quarta-feira, 10 de junho de 2020

ESQUERDA, DIREITA, FASCISTAS, ETC, ETC

Valter de Oliveira


Hoje, mais do que nunca, se fala de direita e esquerda, de fascistas e conservadores, etc, etc. Também ficou hábito carimbar as pessoas.

Grande parte do que se diz é bobagem. Poucos estudaram o assunto. A maior parte repete chavões.

Se fosse tão simples carimbar todo mundo, Norberto Bobbio, reconhecido intelectual da ciência política, não teria perdido seu tempo escrevendo um livro chamado "Direita e Esquerda".

A origem do termo esquerda ficou ligada, historicamente, à bancada dos jacobinos, na Revolução Francesa, que ficavam sentados à esquerda na Assembléia.

Propunham mais igualdade social. Mataram muita gente em nome dela.

A partir daí passou a ser praxe chamar de esquerdista políticos, movimentos, governos, que querem mais igualdade na sociedade. Quanto mais igualitário, mais esquerdista.

Como o esquerdismo é composto por movimentos ou partidos políticos que têm certas divergências entre si, seja quanto aos objetivos finais, seja quanto aos métodos, poderíamos dizer que há cinquenta tons de vermelho... Ou entre o rosa e o vermelho...

Com isso, devido a lutas históricas concretas, quem se opôs à esquerda passou a ser tido como de direita... Ou de centro?

A relatividade do termo

Aqui faço um parentese para destacar a relatividade do uso do termo na sua aplicação concreta.

Imaginemos o Brasil com três partidos: o PSL, o PSDB e o PT.

Teríamos direita, centro, esquerda.

Agora imaginemos outra situação: um Congresso composto apenas por representantes do PT, do PSOL, do PCdoB.

Vejam só que maravilha: O PT passaria a ser ... "direita", sem mudar nada de suas ideias e métodos.

O que vemos aqui? Que os termos estão sendo usados não em si mesmos, ou seja, enquanto conteúdo ideológico preciso, mas em relação à posição de outros partidos. Ainda que se mantenha o fundo comum de igualdade.

É por isso que lemos notícias de jornais com descrições do papel da direita ou da esquerda do socialismo chinês nos tempos de Mao-Tsé-Tung.

Direita e esquerda no século XX

A questão da igualdade que nasceu na Reforma Protestante foi aprofundada com a Revolução Francesa e com a Revolução Russa.

Com efeito, em 1917 tivemos a Revolução Bolchevista Russa. Pouco depois os revolucionários socialistas tentaram faze-la também na Alemanha. Fracassaram.

Mesmo assim, as notícias do que acontecia no regime de Lenin e as agitações socialistas assustaram amplos setores da sociedade europeia. Junto a isso tivemos os sérios problemas causados pela guerra e por falhas do liberalismo político e econômico.

Como resposta ao avanço do socialismo revolucionário bolchevista surgiram os fascistas e os nazistas. Nem por isso menos revolucionários.

Ambos, apesar de suas propostas também socialistas ou socializantes, por suas atitudes radicais e violentas, mas por se afirmarem nacionalistas e anticomunistas, passaram a ser chamados de extrema-direita.

Causas das confusões no debate moderno

Consideremos alguns pontos.

Ponto 1. 


Na lógica do que foi exposto costuma-se posicionar diferentes partidos políticos, da esquerda à direita, como se estivessem em uma linha.

Coloquemos nela os seguintes partidos:

Comunistas bolchevistas, Socialistas, Sociais Democratas, Democratas Liberais, Conservadores, Nazi-fascistas.

Nessa ordem a extrema esquerda seria o oposto absoluto da extrema direita. Fica-se com a impressão que nada têm em comum. Impressão falsa. Absolutamente falsa.

Imaginemos agora que dobramos a linha e a transformamos em um círculo. O que vai acontecer? os extremos se juntam. Ficam lado a lado.

Esta é a realidade quando examinamos o conteúdo das propostas e ações de socialistas comunistas e nazi-fascistas.

É neste sentido que é correto apontar as semelhanças e até identidades dos socialismos de direita e esquerda.

Assim sendo está absolutamente correta a afirmação de grandes historiadores e economistas (entre estes é importante destacar os da escola liberal austríaca, como Hayek e Mises), que apontam as semelhanças totalitárias entre tais extremos.

São também militaristas e inimigos da liberdade.

Na verdade o socialismo, não importa sua coloração - como destacou o Papa João Paulo II - tem uma visão completamente errada do homem e da Sociedade (Centesimus Annus).

Ponto 2.

A política objetiva o poder e o bem comum. O primeiro está sempre presente. O segundo, nem sempre.

A conquista do poder pode ser obtida por meios democráticos e honestos. Com frequência é feita com métodos maquiavélicos e manipuladores.

Na luta contemporânea temos, há muito tempo, a chamada guerra psicológica, usada em tempos de guerra e também na paz. Guerra que utiliza a manipulação da linguagem.

Quando se quer falar de manipulação recorda-se da famosa propaganda política de Goebells. Foi realmente muito eficiente. Curiosamente muito desse tipo de propaganda foi usado pelos dois lados.

No geral, não temo errar, a esquerda tem sido muito mais hábil nesse tipo de guerra. Ela conseguiu, por exemplo, apesar de todos os crimes que seus governos mais radicais cometeram, associar, fraudulentamente, seus ideais à democracia, à liberdade e ao progresso. Exemplo disso foi a pretensa luta democrática da esquerda brasileira contra a ditadura militar. O que seus militantes - pacíficos ou terroristas - queriam,  era uma ditadura totalitária de esquerda.

E a palavra fascismo?

No jogo político manipulador passou a ter um segundo significado. A esquerda o usa para criticar ou carimbar todo aquele que não comungue com determinadas ideias da esquerda. Fascista pode ser o autoritário, o conservador, o democrata cristão, o liberal, o social democrata e até mesmo o socialista que quer andar mais devagar...

Concluindo

Discussão sobre o assunto, para ser séria, tem que ser levando-se em conta propostas, ideologias, métodos do governo.

Fora disso, não perca seu tempo. É só bate-boca e xingatório.


PS.  No link que segue, do instituto von mises, podemos ver um texto que expõe as semelhanças entre socialismo comunista e nazi-fascismo


https://www.mises.org.br/article/2868/a-esquerda-anti-fascista-tem-muito-em-comum-com-os-fascistas-originais