado o tempo de fazer sem roubar. Como se isso bastasse para termos um governo ético. Aliás, até mesmo a honestidade não pecuniária ficou em segundo plano. Não tem importância a aliança política com todos aqueles que, anos antes, eram tidos como corruptos, imorais, inimigos do povo, lacaios do FMI, etc, etc. Menos ainda o que se prometeu durante anos: não ao pagamento da dívida externa, auditoria dos empréstimos internacionais, possibilidade de salário mínimo acima de R$ 600,00 (ou até mais) desde que houvesse vontade política, etc. Tudo isso foi colocado de lado. A nova oligarquia sindical aliava-se à oligarquia dos coronéis. O fisiologismo cresceu como nunca. Coerência não faz parte dessa estranha ética.

Pior foi constatar, ao conversar com alunos e amigos, que muitos não tinham percebido os males dessa ética reducionista. Tanto em aula quanto em conversas lembrei alguns pontos:

1. Se prestarmos atenção veremos que nenhum de nós, no dia a dia, temos um conceito tão simplista da conduta moral de uma pessoa. Ninguém diz: “Meu vizinho é um homem admirável: é bom empresário, trata com dignidade seus funcionários, paga seus impostos, respeita o consumidor. É verdade que espanca violentamente o filho de dois anos e trai a esposa... mas é profundamente ético!”.

2. Robespierre tinha a reputação de incorruptível, o que não o impediu de dirigir a fase mais sanguinária da Revolução Francesa: o Terror. Nossos livros didáticos mostram-se encantados com os aspectos positivos do governo jacobino: abolição da escravidão nas colônias, fim de privilégios feudais, tabelamento de preços, laicização do Estado. Que belos democratas! Que importa que milhares foram condenados à guilhotina, que no altar de Notre Dame se colocou uma prostituta nua simbolizando a liberdade, que em Paris só se podia produzir o pão da igualdade, que....

3. Ainda nesta linha de raciocínio gostaria de relembrar um anúncio feito pela FSP, se não me engano no final dos anos 90, no qual o jornal queria mostrar seu compromisso de informar inteira e honestamente seu leitor. Começava sem imagem, só se ouvia a voz de um locutor:

- “Ele acabou com a inflação no seu país”!
- “Ele acabou com o desemprego”!
- “A economia voltou a crescer!”
- “O povo voltou a sentir orgulho de sua pátria!”
- “Ele... (e aí aparecia uma foto de Hitler)

E a conclusão do anúncio:

-“Você pode mentir dizendo só a verdade!”

Encerrei esta parte comentando com meus alunos que se eu vivesse na Alemanha no início dos anos 30 teria muita dificuldade em alertar a muitos do perigo nazista. Este era um partido trabalhista, que se dizia preocupado com o bem-estar do trabalhador e com as injustiças sociais. Prometia também o fim do caos capitalista, emprego para todos, não ao Tratado de Versalhes e tantos outros males. E claro, um reino glorioso de mil anos! . Como lembrar a meus compatriotas que deveriam ler o que Hitler escrevera no “Mein Kampf”? Ali estava prenunciado todos os horrores do nazismo. Não deveríamos levar as palavras do führer a sério?

Na época muitos foram ingênuos. Desde o homem comum na Alemanha até Chamberlain na Conferência de Munique. O primeiro teve muito menos responsabilidade. É o homem que cuida de sua família, preocupado com seu trabalho, normalmente distante de debates e estudos políticos e filosóficos. O segundo, movido por um falso idealismo, querendo a paz a todo custo, não soube ver com quem negociava. Voltou de Munique acreditando que obtivera a paz para o mundo. Em Londres, ao saber do teor do Tratado, Churchill então deputado no Parlamento, exclamou: “Tínheis que escolher entre a vergonha e a guerra, escolhestes a vergonha e tereis a guerra”.


Qual ética?

Quando o político fala em ética ele, em geral, procura passar a imagem que sabe que o público quer ouvir. A ética do povo em geral é a do senso comum, conforme a cultura do país. Em nosso caso a população considera ético o que é ainda, em vários pontos, conforme valores e condutas baseados em princípios do cristianismo e do direito natural. Já o político utiliza a ética de Maquiavel temperada com outras filosofias:, positivismo, pragmatismo, marxismo, até mesmo liberalismo e, pasmem, a escolástica de S. Tomás.(3) Portanto, em geral, ao falar em ética, ele não está dizendo absolutamente nada. Se quisermos saber o que realmente ele pensa temos que apelar para outras informações além daquelas transmitidas pela mídia. O programa do Partido pode ajudar. Pelo menos nos casos dos partidos mais ideológicos como é o caso do PT e de outros de esquerda mais radical. Só conhecendo mais profundamente as idéias e o comportamento dos políticos e dos partidos é que poderemos dizer se eles são ou não éticos. E nós também deveríamos saber que ética estamos usando ao julgá-los.

Bem, já me alonguei demais. Falta explicar o que Marx, Lênin e companhia Ltda consideram ser ético ou moral. Eles não escondem. Está nos escritos deles. E mais ainda na prática. É tema para outro artigo. Para o qual conto com sua imensa paciência.


(1) Após as eleições fiquei surpreso ao saber que vários amigos, inclusive bons católicos, haviam votado no PT. Razão: acreditavam que o PT era um partido mais ético!

(2) O professor é Mangabeira Unger que chegou a dar aulas para Obama. Hoje é ministro Extraordinário de Ações Estratégicas..Para não cansa-los coloco suas palavras no blog outro dia.

(3) É o caso do MST e dos ideólogos das CEBs que deturpam o conceito de S. Tomás sobre a propriedade.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008




ESQUERDA + FLUMINENSE:

DELENDUS EST CORINTHIANS! *

Valter de Oliveira



Você acredita na teoria da conspiração? Provavelmente não. Eu também tenho minhas dúvidas. Um velho conhecido, o Praxedes, tentou provar-me que a teoria não só é a mais pura realidade mas ainda envolve atores que nunca imaginaríamos que estivessem aliados para praticar o mal. Estranho? Põe estranho nisso. Querem saber? Vou contar. Foi assim:

Estava tomando um cafezinho na padaria do Benjamim quando ele se aproximou e, sem muita cerimônia, sentou-se ao meu lado. Cá entre nós, não fiquei lá muito feliz. Sempre achei Praxedes um homem estranho. Mas naquele dia ele se superou. Contou-me coisas confusas, misteriosas, para finalmente afirmar:

- Pois é meu caro. Conseguimos. O Flu está mancomunado com a esquerda brasileira!

Quase engasguei. Com dificuldade ainda consegui dizer:

- O que você está falando? Ficou louco?

Praxedes parou um instante. Senti um frio na espinha. Seu olhar deixou-me petrificado. Então, dando uma mordida no croissant, digno de melhor sorte, ele pausadamente respondeu:

- Louco? Não, nem um pouco. Vou te contar quando o Flu passou para o nosso lado. Faz 40 anos.

Continuei mudo. Ele continuou:

- Tudo começou em 1968, na passeata dos Cem mil, lá no Rio.


- 68! Exclamei! Na passeata do povo contra a dita...

- Nela mesmo. Mas, já que percebo que você não crê muito no que estou te contando, vou te provar tudo lendo um texto de alguém bem imparcial. Um texto do torcedor mais fanático que o Flu já teve.

- O Nelson Rodrigues!

- O próprio. Ele estava lá. Ele viu tudo. E tirando uma folha do bolso começou a ler as palavras inspiradas do grande teatrólogo:



“(...) sábado último, lá fui eu remexer velhos jornais e revistas. Por coincidência, apanhei o número de Manchete referente à passeata dos Cem Mil.(...) e comecei a repassar as fotografias (...) O bom de Manchete é a impressão perfeita, irretocável. Tudo é espantosamente nítido”.
...
“E eu passei uma hora examinando o material fotográfico. Não sei se vocês se lembram. Mas escrevi na época, várias “Confissões” a respeito. Parecia-me, e ainda parece, que era um acontecimento inédito, nada intranscendente. Até aquela data, só o futebol conseguiu juntar 50 mil brasileiros.”

-“Cada qual levava no seu bolso a sua ideologia, que era a mesma em todos os bolsos. Na época escrevi que não se encontrava, entre os Cem Mil, ou cinqüenta, ou ate 25, nenhum preto. Eu estive lá espiando. Fui testemunha auditiva e ocular da marcha. Como sou uma “flor de obsessão”, não me saía da cabeça a ausência de negro. Se eu descobrisse um – não dois ou três – mas um, somente um, - já me daria por satisfeito.”

- “O fato é que, no dia seguinte, falando com o meu amigo Guilherme da Silveira Filho, fazia um escândalo amargo: “Nem um preto, Silveirinha! Nem um desdentado! , nem um torcedor do Flamengo!... “E o povo, onde está o povo?”. O povo era a ausência total. Não havia uma cara de povo, um paletó do povo, uma calça do povo, um sapato de povo.”.

“E súbito, baixou-me uma luz e vi tudo. Não havia um torcedor rubro-negro, ou um desdentado, porque aquilo era uma passeata das classes dominantes. A coisa era tão antipopular que não apareceu nem um batedor de carteira. Onde há povo, são obrigatórias uma série de figuras: - o vendedor de laranjas, de mate, de chicabon, de mariola.” (1)



Praxedes deu uma parada (ainda bem!) e aproveitei para perguntar:

- Ok. O Nelson diz que não tem pobre, não tem flamenguista, não tem mãe plebéia (2), que foi a passeata das classes dominantes... e?

-Deus do Céu!, exclamou ele. –Você não percebe? Quem são os jovens da classe dominante? Os torcedores do Flu, é claro. E o que gritavam eles? Brasil! Brasil!? Não. Como todos os jovens de esquerda da época, na Sorbonne, em Berkeley, na PUC, bradavam: Vietnã, Vietnã, enquanto olhavam embevecidos fotos de Che Guevara e de Ho Chi Min. Foi ali, meu caro, naquele dia, naquele solo carioca, que nasceu a união do fluminense com a esquerda.

O Praxedes parou um instante. Depois, com uma expressão de angústia e desalento, desabafou:

- É, conseguimos o apoio da classe dominante, do Flu, dos intelectuais, da mídia, dos padres de passeata mas o povo... o povo, o torcedor do Flamengo, do Corinthians, do Bahia, etc, etc... que decepção! Garotada do Flu cantando o Vandré e o povão no samba e no frevo!

Fez uma pausa. Depois continuou:

- E não mudou muito. 40 anos de esforço pra arrastar essa gente. E o resultado? O povão continua alienado. Alienado e ingrato. Olha só a eleição em São Paulo: Corinthianada ganha bolsa família, CEU pros miudinho, camiseta bom-bril do PT, visita de um presidente da hora como o Lula, beijinhos carinhosos da Marta. E o que fizeram? Votaram no Kassab!

Quase que fiquei comovido. A razão pôs meus sentimentos em ordem. E, apesar de cansado da lógica estranha do Praxedes, resolvi tirar uma dúvida.

- Mas por que o ódio contra o Corinthians? Porque destruí-lo?

Praxedes foi incisivo: -Porque a fiel não só não seguiu a esquerda mas ainda mandou 70 mil corinthianos invadirem o Maracanã em 74 humilhando os boys e os cartolas do Flu. Foi demais. Imperdoável. Resolvemos nos vingar.

- É mesmo, disse eu. Quero saber como.

- Muito simples. Apelamos para D. Helder. Ele entrou em contato com os clérigos progressistas europeus e resolveram o problema. Acabaram com o padroeiro do timão.

-Essa não! disse eu, de onde tirou essa?

-Não lê jornal não, meu amigo? A ditadura “cassava” a companheirada. Os teólogos “cassaram” S. Jorge! E com toda a razão. O homem é militar e também protetor do imperialismo inglês. Pior: não encontraram dele nem RG nem CPF. Como ia ser controlado pelo Estado?

Depois desta levantei-me. Não sem antes, dar um sorriso e dizer:

- Praxedes, diga para os seus amigos, que não damos a mínima. Só prova que eles não têm a mínima visão sobrenatural...


PS: A um grande amigo:
Bira: Não liga não. Quando estava saindo do Benjamim senti o cheiro de enxofre. Sabe, no fundo, o que o Praxedes queria era criar antagonismo, luta de classes. Coisa de marxista. Queria que odiássemos a aristocracia fluminense. Esqueceram que somos descendentes de ingleses, que temos a sabedoria grega, a vivacidade italiana, o coração brasileiro. E amamos todo mundo. Nós sabemos o que é a verdadeira pluralidade.
Ah! E quando o timão bate em vocês é com carinho. Só quando vocês merecem..



* “É preciso destruir o Corinthians”


1. Nelson Rodrigues. O Reacionário. Memórias e Confissões. São Paulo, Companhia das Letras, 1995 – artigo: Um pesadelo com cem mil defuntos. Págs 27-30.





Leia mais sobre Nelson Rodrigues em

www.releituras.com/nelsonr_bio.asp_80k



2. Não tinha torcedor do Vasco porque o Eurico não deixou. Do Botafogo não adiantaria muito. Seria só uma estrela solitária...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


PRESIDENTE DO URUGUAI: UM EXEMPLO PARA O MUNDO

Valter de Oliveira




Contrariando uma onda universal de violação dos direitos humanos, o presidente do Uruguai, Sr. Tabaré Vasques, vetou a legalização do aborto em seu país.

Sua atitude merece os mais entusiasmados aplausos por várias razões:

1. Porque fulminou uma manobra ilegal e imoral de setores do Congresso Uruguaio que usaram da fraude para aprovar um projeto de lei que já tinha sido rejeitado.

2. Porque demonstra uma grande firmeza de caráter ao não se dobrar diante de um fortíssimo movimento mundial que utiliza de forte poder econômico, político e da mídia para propagar a cultura da morte.

3. Porque defendeu a inviolável dignidade do ser humano desde a sua concepção, reconhecendo os ensinamentos da biologia moderna, os dados da História recente e, principalmente, ao citar tratados internacionais, por negar que a lei positiva feita pelos homens possa estar acima do direito natural.

Segue abaixo texto que recebi do Dr. Cícero Harada, incansável batalhador do movimento pró-vida, com a declaração de veto do presidente Tabaré Vasques.


O presidente Tabaré Vazquez assinou quinta feira 13 de novembro o veto aos artigos da Lei de Defesa da Saúde Sexual e Reprodutiva que despenalizam o aborto. A Assembléia Geral do Parlamento não possui os votos suficientes para derrubar o veto. Os artigos que despenalizam e regulam a interrupção da gravidez estão contidos nos capítulos II, III e IV, vetados pelo presidente. O capítulo I não foi vetado.

O texto oficial do veto somente foi publicado na tarde da sexta feira 14 de novembro de 2008 no site da Presidência da República.

O documento é um exemplo para o Uruguai e para o mundo.
Afirma no documento o presidente Tabaré Vazquez:

"HÁ CONSENSO DE QUE O ABORTO É UM MAL SOCIAL QUE DEVE SER EVITADO. TODAVIA, NOS PAÍSES EM QUE O ABORTO FOI LEGALIZADO, SUA PRÁTICA AUMENTOU. NOS ESTADOS UNIDOS, NOS DEZ PRIMEIROS ANOS, O NÚMERO DE ABORTO TRIPLICOU, E O NÚMERO SE MANTÊM: O COSTUME INSTALOU-SE. O MESMO ACONTECEU NA ESPANHA.

A LEGISLAÇÃO NÃO PODE DESCONHECER A REALIDADE DA EXISTÊNCIA DA VIDA HUMANA EM SUA ETAPA GESTACIONAL, TAL COMO DE MANEIRA EVIDENTE É REVELADO PELA CIÊNCIA. A BIOLOGIA EVOLUIU MUITO.

O VERDADEIRO GRAU DE CIVILIZAÇÃO DE UMA NAÇÃO MEDE-SE PELO MODO COMO SÃO PROTEGIDOS OS MAIS NECESSITADOS. POR ISSO DEVE-SE PROTEGER AOS MAIS DÉBEIS.

PORQUE O CRITÉRIO JÁ NÃO É MAIS O VALOR DO SUJEITO EM FUNÇÃO DOS AFETOS QUE SUSCITA SOBRE OS DEMAIS, OU DA UTILIDADE QUE OFERECE, MAS O VALOR QUE RESULTA DE SUA SIMPLES EXISTÊNCIA.

ESTA LEI AFETA A ORDEM CONSTITUCIONAL E OS COMPROMISSOS ASSUMIDOS POR NOSSO PAÍS EM TRATADOS INTERNACIONAIS, ENTRE OUTROS O PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA E A CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA, O PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA OBRIGA NOSSO PAÍS A PROTEGER A VIDA DO SER HUMANO DESDE SUA CONCEPÇÃO E, ADEMAIS, OUTORGA-LHE O ESTATUTO DE PESSOA.
O PROJETO ADEMAIS QUALIFICA ERRONEAMENTE E DE MANEIRA FORÇADA, CONTRA O SENSO COMUM, O ABORTO COMO ATO MÉDICO (3), DESCONHECENDO DECLARAÇÕES INTERNACIONAIS, COMO AS DE HELSINQUE E TÓQUIO, QUE SÃO REFLEXOS DE PRINCÍPIOS DA MEDICINA HIPOCRÁTICA QUE CARACTERIZAM O MÉDICO POR ATUAR EM FAVOR DA VIDA E DA INTEGRIDADE FÍSICA".

O veto do presidente, como o dissemos, merece o aplauso de todos nós. Deus não deixará de abençoar gesto tão digno.


1. O Dr. Cícero Harada é advogado, Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção de São Paulo, Presidente da Comissão de Defesa da República e da Democracia da OAB-SP, foi Procurador do Estado de São Paulo.
2. Para ler o texto completo acesse:
sdv@pesquisasedocumentos.com.br
3. A lei queria obrigar todos os médicos a praticar o aborto quando solicitados.

terça-feira, 18 de novembro de 2008
















O Centenário da Imigração Japonesa :

Da Terra do Sol Nascente à “Terra Brasilis”


Cícero Harada


18 de junho de 1908. Nesse dia, chegaram a Santos, trazendo consigo cultura milenar, os pioneiros da imigração nipônica. Eram 800: 781 contratados, 10 espontâneos e outros. No vapor Kasato Maru haviam partido de Kobe, em 28 de abril de 1908. Para eles, um horizonte de esperança se abria. Historiar os fatos em suas minúcias? Não, não é isto que pretendo. Os historiadores o farão melhor.




Criança ainda ia visitar meus avós. Lá, a felicidade imensa de suas presenças. Depois, o sítio, o espaço, o encontro de primos e tios, o ar puro, o céu azul, o sol, um resto de mata atlântica, límpidos riachos, noites escuras, milhões de cintilantes pontinhos, a Via Láctea. Amiúde deitava-me a olhar fixamente aquele céu e, de inopino, mergulhava como que numa velocidade incrível na direção infinda das estrelas. Deus existe, é Ele o Criador, dizia silenciosamente a mim mesmo.

Já entrado em anos, Keida Harada, meu avô, como fazia religiosamente todos os dias desde que chegara ao Brasil, em 1913, escrevia preciosas notas sobre a vida e os acontecimentos. Resgatá-lo é da maior importância para reconstruir a história privada daqueles que para cá vieram. Meu avô e minha avó tinham muito contato com uma parcela grande de famílias japonesas, pois ele fundara e por muito tempo dirigira a Cooperativa Agrícola de Suzano. Compartilhara, assim, com elas, a cortante nostalgia da Terra das Cerejeiras, as doenças, as agruras econômicas, o sofrimento dos tempos da guerra.

Mas não foram só tristezas e angústias. A família tornara-se numerosa. Havia os encontros festivos. As canções, as estórias, a culinária. Depois, a tenacidade, o esforço e a paciência fizeram com que um filho seu, meu pai, pudesse estudar no antigo Ginásio do Estado, então, único no Estado de São Paulo e, mais tarde, bacharelar-se em direito na Faculdade do Largo de São Francisco, onde também me formei.

Quando eu esmorecia, ele, voz firme e entusiasmada, exclamava: “gambarê! Gambarê!” (em português: ânimo, seja forte, lute apesar de todas as dificuldades). E lá, das profundezas de meu desânimo, da dor e do pessimismo, da raiz de meu ser, clamava a Deus a força da superação.

Exigia-nos retidão, estoicismo de samurai, sabedoria, disciplina e muito trabalho. Ensinava-nos que este era o espírito nipônico, do Japão japonês. Nada a ver com o da forte influência do american way of life do pós-guerra. Era assim que iríamos contribuir para o nosso crescimento e para compor e colorir esta linda aquarela do Brasil. “Do meu Brasil brasileiro”, “desse Brasil lindo e trigueiro”, da “morena sestrosa”, das “fontes murmurantes”, da intuição, da criatividade.




Meu avô que nunca perdera o filial e ardente amor à Terra do Sol Nascente, pôde ostentar com orgulho o título de cidadão brasileiro outorgado por decreto presidencial. Com sua mulher, filhos e netos, na saga de milhares e milhares de imigrantes japoneses e descendentes, seus corações puderam sentir o abraço das chamas de um profundo e irremediável amor: amor à terra de Santa Cruz, que com sangue, suor e lágrimas ajudaram a construir. Amor a esta sagrada “Terra Brasilis”! “Terra de Nosso Senhor! Brasil!”



Cícero Harada

Advogado
Procurador do Estado de São Paulo
Conselheiro da OAB-SP
Presidente da Comissão de Defesa da República e da Democracia

Autorizada Ampla Divulgação,
desde que indicada a autoria e obedecido o texto integral
cicero.harada@terra.com.br

domingo, 16 de novembro de 2008



A “POBRE” VIÚVA E MEU SOGRO


Valter de Oliveira



Meu sogro é um exemplo de homem reto. Teve uma vida íntegra, dedicada à família e ao trabalho constante e bem feito. Soube enfrentar as adversidades com o apoio fiel da esposa e a esperança de ver os filhos bem formados. E teve um grande sucesso.

É filho de imigrantes italianos que, como muitos para cá vieram, também passaram por dificuldades. Devido a isto, quando terminou o curso primário, o pai lhe disse que não poderia continuar os estudos. Era preciso trabalhar. Foi, talvez, o primeiro grande sofrimento. Ele amava os estudos e sabia que tinha potencial para crescer muito.

Obediente – e já bem maduro para a idade – conseguiu, em uma fábrica de lâmpadas no Tatuapé, uma vaga de aprendiz. Aos 14 começou sua carreira na empresa. Ficou nela 35 anos. Faltou um dia por ordem médica devido a um estilhaço de vidro no olho durante o serviço...

Um belo dia a empresa deixou o Tatuapé e instalou-se em Riacho Grande da Serra. Ele morava em Guarulhos, na Ponte Grande. Então ficou um “pouco” mais difícil trabalhar. Passou a acordar às 04h30m. Pegava um ônibus até a estação ferroviária, um primeiro trem até o Brás, baldeação para Riacho Grande, outra condução até à fábrica. À noite, já cansado, refazia o percurso em sentido inverso. Chegava em casa às 20h30m... Diversões? Ás vezes, nos fins de semana. Um grande passeio era levar os filhos ao zoológico. D. Norma preparava os quitutes e lá iam eles. De ônibus, é claro...

Depois de aposentado como chefe de seção pediram-lhe que ficasse na firma por mais algum tempo. Passou a trabalhar duas ou três vêzes por semana. Afinal, chegou o dia de realmente parar. Foi homenageado: recebeu um troféu como o melhor funcionário que a empresa tivera. Foi uma bela cerimônia. Já o salário...

Com um exemplo de vida destes poderíamos imaginar uma velhice tranqüila, ao lado da esposa querida, com uma aposentadoria digna, como seria de se esperar de qualquer país que sabe respeitar seus trabalhadores.

Entretanto, mais um sacrifício lhe foi pedido. Um derrame tirou a vida de D. Norma. Logo após uma simples conversa dentro de casa. “Foi embora como um passarinho”, disse ele.

Restaram-lhe os filhos, eternamente reconhecidos e edificados, uma nora e dois genros que o admiram. É uma árvore que ensina a todos nós a lutar sempre, de cabeça erguida, quaisquer que sejam os obstáculos. A viver na terra olhando para o infinito.

Hoje mora com Renato, um bom filho que lhe quer muito, com uma nora carinhosa e dois netos. Devido a isso não precisa da aposentadoria fruto da epopéia de seu trabalho diário. Todos os meses o Estado brasileiro, fiel respeitador de seus direitos, deposita em sua conta ... Preciso citar? O INSS tem déficit, temos um lindo “fator” previdenciário que achata os vencimentos dos aposentados, etc. E os governantes são zelosos guardadores do bem público.

Agora vejamos um outro lado.

Notícias de ontem informaram que a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça decidiu anistiar João Goulart (1) e sua esposa e indenizá-los pelos prejuízos sofridos com sua queda do governo provocada pelos militares. D. Teresa, sua viúva, receberá seiscentos e quarenta mil reais, em parcelas, pelos próximos dez anos, cem mil de imediato como indenização por período que viveu no exílio. O ministro Tarso Genro e o Presidente Lula (2) ficaram muito felizes.

Como se vê, os governos que “amam” o povo têm um grande senso de justiça...



1. O ministro da Justiça, Tarso Genro, declarou que a decisão da Comissão de Anistia foi um ato de justiça tardia e que o ex-presidente Goulart foi deposto por suas qualidades e não por seus defeitos.

2. Em nota enviada à Comissão o Presidente afirmou que Jango era um verdadeiro herói.

Nem foi ato de justiça e nem João Goulart foi herói. É tema para outro artigo. Talvez o escreva. É muito duro para um professor de História ver o passado reescrito em um viés totalmente ideológico. No pior sentido.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008


“Pérolas” ideológicas em livros didáticos

Valter de Oliveira


Hoje tive o prazer de ler mais um artigo do prof. Ubiratan Jorge Iório de Sousa, doutor em economia e professor da UERJ, com quem tive ótimas aulas no meu curso de mestrado em Estudos Brasileiros. Na ocasião, ganhei duas coisas: sólidas e claras explicações sobre doutrina econômica e uma leal amizade que já dura quase 20 anos.

No seu último artigo ele analisa uma das questões propostas na última prova do ENADE que ele diz não passar de uma abusiva manipulação ideológica (1). De momento destaco aqui sua última frase: “Já não chega a lavagem cerebral marxista e o relativismo moral que a maioria dos professores de História executam, desde a mais tenra infância, em nossas crianças?”

Lembrei-me, então, de duas coisas: a leitura de um livro de história quando era menino e um comentário que meu caro Ubiratan fez na primeira vez que tive o prazer de recebê-lo em minha casa.

O livro era “História do mundo para crianças”. Autor: Monteiro Lobato. Eu tinha 10 anos. Nem me passou pela cabeça que ele fosse um homem de esquerda. E nem sabia o que era isso.

Aos 17 um professor de História não marxista comentou em minha sala de aula que o livro de Lobato deveria se chamar “Comunismo para crianças”. Entendi então que Narizinho, o marquês de Sabugosa, Emília e, quem diria, a vovó Benta não eram nada inocentes...

Mais de 20 anos depois, em uma conversa em minha casa, nosso bom economista comentou: “Puxa, você é o primeiro professor de História que conheço que não é marxista!”

Na realidade, todo mundo que já passou pelos bancos escolares sabe muito bem que o problema não é apenas dos professores de História. É também de muitos professores de ciências humanas. Apesar da queda do muro de Berlim...

Para confirmar – e não me estender demais – cito aqui uma dessas “pérolas” que encontramos em nossos livros de História, do curso fundamental, da antiga 8ª série. Os autores falam sobre o comunismo chinês e a revolução cultural. Eles já chegam a fazer críticas (?) (suprema ousadia!) à revolução maoísta, mas não resistem a uma recaída... Vejam só:

(...)
“Sob a liderança de Mao Tse-Tung (...) durante a Revolução Cultural, a China viveu um período em que o mais importante de tudo era a crença do cidadão nas idéias de Mao” (...),

“Esse período teve altos e baixos, fatos positivos e negativos, mas o que predominou foi um enorme fanatismo. Por exemplo, os estudantes em geral, principalmente os universitários, e os professores foram obrigados a trabalhar no mínimo dois anos na agricultura, para depois voltarem às aulas.” (Pena que o Stédile e o Rainha não estavam por lá...)

“Os músicos que tocavam clássicos ocidentais – Bach, Beethoven, Mozart – eram ridicularizados publicamente, obrigados a só tocarem música chinesa revolucionária, caso contrário, seriam presos e espancados”.

(...)
“Mas nem tudo foi fanatismo na Revolução Cultural. Ela trouxe também experiências inovadoras e originais. A polícia, por exemplo, foi extinta. No lugar dela, os próprios moradores se revezavam (uma vez por mês por pessoas adultas), no exercício da função policial, sem ganhar nada para isso”. (2)

Pois é, meus amigos, não é comovente? Olha só que boa idéia para o governador Serra...Proteção para todos. Sem greve policial. Sem causar rombos nas finanças do Estado...

E os milhões de mortos provocados por Mao? Nem uma palavra. O aluno que lê este livro de História – e tantos outros cujos autores rezam pela mesma cartilha – jamais desconfiarão que o governo de Mao foi uma das mais sanguinárias ditaduras da História...



(1). O aluno que não colocou a resposta desejada pelos idealizadores da questão perdeu um ponto da nota! O ENADE considera que a mulher só será cidadã se tiver o direito de praticar o aborto! Ilegalidade e abuso de autoridade. Ver http://www.ubirataniorio.org/blog.htm

(2) Extraído de História & Vida, Nelson Piletti e Claudino Piletti, vol, 4, pág. 59, Suplemento de textos, SP, Ática, 1997.
Os autores adaptaram texto de J. William Vesentini e Vânia Vlach, do livro Geografia Crítica, 6ª ed. São Paulo, Ática, 1996, v.4, p.176)


quarta-feira, 12 de novembro de 2008



COMO ESTUDAR

James Deese e Ellin K. Deese



COMO SUBLINHAR E RESUMIR LIVROS DIDÁTICOS


Em sua maioria, os alunos, ao ler livros didáticos sublinham ou fazem anotações, ou então aos duas coisas ao mesmo tempo. São excelentes meios de se preparar para uma revisão, e as anotações, sobretudo se forem feitas corretamente, servirão para orientar a repetição. Saber sublinhar e resumir é muito importante para estudar em livros didáticos, por isso incluímos uma seção especial sobre esses assuntos.

SUBLINHAR

Uma prática habitual de maus alunos é sentar-se com um capítulo à frente, ler tudo indiferentemente e então, quando pensam que encontram uma coisa importante, sublinhar ou marcar com uma caneta hidrocor.

Fazem isso sem examinar previamente o capítulo ou fazer perguntas. O resultado é uma seleção aleatória de textos, que representa um julgamento ocasional e não um critério baseado na organização geral do assunto. Infelizmente, esses alunos não conseguem, depois, desmanchar o que fizeram. Pensam que sublinharam os pontos relevantes, mas deixaram passar muitas coisas importantes e escolheram outras que não o eram. Na revisão não se lembram de verificar se sublinharam o que deviam e, quando o fazem, descobrem que é impossível apagar os traços que fizeram e fazer outros, especialmente se sublinharam a tinta ou usando uma caneta hidrocor.

A propósito, se você for comprar um livro didático em segunda mão, escolha um que não tenha sido sublinhado. Se não conseguir, compre um novo, porque a desvantagem de ter um livro sublinhado por outra pessoa é muito grande para valer a quantia que você economiza comprando um livro usado.

Sublinhar pode ter seu lugar. Algumas pessoas acham útil, outras, não. Um de nós sempre sublinha, o outro não. Mas se você quiser fazê-lo com proveito, deve fazê-lo adequadamente, no momento certo e de acordo com um plano. O plano é o seguinte: Primeiro você deve examinar um capítulo. Depois fazer a si mesmo perguntas sobre ele e tentar respondê-las enquanto lê. Nessa primeira leitura é melhor não sublinhar, porque você realmente não sabe o que é importante até apreender o sentido global. À medida que suas perguntas forem sendo respondidas ou que você for identificando as idéias principais e detalhes importantes, faça um sinal na margem. Da próxima vez que ler, procure as idéias principais, os detalhes importantes e termos técnicos. É isto que você deve sublinhar.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

http://www.youtube.com/watch?v=vlLh8K6FF8A

O MENESTREL
Você aprende...

Depois de algum tempo você aprende a diferença,
a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.

E você aprende que amar não significa apoiar-se,
e que companhia nem sempre significa segurança.

E começa a aprender que beijos não são contratos
e presentes não são promessas.

E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida
e olhos adiante, com a graça de um adulto
e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje,
porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos,
e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol queima
se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que não importa o quanto você se importe,
algumas pessoas simplesmente não se importam...

E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa,
ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que se leva anos para se construir confiança
e apenas segundos para destruí-la,
e que você pode fazer coisas em um instante,
das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer
mesmo a longas distâncias.

E o que importa não é o que você tem na vida,
mas quem você tem na vida.

E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos que mudar de amigos
se compreendemos que os amigos mudam,
percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa,
ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida
são tomadas de você muito depressa,
por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos
com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós,
mas nós somos responsáveis por nós mesmos.

Começa a aprender que não se deve comparar com os outros,
mas com o melhor que pode ser.

Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser,
e que o tempo é curto.

Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo,
mas se você não sabe aonde está indo,
qualquer lugar serve.

Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão,
e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade,
pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação,
sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer,
enfrentando as conseqüências.

Aprende que paciência requer muita prática.

Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute
quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência
que se teve e o que você aprendeu com elas
do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.

Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens,
poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia
se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva,
mas isso não dá a você o direito de ser cruel.

Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer
que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo que pode,
pois existem pessoas que nos amam,
mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém,
algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.

Aprende que com a mesma severidade com que julga,
você será em algum momento condenado.

Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido,
o mundo não pára para que você o conserte.

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto, plante seu jardim e decore sua alma,
ao invés de esperar que alguém lhe traga flores

E você aprende que realmente pode suportar...
que realmente é forte, e que pode ir muito mais
longe depois de pensar que não se pode mais.

E que realmente a vida tem valor
e que você tem valor diante da vida!

Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem
que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar.

William Shakespeare

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O Bombeiro, a Mulher e a Vida Humana


O Bombeiro, a Mulher e a Vida Humana


Valter de Oliveira




A você, bombeiro.

Era quarta feira. Ele estava andando pela região do mercado central, junto ao Tamanduateí. Talvez estivesse pensando na esposa... ou nos filhos. De repente, ouviu gritos. Uma mulher se afogava no rio. Ele agiu rápido. Em pouco tempo atirou-se à água a fim de tentar salvar uma pobre desconhecida. A força das águas era grande. Chovera muito em São Paulo. Foi uma luta árdua. Ele finalmente a segurou e conseguiu salvá-la. Deve ter sentido um grande alívio quando a viu ser içada por pessoas que a ajudaram da margem do rio. Tentou subir. Escorregou, caiu na água do rio e foi arrastado um pouco. Tentou novamente. Difícil. O afluente do Tietê fora canalizado com laterais de concreto. Faltavam pontos de apoio para ele dar um impulso e salvar-se. As pessoas, na margem, não conseguiam ajudá-lo. Ele sentiu a morte próxima. Deve ter, de novo, pensado na esposa e nos filhos. Lembrou-se do último adeus. As águas impetuosas o arrastaram ainda mais e o puxaram para o fundo do rio. Não o viram mais. O soldado José Barbosa de Andrade desaparecera. No dia seguinte seu corpo foi encontrado por seus colegas..Os jornais publicaram uma breve biografia. Publicaram também que a mulher que salvara era uma pobre catadora de papelão, Salete Aparecida Rodrigues. Não sei se noticiaram que era também moradora de rua. Não importa. Era uma dessas pobres infelizes que vemos andar por nossa cidade. Teria valido a pena morrer por ela?

Quando o fato ocorreu, vi, como nunca, a beleza de uma carreira que, no mundo todo é admirada. A queda das torres gêmeas em Nova York nos mostrou em grande escala o valor dos bombeiros. São homens de fibra, de incomparável coragem, que todos os dias, em qualquer lugar, com ou sem meios, estão dispostos a salvar vidas humanas. Não importa se as vidas são de ricos ou pobres, sábios ou ignorantes, brancos ou negros, homens ou mulheres, velhos ou crianças, pessoas saudáveis ou doentes. Estão sempre dispostos a dar a vida por seres humanos que não conhecem! Não são filósofos nem teólogos, mas compreendem e sentem no fundo de suas almas a sublime dignidade da vida humana!

Lembrei-me de médicos e policiais. Os primeiros, fiéis ao juramento de Hipócrates, também se dedicam a salvar seus semelhantes. Sacrificam suas vidas, não são senhores de seu tempo para fazer o bem. É belo, muito belo. Mas, em geral, não sacrificam diretamente suas vidas.

Policiais lutam contra criminosos, inúmeras vezes em condições adversas, para proteger a sociedade. Muitos também deixam suas esposas e filhos quando são alvos de criminosos. O mundo de hoje não tem o devido respeito por eles. Mas os anjos do Céu reverenciam a todos aqueles que caem íntegros no cumprimento do dever.

A todos, médicos, policiais, bombeiros, a você José Barbosa, temos que dizer: “Obrigado, muito obrigado”.

A você mulher.

Estas reflexões me ocorreram por ocasião da morte do jovem soldado que pós mortem foi promovido a cabo por seu ato de bravura. Em seu funeral o comandante geral da PM, coronel Carlos Alberto de Camargo ressaltou que a morte de Barbosa foi um “maravilhoso exemplo de solidariedade.” Solidariedade tão pouco presente em nossa sociedade. Pensei na falta de amor e no grande vazio ao qual somos arrastados pela cultura da morte. E na violência praticada contra as mulheres. Violência de certo tipo de propaganda que nelas quer extirpar a grandeza de sua generosidade.

Sim, pensei nas mulheres, seres maravilhosos que dão à luz outras vidas. E também naquelas que, jovens ou não, por mil circunstâncias da vida pensam em eliminar a vida que trazem em seus ventres. E lembrei-me com dor das que levaram a termo seus desejos.

Por que, Deus meu, há quem morra por outros seres humanos que nunca viram, com quem jamais falaram, do qual nada sabem? E por que há mulheres – incentivadas por homens egoístas e irresponsáveis – que eliminam seus filhos e impedem-nos de vir a conhecer as grandezas de Deus? Não é próprio dos pais dar a vida por seus filhos? Não é dever nosso lutar pelos inocentes? O que aconteceu conosco?

Vivemos em um mundo hedonista no qual perdemos a noção de Deus e do próximo mesmo que este seja nosso filho. Há quem os veja como estorvos. Há quem os deixe de lado porque precisam descansar... ou curtir a vida. Porque precisam trabalhar, crescer na carreira. Ou para bater papo na internet. Vivemos felizes no mundo virtual. Irritamo-nos ao ter de dar atenção a filhos, irmãos, amigos no mundo real... Não queremos ver que generosidade implica em sacrifício. E que os dois juntos nos trazem felicidade. Especialmente se temos em mente que nascemos para fazer o bem. Todos os dias. Todos os momentos. Sem férias. Sem descanso. Na suprema doçura do dever cumprido. Cumprido com amor.

Hoje, você mulher, que está me lendo, talvez você esteja grávida. Ou venha a estar um certo dia.

Talvez você tenha a tentação de achar que não vale a pena dar seu tempo e sua atenção a seu filho que vai nascer. Talvez você seja tentada a seguir os conselhos dos arautos da morte, dos que dizem que o corpo é seu, que você não deve “sacrificar” sua vida e seus prazeres pelo ser humano que cresce dentro de você e que quer abraçá-la e beijá-la. E quem sabe venha a ser seu amparo e sua honra na sua velhice.

Nesta hora, cara amiga, lembre-se dos bombeiros. Lembre-se do soldado Barbosa que deu sua vida pela pobre Salete.
Diga sim à vida. À verdadeira vida. Sem egoísmos, sem medo de sofrer. Acolha seu filho. Proteja-o. Lute por ele. Morra por ele. E tenha assim, já nesta vida, a doçura do dever cumprido. E o cêntuplo no outro mundo.