sábado, 14 de março de 2009

LULA, MELLO & CIA

Valter de Oliveira



Na última semana a mídia aproveitou-se do doloroso caso de uma menina de 9 anos, vítima de estupro, para atacar e tentar ridicularizar a Igreja.

Não preciso relatar o episódio. É de conhecimento público. Nem vou comentá-lo agora. Simplesmente vou aguardar o emocionalismo diminuir. Ou, em linguagem mais simples, deixar a poeira baixar.

Contudo, não quero deixar passar em brancas nuvens certas declarações feitas por órgãos da mídia ou por personalidades. A razão é simples: há muito as bobagens que dizem ultrapassam qualquer limite razoável. Vemos tsunamis de superficialidade, ignorância e, o que é pior, má fé.

Já por ocasião do debate no STF sobre a liberação de células tronco embrionárias constatamos o que estou dizendo. Houve mau jornalismo por parte da mídia e declarações absurdas por parte de autoridades. Foi o caso do ministro da saúde, por exemplo, e até de cientistas que negaram evidências científicas. Escudavam-se na ciência, criticavam a religião, defendiam o estado laicista e agiam de modo puramente ideológico. Sem o mínimo respeito pelos fatos e pela lógica.

Um ministro do Supremo, Celso de Mello, fez uma declaração incrível. Entrevistado pela mídia televisiva afirmou que no caso em questão ele seguia o ensinamento de Aristóteles. “Nem a ciência, nem a religião. A virtude está no meio”. E tudo dito com ar de quem pronunciava uma verdade profunda!...

Não preciso dizer que Aristóteles estremeceu no túmulo. E eu em minha casa. Explico-me.

Aristóteles, na Ética a Nicômaco, analisando as virtudes éticas, afirma que o homem tem impulsos, paixões, sentimentos que tendem ao excesso ou à falta. Devido a isso a razão deve impor uma justa medida, ou seja, um caminho intermédio entre dois excessos. É o caso da coragem ou fortaleza, virtude cardeal que está entre dois vícios: De um lado, a audácia, de outro a covardia.

De onde se percebe que nosso ministro reinventou a lógica. No seu raciocínio há dois erros ou vícios: a ciência e a religião! E onde está a virtude? No parecer do ilustre ministro. Ele, sabiamente, deixou ambos de lado e interpretou que nossa Constituição, que defende a vida humana como um direito inalienável, autoriza o uso de células tronco embrionárias. O direito do embrião foi para o lixo. Religião para ele não conta. E a ciência também de nada serviu para justificar seu voto. (1)

Neste fim de semana o presidente Lula resolveu competir com o ministro Celso de Mello. Declarou que entre a medicina e a religião ficava com a medicina.

Alguém precisa dizer ao presidente que a ciência que estuda a moralidade dos atos humanos – e, portanto do aborto - chama-se ética que nos diz que ninguém tem o direito de tirar a vida de seres humanos inocentes. Médicos, juristas, economistas, políticos, todos nós podemos agir ou não conforme os verdadeiros princípios éticos. E cada um de nós é pessoalmente responsável por conhecê-los, segui-los, ignorá-los ou até combatê-los.

O presidente mostrou desconhecimento do assunto ao criticar o bispo de Olinda por uma coisa que ele não fez: excomungar os que participaram ou apoiaram o aborto dos gêmeos. (2) O prelado aconselhou o presidente a procurar um consultor que conhecesse teologia....

Lula reafirmou que é cristão e católico.

Sem dúvida alguém pode se declarar católico ou cristão porque foi batizado. Só que isso não basta para alguém estar unido a Cristo.

No catecismo lemos a seguinte pergunta: “Quem é o verdadeiro cristão?”
A resposta é simples: é aquele que é batizado, conhece, ama e pratica a doutrina de Cristo.

O que no caso católico implica na adesão à doutrina da Igreja. Que não admite livre exame. Se aceita o conjunto dos ensinamentos porque faz parte da fé acreditar que Cristo nos ensina por meio da Igreja. Basta relembrar o texto de S. Lucas: “Quem vos ouve, a mim ouve, e quem vos rejeita, a mim rejeita” (Lc 10,16).

A condenação do aborto não é nenhuma novidade. Sempre fez parte da moral católica.

Já ouvi o presidente Lula dizer que é contra o aborto e que sua esposa D. Marisa também é.

Neste caso fica difícil entender porque ele nomeou para Ministro da Saúde José Carlos Temporão que também se diz católico, mas defende a descriminalização do aborto alegando razões de saúde pública.(3)

Mais ainda. Faz parte da bandeira do PT aprovar o aborto. É compromisso partidário. Como entender um não abortista criando um partido abortista? Onde está a lógica em se criar um partido que vai realizar na vida pública o oposto do que se diz ser na vida pessoal?

Para complicar ainda mais Lula também declara que aborto é caso de saúde pública. Afinal, o que pensa o presidente? (4)

Outro ponto.

A Igreja defende de tal forma a vida humana que afirma que quem, consciente e deliberadamente, tira a vida de um feto humano inocente está automaticamente fora da comunhão eclesial. Pena medicinal para que a pessoa reflita e se converta.

O PT que defende a cultura da morte quer expulsar dois de seus deputados. Vai “excomungá-los”. Razão: são contra a legalização do aborto, defendem a vida de inocentes... É excomunhão moderna, não é medieval.

Por último temos uma afirmação incrível do promotor Roberto Tardelli, também ele indignado com a declaração do bispo sobre o aborto.

“A excomunhão poderia ser anulada recorrendo-se ao Judiciário!”

É isso mesmo meus amigos. Vi na TV. Confirmei na internet. (5)

Só quero entender como o estado laico vai abolir uma pena espiritual. Será que o Estado vai convocar alguns anjos para efetuar o serviço?

Imaginem se a moda pega. Vamos ler nos jornais:

“Umbandista recorre ao Judiciário porque afirma que foi vítima de um despacho para acabar com seu casamento... Acusa um vizinho e um pai de santo!”

“Promotor Tardelli vai indiciar pai de santo!”.

“Oficial de Justiça não consegue encontrar Orixá!”

Loucura total.

Depois disso tudo the Oscar goes to...


1. Segundo o ministro, o conceito do início da vida, assim como o conceito de morte, NÃO são questões científicas e biológicas, mas filosóficas e morais, definidas arbitrariamente pela legislação de cada país, em consonância com os costumes e com a cultura da população. (...)
Os destaques são meus.
http://www.jusbrasil.com.br/noticias/17415/celso-de-mello-vota-a-favor-

2. "Como cristão e como católico, lamento profundamente que um bispo da Igreja Católica tenha um comportamento, eu diria, conservador como esse (...). Eu acho que, nesse aspecto, a medicina está mais correta que a Igreja. A medicina fez o que tinha que ser feito: salvar a vida de uma menina de nove anos", disse.
http://www.clam.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm

3. Durante sua gestão no Ministério da Saúde, Temporão defendeu a posição de que o aborto é uma questão de saúde pública, o que causou indignação de setores mais conservadores da sociedade brasileira, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e de sua própria mãe, descrita por ele como sendo uma católica muito devota.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Gomes_Temporão

4. Lula voltou a dizer que o aborto deve ser tratado como questão de saúde pública. O presidente rebateu as críticas por ter distribuído preservativos, ao assistir ao desfile da escola de samba Beija-Flor, no carnaval do Rio de Janeiro. Ele deu essas declarações ao participar da abertura de um seminário em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Da Agência Brasil.

5. Promotor diz que excomunhão da mãe e dos médicos que realizaram um aborto numa menina de nove anos de idade pode ser questionada na justiça.

A justiça comum poderia ser acionada contra a decisão do arcebispo de Olinda e Recife Dom Jose Cardoso Sobrinho que excomungou a mãe e os médicos que fizeram o aborto numa menina de nove anos grávida de gemêos, vítima de estupro praticado pelo padrasto. A opinião é do promotor Roberto Tardelli que considera que a posição do bispo é uma demonstração de fundamentalismo.
http://band.com.br/primeirojornal/conteudo.asp?ID=130440&CNL=1



Um comentário:

Anônimo disse...

Caro professor,
o caso é muito doloroso mesmo, e só confirma o que dizem as sagradas escrituras: que A PAGA DO PECADO É A MORTE (neste caso, as mortes dos gêmeos inocentes, ou, caso a gravidez fosse adiante, da menina-mãe, ou dos três, ou de nenhum deles... não saberemos o que poderia ocorrer). Tudo é muito triste: o que houve com a menina de 9 anos, os ataques à Igreja, o oportunismo dos abortistas que querem usar o caso para promover a morte. Rezemos para que o mundo abra os olhos e pare de promover o sexo sem amor, isso sim a causa de estupros, gravidezes irresponsáveis, abortos, pedofilia, homossexualismo, etc. Mas parece que ninguém consegue enxergar isso. É mais fácil criticar um idoso e a instituição que ele representa que sacrificar o prazer venéreo, mudar o próprio comportamento.
abs,
Fernando Tossunian