quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009



R$ 383,22! Educação e Saúde?



Ubiratan Jorge Iório de Sousa*

30/01/2009


Trezentos e oitenta e dois reais e vinte e dois centavos para 20 horas de trabalho semanais exigidas! É o que ganha um professor substituto (de quem se exige apenas o curso de graduação) de uma universidade federal, em uma faculdade de Medicina, Enfermagem e Farmácia. Nas demais áreas de conhecimento a remuneração é a mesma, pois é estabelecida em tabela pelo ministério do Planejamento e vale para todas as universidades federais. Se o professor tem mestrado e trabalha 40 horas por semana, o salário é de R$ 1.290,07 e, se possuir mestrado e pertencer ao quadro fixo da instituição, recebe mensalmente, em início de carreira, a “astronômica” cifra de R$ 2.715,97. Na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), onde leciono há 17 anos, o salário mensal de um professor com doutorado, em qualquer faculdade ou instituto, em regime de 40 horas e em início de carreira não chega aos R$ 3.500,00. Um médico concursado de um hospital público do Rio de Janeiro ganha pouco mais de R$ 1.000,00 por mês. Um professor da rede pública estadual e municipal, em começo de carreira, nem sequer sonha em ganhar tão “bem”... É um retrato bem pequenininho do estado de calamidade em que jazem a saúde e a educação públicas. Não vou nem comentar o péssimo atendimento nos hospitais públicos e a baixíssima qualidade da educação. Não é preciso.

Do outro lado dessa rua esburacada e sem calçamento, os jornais informam que o governo federal está distribuindo 600.000 preservativos para serem distribuídos aos jovens que estão em Belém participando da grande feira de fósseis ideológicos – que deve despertar o interesse de qualquer paleontólogo – denominado “Fórum Social Mundial”. Esse mesmo governo tem 37 (ou 38, pois é mesmo de perder a conta) ministérios e “secretarias especiais”. Nos estados e nos 5.564 municípios, governadores e prefeitos abrem bateladas de secretarias para acomodar quem lhes dá apoio político. Nas demais esferas e nos três níveis de poder do Estado, o Judiciário, quando se trata de aumentar os próprios gastos com pessoal, é, digamos, bem pouco judicioso. O legislativo, nem se fala. É só um pálido retrato de desperdício e malversação dos recursos arrecadados febrilmente do contribuinte.

Vou parar aqui. Estou plenamente convencido de que não é preciso acrescentar qualquer comentário adicional. Este, infelizmente, é o nosso país. Um país, afinal, coerente, uma vez que o seu presidente declarou com orgulho que não gosta de ler nem manchetes de jornais, porque “dá azia”... Deve ter pavor de médicos, mesmo tendo um, pago por nós, para cuidar exclusivamente da sua saúde

PROFESSORI, VIL RAZZA DANATA!

Ubiratan Jorge Iorio de Sousa

02/02/2009

Segundo os jornais do último fim de semana, o Ministério da Educação determinou, no último dia 30 – exatamente a data da postagem anterior –, que os professores substitutos da UnB e, por extensão, da Universidade Federal de Juiz de Fora, terão os seus salários reajustados de R$ 388,22 para R$ 1.079,00 por mês, para 20 horas semanais de trabalho. Um aumento de 277% que melhorou, ou como diria alguém bem realista, porém pouco preocupado com o português, “piorou menos” a condição dos referidos docentes que, se estavam afundados até o pescoço, agora passaram à condição de imersos até a altura do peito...

O que aconteceu?

Os bondosos burocratas resolveram incorporar a GAE (em torno de R$ 457,00), gratificação que somente era paga aos docentes de carreira – ao salário dos professores substitutos, que são, como se sabe, contratados temporariamente. Segundo o MEC, dentre as federais, apenas a UnB e a UFJF não pagavam a GAE aos substitutos. Com o novo salário mínimo, de R$ 465,00, o piso para esses professores será de R$ 1.209,00.

Mudou algo?

Só que esse ato de suprema bondade de nossos burocratas da educação não muda nada em relação ao que escrevi no dia 30. O leitor poderá argumentar que o aumento foi substancial, ao que eu contra-argumentarei (com hífen e tudo, pois o prefixo termina com a mesma vogal com que começa a palavra seguinte) se ele acha justo um professor universitário, mesmo sem mestrado, ganhar menos do que, por exemplo, um contínuo do Senado Federal, que recebe cerca de R$ 10.000,00 por mês, ou um ascensorista do Congresso, que percebe perto de R$ 6.000,00 em cada mês (fora o 13º salário e outras vantagens, a que os docentes temporários não têm direito). E acrescentarei outra pergunta: quais os salários dos assessores de vereadores, deputados e senadores, que existem às pencas e multiplicam-se a taxas superiores às dos coelhos e ratos? Certamente, não serão menores do que o novo piso dos professores assistentes.

Salários dependem principalmente – ensina-nos a Teoria do Capital Humano – de escolaridade e de experiência, além, evidentemente, das condições de demanda e oferta de cada tipo de mão-de-obra. Será que há mais brasileiros qualificados para serem professores universitários do que brasileiros com qualificação para contínuos, ascensoristas e aspones? Será a demanda por estes últimos superior à de professores universitários? É evidente que a resposta é não em ambos os casos, o que explica que os salários no setor público são determinados muito mais por fatores políticos e corporativos do que pelos econômicos, que normalmente deveriam determiná-los. Aí é que está o problema. Mas, se nosso presidente sequer lê jornais e, desde que se tornou líder sindical, sempre se recusou a estudar, não deve gostar mesmo de professores. Deve considerá-los supérfluos, uma raça vil...

Só mesmo parodiando aquela bela ária do Rigoletto de Verdi: Cortigiani, vil razza dannata...


*Ubiratan Jorge Iorio de Sousa é Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas e professor da UERJ


Visite o site http://www.ubirataniorio.org/blog.htm


Nenhum comentário: