sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

TRÊS PROFESSORES: O NUTELLA, O RAIZ, O...SEM ADJETIVOS













Valter de Oliveira


Encontrei no facebook uma comparação entre o professor Nutella e o professor  Raiz. Só mais uma dessas brincadeiras, com elementos de verdade, que estão sendo publicadas. Algumas são feitas pela “esquerda”, outras pela “direita”. A que reproduzo aqui, é bem claro, tem coloração vermelha...
Ao ler a brincadeira no face respondi que tinha objeções aos dois tipos de professor. Resolvi apresentar um terceiro tipo: o professor sem adjetivos. Suas características aparecem aqui como contraponto aos dois. Está identificado apenas como “O professor”.

O PROFESSOR NUTELLA

- Trata os alunos mal e puxa saco do patrão
O professor trata a todos bem, em especial seus alunos. Respeita toda autoridade sem servilismo e procura engrandecer a instituição, pública ou privada, onde trabalha.
- Gosta de fofoca e assina Veja
O professor mostra a importância de saber usar as palavras e o tempo, bem como a respeitar a vida e a intimidade do próximo. Incentiva o aluno a desenvolver o espírito de curiosidade e explica a importância de se ter foco no que se faz. Anseia por informação e procura as mais confiáveis. Nem por isso afirma ser um pecado que se leia a Veja, o Estadão, a Folha, ou o New York Times que exprimem, quando muito, um selecionado aspecto da realidade.
- Bate panela quando a Globo manda
O professor não tem espírito de massa, abomina o carneirismo. Em consequência procura analisar criticamente a realidade. Democraticamente bate panela quando necessário. Inclusive contra a rede Globo.
- Reclama da profissão e critica os colegas que se mobilizam.
O professor ama apaixonadamente sua profissão e  luta para que seja valorizada e respeitada, não só em teoria mas no seu próprio campo de trabalho.  Respeita seus colegas e defende uma sadia diversidade. Sabe e ensina que há mobilizações positivas e negativas.

- Não se mistura com qualquer um.
O professor: Todo ser humano é único, uma imagem da beleza infinita de Deus. Por isso procura ser “sal na terra”.
- Não gosta de escola pública porque não é do seu nível social.
O professor gosta de qualquer escola, pública ou privada, que procura cumprir bem sua função. O que importa é que seu corpo diretivo, seus funcionários e seu corpo docente sintam honra em exercer seu papel, ainda que em condições adversas. Condição social, de si, para cada um de nós, não é mérito ou demérito. O mérito – incluindo o dos alunos – vem da qualidade do trabalho de cada um.

O PROFESSOR RAIZ

- Só tem aluno maluco e pira junto com eles
O professor tem alunos normais e não pira jamais, só ou em grupo. Compreende que uma das coisas mais nobres do ser humano é a razão e esta nos leva à beleza do equilíbrio. Não quer ninguém pirado. Nem em sonhos, nem em pesadelos.
- Discute política, economia, cultura com qualquer um. Se tiver dinheiro assina Piauí.
O professor é encantado pelo conhecimento e sabe que ele é incomensurável. Como os antigos filósofos está aberto a tudo sem deixar de ter o foco naquilo que se propôs a ensinar. Se tiver dinheiro, se necessário, assina o que houver de melhor. Pode até ler a “Piauí” mas, se for rico, deve saber fazer bom uso do dinheiro e raramente fará uma assinatura dela...
- É quebrado e não esconde de ninguém
O professor é de todas as classes sociais. Pode ser rico ou pobre, homem ou mulher, branco ou negro (minorias no Brasil). Não tem vergonha de nada disso, pelo contrário. Sabe – e ensina – que vergonha é não ter honra, não ter caráter, não cumprir seu dever.
-Sindicato, mobilização, tiro, porrada, bomba
O professor admira e defende o regime democrático independentemente da forma ou do sistema de governo. Instituições intermediárias (como a família ou os sindicatos) entre o Estado e o indivíduo são legítimas e necessárias. O mesmo vale para as mobilizações. Que nada tem a ver com a violência gratuita e criminosa pregada apaixonadamente por certos setores da esquerda.
- É parça com o pessoal da limpeza e da cantina
O professor é solidário com todas as pessoas de sua escola, sabe respeitar a todos e valoriza todo tipo de trabalho. Todos são necessários e dignos. Sabe mostrar isso nas suas atitudes e até no seu olhar.
- Passa a graduação toda contando moeda pro xerox
O professor considera que, graças a Deus, não são apenas os pobres que podem exercer a docência.  Alguns chegaram onde queriam com sangue, suor e lágrimas. Outros, nascidos na classe média ou na alta não precisaram contar moedas. De qualquer modo, todos os que são realmente professores passaram a graduação procurando crescer intelectual e moralmente. E vão fazer isso a vida toda.
- Hoje dá aula até com marca de tiroteio
O professor, como todo ser humano, procura um lugar digno e tranquilo para trabalhar. Deseja o mesmo para seus alunos. Se, medindo a realidade, vê que é necessário expor-se em um lugar perigoso, ele o fará. De certo modo podemos dizer que, assim como há os “médicos sem fronteiras” também há os professores sem fronteiras. Nem por isso seu coração será menos nobre e generoso se desejar para todos uma sadia normalidade.

Termino com um convite. Que todos os que ensinam sejam o que devem ser: professores. “Simples” professores. Sem Nutella; sem Raiz; sem adjetivos.
Os alunos ficarão felizes.


2 comentários:

Unknown disse...

Achei excelente colocação, pois todos deveriam ser este professor. A maioria dos que conheço são sem adjetivos. Gratidão

Cema Costa disse...

Gostei muito. Desejo ser uma professora pesquisadora