quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

LULA, CLASSE POLÍTICA E DIGNIDADE

Valter de Oliveira


Basta olhar as cartas dos leitores aos jornais para vermos como estão profundamente decepcionados com a classe política. O mesmo vemos em inúmeros blogs nos quais se expõe de modo cada vez mais contundente práticas de corrupção e outros desvios éticos de nossos dirigentes. Jornais e revistas, como é habitual, não deixam de fazer suas denúncias. É um importante papel da imprensa democrática.

O mau exemplo leva o cidadão a descrer da democracia. Ou dos governos em geral. Pior: Muitos começam a perguntar: se eles podem (agir mal) por que eu não posso?

Não é questão de poder ou não. É questão de dignidade, de honra, de valores. Fazemos o bem seguindo nossa consciência retamente formada que nos faz ver o bem e praticá-lo. Sem desejar aplausos ou recear desprezos. E para quem tem fé, pela alegria em seguir a Deus.

A corrupção de tantos políticos – e de outros setores da sociedade – não devem nos levar ao abandono da política. Aristóteles dizia que o homem é um animal racional. Nossa razão nos mostra que somos seres sociais e que não podemos viver sem política. Pelo menos Política com p maiúsculo, que nada tem a ver com mesquinharias partidárias. E o que é ela?

"A política é a atividade que diz respeito à vida pública.” É a arte de governar, de gerir o destino da pólis (cidade). E para isso o homem político (...) é investido de poder para imprimir determinado rumo à sociedade tendo em vista o interesse comum”. (1)

A maior parte de nós, eu ou você que está lendo esse artigo, não precisa ser cientista político, economista, jurista ou filósofo, para perceber quanto os políticos, no poder ou na oposição, não agem como deveriam. O simples homem do povo sabe e sente que nossa classe política não trabalha para o bem comum. O que não quer dizer que nada seja feito.

É verdade que este conceito, em nossa sociedade, é concebido, em sua maior parte, como uma série de bens principalmente materiais. (E a mídia tem enorme responsabilidade no crescimento desta visão errada). Boa seria a sociedade em que houvesse habitação digna para todos, pleno emprego, sistema de saúde adequado, cidades com boa infra-estrutura e áreas de lazer, escolas de qualidade, etc.

Sem dúvida tudo isso é muito bom. Mas não é o suficiente. Desejo que meus filhos e todos os seres humanos desfrutem de tudo isso. Mas, assim como não basta que alguém seja rico para se desenvolver plenamente e atingir seu fim último, que é Deus, assim também não significa que se o mundo inteiro vivesse como os dinamarqueses ou canadenses o bem comum teria sido alcançado. Seria uma visão totalmente materialista.

Santo Agostinho ensina que a condição do bem comum é a paz, que ele conceituava como a “tranqüilidade da ordem”. E esta é a disposição de cada coisa conforme sua finalidade. E evidentemente não há ordem quando o homem coloca bens materiais acima dos espirituais como é o caso do mundo moderno. Dá para entender por que falamos tanto em paz e cada vez mais temos violência, guerras, opressão dos mais fracos e desprezo pela própria vida humana?

Então, no que consiste o bem comum? O prof. Manuel Gonçalves Ferreira Filho nos diz: “A lição tomista, esclarece, de maneira ainda não superada, o conceito. A essência do bem comum é, para Santo Tomás, a vida humana digna. A ação do Estado deve assegurar para todos uma situação tal, em que cada um possa realizar-se plenamente” (2).

Neste sentido vários autores afirmam que para S. Tomás o bem comum implica na vida virtuosa em comum. O que não será alcançado se os cidadãos não entenderem bem seus direitos, não cumprirem suas obrigações e se os dirigentes usarem erradamente o poder.

“O poder põe o homem à prova. Pois muitos, quando permanecem em posições humildes, têm toda a aparência de virtude, e no entanto afastam-se dela quando chegam às alturas do poder”. (3)

Agora vou dizer o óbvio: nossa classe política não entende corretamente o papel do Estado nem o verdadeiro conceito do bem comum. Os aspirantes do poder, de todos os partidos políticos, já nascem e são nutridos em um ambiente com mentalidade oligárquica. Na linguagem política atual: vivem o fisiologismo, adotam o nepotismo, amam e defendem-se com o corporativismo. Os piores adotam tudo isso e ainda procuram manipular a sociedade e conduzi-la cada vez mais a aceitar ideologias que implicam na negação da dignidade humana.

Ainda ontem vi um triste exemplo disso. Em noticiário na TV vi o sr. Lula da Silva, presente no desfile de carnaval na Marquês de Sapucaí, ao lado do prefeito e do governador do Rio, jogando preservativos para os foliões. Dinheiro público que deveria ser usado em Saúde e Educação é jogado fora para facilitar a promiscuidade.

Os imperadores romanos eram mais dignos: quando compareciam ao Coliseu jogavam pão para o povo...




1. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Temas de Filosofia. São Paulo, Moderna, 1992. p.138

2.FERREIRA FILHO. Manuel Gonçalves. A Democracia Possível, São Paulo, Saraiva. 1985. p.35

3.(Reg. Princ.,1,9) in AMARAL, Diogo Freitas do . História das Idéias Políticas, vol 1. Coimbra, Livraria Almedina, 1998, p. 185”.