terça-feira, 23 de dezembro de 2008




PODEMOS FICAR AQUI?


Paulo Henrique de Oliveira






Jesus nasce sempre. Ele é o “Oriens”, “o que nasce”, como nos diz a Sagrada Escritura. E ele nasce sempre que O queiramos em nossos corações. Peçamos essa graça. Uma graça nada mais é que uma jóia em uma caixinha. Para abri-la é necessária uma chave, que é a oração, e a pessoa que no-la abre é Maria. Estejamos, pois, lado a lado com Ela, abramos e contemplemos quantas caixas Deus quiser presentear-nos.

Cristo nasce. Nasce em uma cova prosaica, fria, esquecida. Por quê? Porque Ele o quis. Talvez porque Ele quisesse que fosse símbolo de todos nós, pobres pecadores. Nossa alma é como a gruta de Belém. Se é assim apresentemos a Ele este presépio virgem, talvez sombrio, para que nessa noite receba a Luz. E agora, relembremos o que houve naquela noite-dia e naquela cova-céu. Vamos observar, só observar. Em silêncio, com olhos bem abertos.

Há um homem caminhando em uma noite escura e silenciosa. As estrelas do firmamento emitem uma luz tênue e débil. O cheiro do mato é suave. O homem caminha solitário, deixando atrás de si uma mulher grávida e seu jumentinho. Tem em uma das mãos um cajado alto com uma ponta retorcida. A que toca o chão está lascada pelas longas jornadas. Caminha pressuroso a uma gruta, a uma cova que vê à sua frente. Não sabe o que encontrará ali, quiçá um chacal, quiçá um lobo, quiçá ladrões. Teme, mas avança, pois sua missão é muito maior que seu temor. Ao entrar nela uma luz, vinda não se sabe de onde, ilumina seu rosto e o inóspito lugar. Ao passar entre as estalactites, sente que há palha cobrindo parte da terra fria, e em um canto, observa que há um boi e um burro. Eles o olham. Ele olha para eles. A luz dá vida ao seu rosto e desvela uma face formosa, viril. Seu olhar belo, sereno, profundo observa cuidadosamente cada detalhe da cova. Ali, só os dois animais vêem que os olhos daquele homem estão marejados de lágrimas. Pela cabeça daquele homem passam muitas idéias, muitas imagens. Sabe quantas mulheres morrem ao dar à luz, mesmo tendo a ajuda de uma parteira. E ele sequer poderá dar isso à sua amada. Sequer isso... Observa o musgo que cresce ao redor das fendas feitas pela água que corre serpenteando em uma das extremidades da gruta. Sente o cheiro dos animais. Também está cansado. O cansaço, o forte odor do lugar, o vento frio, fazem perder forças e apoiar-se em seu cajado. Olha para a entrada da gruta e vê o céu. Seu coração se revigora e ele se endireita. Ele pensa: ali terá que nascer o filho de Deus, naquela cova, em um estábulo de animais... Ele então se aproxima do burro, afaga-lhe a fronte e com os dedos acariciando seu pelo olha também para o boi e diz: “Amigos, podemos ficar aqui? É que na cidade não há lugar para nós (e lhe rolavam as lágrimas), não há lugar para nós”...

Esses animais serão testemunhas de grandes coisas. Viram o choro de José. Pouco depois o choro de Maria. Finalmente, com o choro da Virgem, vai brotar um ainda mais doce, o primeiro choro de Deus. O bebê nasceu, e José o repousa nos braços fatigados de sua mãe enquanto sai apressado a buscar água para limpar o Menino. Maria tem então uma cena maravilhosa ante seus olhos: o Menino ensangüentado em seus braços... Maria representa a humanidade e contempla seu sangue no Menino Jesus coberto com o sangue da humanidade. Essa cena haverá de repetir-se mais uma vez, no Calvário, mas, dessa vez, será a humanidade que estará coberta com o sangue de Cristo...

Aqueles pobres animais só contemplam. O burro vê José colocar algo na manjedoura e se levanta, dirigindo-se alegremente ao seu lugar habitual de alimentação. Mas, ao chegar não encontra ração, encontra Deus. Ele vê Deus. Talvez, como vemos na vida de S. Antonio de Pádua, ele tenha se ajoelhado diante de Cristo. Gosto de pensar que sim. E Maria lhe sorriu. Que cena inenarrável de humildade. Deus num presépio em um “prato” de animais. Sim, ali está Deus, pronto para ser devorado. Poderia haver mais bela figura eucarística que esta?

Dessa mesma maneira Cristo vem aos nossos refúgios que chamamos coração. E muitas vezes somos como esses animais e Maria O repousa em nossos corações para que possamos nos alimentar de Sua carne e dignificar nossas almas. Afinal, que é uma manjedoura, um presépio, um coração sem Deus? E com Ele, o que é? Aprendamos com esses animais a escolher a Deus ou à ração de nossas paixões desordenadas. Ou Deus ou elas... Escolhamos... Mas escolhamos com sabedoria. Oh! Se tivéssemos essa boa vontade que cantavam os anjos! Ele habitaria muito mais em nossas almas! Reflitamos, pois, porque Cristo não escolhe palácios. Ele prefere os lugares sujos, miseráveis, frios, escuros... Gosta de nossos corações... E para quê? Para convertê-los, purificá-los, aquecê-los, iluminá-los, divinizá-los. Façamos nossa parte. Imitemos Maria. Saibamos dizer uma simples palavra: Sim!

Se assim fizermos, meus caros amigos, não tenhamos dúvida. A Virgem fará de nossas almas um eterno Natal.



Paulo Henrique de Oliveira, 23, é meu filho, diretor de produção e pesquisador da Oliver, Empreendimento Educacionais.

Eu, minha esposa Sonia, e todos os meus filhos, Maria Theresa, Paulo Henrique, Helena Cristina, Ricardo Luís, Marcelo Augusto, Anna Cecília e Rafael Henrique, desejamos a todos Um Natal muitíssimo abençoado e um Ano Novo pleno de realizações e felicidades.