Valter de Oliveira
Fico pasmo com as incoerências e ilogicidades das correntes revolucionárias.
Você pode perguntar: -"Quem? Está falando da esquerda? Dos socialistas?
- Sim, dela e de seus predecessores. Iluministas, libertários, positivistas, marxistas, etc, etc. Todos, diga-se de passagem, em diferentes momentos se disseram revolucionários. São mesmo. Procuram implantar uma sociedade puramente humana, que nega o destino último do homem, e que, dentro do possível, imaginam que com tal pensamento conseguirão construir uma sociedade humana justa e solidária, fruto da evolução do mundo. A esquerda marxista, por exemplo, está sempre sonhando com um mundo novo e um homem novo. É um milenarismo político.
Mas vamos ao ponto do artigo. Por que digo que são ilógicos e incoerentes?
Fake news e verdade
Como todos sabemos uma das coisas mais faladas atualmente é a propagação de fake news (1). Esta passou a ser a heresia que assusta os revolucionários. Afinal, dizem, não há o direito de se propagar mentiras, falsidades. Especialmente contra eles...
Sei que eu e você, e milhões de cidadãos, de qualquer lugar do mundo, rejeitamos a mentira e a falsidade. Só que a imensa maioria não entra em discussões filosóficas sobre o assunto. Não se deve mentir! Menos ainda espalhar mentiras. E ponto final!
Eu diria que tal postura, do chamado senso comum, ou do bom senso, está conforme o direito natural. No meu caso eu diria que está de acordo com a filosofia católica, com a moral cristã. Para nós a verdade é objetiva. É o que ensina a visão aristotélica tomista. Conforme esta algumas coisas deveriam ser proibidas. Ou, no máximo, toleradas. Exemplo: a pornografia e a prostituição.
Mas, porém, todavia, contudo, entretanto, diversos filósofos revolucionários defendem que a verdade é subjetiva, ou relativa. Ou as duas coisas.
Tal visão filosófica não ficou apenas nas páginas dos livros ou no coração e mentes de seus pensadores. Influenciou a política. Dominou-a. Cristalizou-se em leis.
Qual o resultado?
Países tidos como amplamente democráticos - tidos como estados democráticos de direito - consideram que as liberdades de expressão, opinião, reunião são direitos assegurados por lei.
Concordo. Desde que se entenda de forma adequada o que é liberdade e o que é democracia. A que sigo afirma que a liberdade não é absoluta. Ela está sempre ligada à verdade.
Os revolucionários relativistas contemporâneos vão perguntar para mim e para você: -"Mas, o que é a verdade?".
Tal como Pilatos eles dizem que não sabem. Também afirmam que o Estado não o sabe. O Estado não sabe o que é ética. (2) Sendo assim, concluíram, a liberdade precisaria ser total. Pelo menos enquanto ficar no campo das ideias e das expressões. Daí que, pelo menos em alguns países, a suástica não é proibida. Aliás, nem mesmo associações claramente nazistas são proibidas. Se pode haver propaganda de genocidas comunistas também deve ser livre a dos nazistas.
Lembro ainda que nos países tidos como profundamente democráticos o satanismo pode ser praticado e propagado.
Tudo isso é fruto do subjetivismo e do relativismo moral.
Ok. Aí você entende porque não aceitariam um projeto meu, se fosse deputado federal, de proibir a pornografia. Ou que proibisse taxativamente a ideologia de gênero para crianças e adolescentes. Garanto que, se aprovasse, o STF viria correndo dizer que o texto aprovado feria a democracia e o estado democrático de direito.
Assim é como se entende. Na maior parte do mundo laicista globalizado. Querem uma prova?
O caso Charlie Hebdo
Como é sabido o jornal francês era altamente polêmico. Abusado, pornográfico, insolente, fazia charges indignas contra muita gente. Não tiveram nenhum pejo em apresentar assim um conclave de cardeais ou a Santíssima Trindade. Depois resolveram levar a indignidade para a seara muçulmana. O resultado foi trágico. Terroristas resolveram reagir criminosamente. E aí tivemos a tragédia que abalou a França.
Tinham direito de fazer o que faziam? Podiam propagar tais ofensas? É direito de um grupo ofender tão dura e sacrilegamente fiéis do mundo inteiro?
Conforme minha visão de mundo, de democracia e de liberdade, não. Conforme os laicistas e relativistas do mundo inteiro, sim... (3)
Qual foi a reação?
Governantes e a quase totalidade da mídia levantou-se em peso. Milhões saíram às ruas, em todo o mundo, exclamando: "Je suis Charlie".A Wikipedia, neste caso 100% confiável, escreveu: "A frase "Je suis Charlie" (francês para "Eu sou Charlie") transformou-se em um sinal comum em todo o mundo, de prestar solidariedade contra os ataques e para a liberdade de expressão". [25]
Conclusão
Agora, ouvindo jornalistas da grande mídia, correntes políticas, ou membros do Judiciário, parece que todo mundo virou tomista. Coligaram-se libertários, sociais democratas e toda a esquerda. Toda a santidade laicista. São Tomás ficaria feliz. Mas ele sabe muito bem que por trás de pretenso amor à verdade temos um mundo de hipocrisia.
Para todos eles podemos dizer que há coisas objetivamente más que devem ser desmascaradas, proibidas, combatidas.
Só que aí começaram a considerar fake news o que não é. Ou melhor, algumas coisas realmente são falsas, outras não.
Quem decide? Eles? dogmaticamente?
E como se combate fake news? Com a atuação do Judiciário?
É um caminho. Pode ser legítimo. Quem, como eu, defendo a verdade e a justiça penso que injúrias e calúnias devem ser punidas. Conforme a lei. Conforme a justiça. Respeitando-se o devido processo legal.
E aqui entra um grande exemplo de contradição. O inquérito das fake news é arbitrário. Ele não segue nada disso. Assemelha-se a atos abusivos e autoritários permitidos no passado brasileiro. Passado que dizem abominar!
Até quando senhores revolucionários?
Notas:
1. Parece-me que o conceito de fake news ainda não está nas leis brasileiras. Se estiver enganado peço que me enviem o texto legal.
2. Há alguns anos o governo iniciou um diálogo com pensadores católicos sobre o modo como se deveria pleitear direitos ou combater certas ideias. O governo não queria que se apelasse para o direito natural (tido por ele como muito ligado ao catolicismo) Dever-se-ia argumentar em nome do interesse coletivo. Visão pragmática revolucionária que pode levar a mil arbitrariedades jurídicas. O diálogo, que eu saiba, não teve frutos. Entrei na internet para procurar reações. O que vi foram reações furiosas de gente de segundo e terceiro escalão do governo que rejeitava até mesmo as conversas ocorridas.
3. Por amor à verdade é importante dizer que há defesas na lei contra tal tipo de injúria. O clero católico tem meios de processar todos os atos de profanação e sacrilégio que certos manifestantes de esquerda praticam. Infelizmente ninguém se mexe.
Um comentário:
Ótimo texto! E concordo plenamente!! Infelizmente a verdade não é vista como a real razão de tudo, e sim a verdade relativa para beneficiar alguns grupos e políticos....
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