sexta-feira, 17 de setembro de 2021

AS INCOERÊNCIAS REVOLUCIONÁRIAS

 






Valter de Oliveira

Fico pasmo com as incoerências e ilogicidades das correntes revolucionárias.

Você pode perguntar: -"Quem? Está falando da esquerda? Dos socialistas?

- Sim, dela e de seus predecessores. Iluministas, libertários, positivistas, marxistas, etc, etc. Todos, diga-se de passagem, em diferentes momentos se disseram revolucionários. São mesmo. Procuram implantar uma sociedade puramente humana, que nega o destino último do homem, e que, dentro do possível, imaginam que com tal pensamento conseguirão construir uma sociedade humana justa e solidária, fruto da evolução do mundo. A esquerda marxista, por exemplo, está sempre sonhando com um mundo novo e um homem novo. É um milenarismo político. 

Mas vamos ao ponto do artigo. Por que digo que são ilógicos e incoerentes?

Fake news e verdade

 Como todos sabemos uma das coisas mais faladas atualmente é a propagação de fake news (1). Esta passou a ser a heresia que assusta os revolucionários. Afinal, dizem, não há o direito de se propagar mentiras, falsidades. Especialmente contra eles...



Sei que eu e você, e milhões de cidadãos, de qualquer lugar do mundo, rejeitamos a mentira e a falsidade. Só que a imensa maioria não entra em discussões filosóficas sobre o assunto. Não se deve mentir! Menos ainda espalhar mentiras. E ponto final!

Eu diria que tal postura, do chamado senso comum, ou do bom senso, está conforme o direito natural. No meu caso eu diria que está de acordo com a filosofia católica, com a moral cristã. Para nós a verdade é objetiva. É o que ensina a visão aristotélica tomista. Conforme esta  algumas coisas deveriam ser proibidas. Ou, no máximo, toleradas. Exemplo: a pornografia e a prostituição. 

Mas, porém, todavia, contudo, entretanto, diversos filósofos revolucionários defendem que a verdade é subjetiva, ou relativa. Ou as duas coisas. 

Tal visão filosófica não ficou apenas nas páginas dos livros ou no coração e mentes de seus pensadores. Influenciou a política. Dominou-a. Cristalizou-se em leis. 

Qual o resultado?

Países tidos como amplamente democráticos - tidos como estados democráticos de direito - consideram que as liberdades de expressão, opinião, reunião são direitos assegurados por lei. 

Concordo. Desde que se entenda de forma adequada o que é liberdade e o que é democracia. A que sigo afirma que a liberdade não é absoluta. Ela está sempre ligada à verdade. 

Os revolucionários relativistas contemporâneos vão perguntar para mim e para você: -"Mas, o que é a verdade?". 

Tal como Pilatos eles dizem que não sabem. Também afirmam que o Estado não o sabe. O Estado não sabe o que é ética. (2)  Sendo assim, concluíram, a liberdade precisaria ser total. Pelo menos enquanto ficar no campo das ideias e das expressões. Daí que, pelo menos em alguns países, a suástica não é  proibida. Aliás, nem mesmo associações claramente nazistas são proibidas. Se pode haver propaganda de genocidas comunistas também deve ser livre a dos nazistas. 

Lembro ainda que nos países tidos como profundamente democráticos o satanismo pode ser praticado e propagado. 

Tudo isso é fruto do subjetivismo e do relativismo moral. 

Ok. Aí você entende porque não aceitariam um projeto meu, se fosse deputado federal, de proibir a pornografia. Ou que proibisse taxativamente a ideologia de gênero para crianças e adolescentes. Garanto que, se aprovasse, o STF viria correndo dizer que o texto aprovado feria a democracia e o estado democrático de direito. 

Assim é como se entende. Na maior parte do mundo laicista globalizado. Querem uma prova?

O caso Charlie Hebdo

Como é sabido o jornal francês era altamente polêmico. Abusado, pornográfico, insolente, fazia charges indignas contra muita gente. Não tiveram nenhum pejo em apresentar assim  um conclave de cardeais ou a Santíssima Trindade. Depois resolveram levar a indignidade para a seara muçulmana. O resultado foi trágico. Terroristas resolveram reagir criminosamente. E aí tivemos a tragédia que abalou a França. 

Tinham direito de fazer o que faziam? Podiam propagar tais ofensas? É direito de um grupo ofender tão dura e sacrilegamente fiéis do mundo inteiro?

Conforme minha visão de mundo, de democracia e de liberdade, não. Conforme os laicistas e relativistas do mundo inteiro, sim... (3)

Qual foi a reação?

Governantes e a quase totalidade da mídia levantou-se em peso. Milhões saíram às ruas, em todo o mundo, exclamando: "Je suis Charlie". 

A Wikipedia, neste caso 100% confiável, escreveu: "A frase "Je suis Charlie" (francês para "Eu sou Charlie") transformou-se em um sinal comum em todo o mundo, de prestar solidariedade contra os ataques e para a liberdade de expressão". [25]

 

Conclusão

Agora, ouvindo jornalistas da grande mídia, correntes políticas, ou membros do Judiciário, parece que todo mundo virou tomista. Coligaram-se libertários, sociais democratas e toda a esquerda. Toda a santidade laicista. São Tomás ficaria feliz. Mas ele sabe muito bem que por trás de pretenso amor à verdade temos um mundo de hipocrisia. 

Para todos eles podemos dizer que há coisas objetivamente más que devem ser desmascaradas, proibidas, combatidas. 

Só que aí começaram a considerar fake news o que não é. Ou melhor, algumas coisas realmente são falsas, outras não. 

Quem decide? Eles? dogmaticamente?

E como se combate fake news? Com a atuação do Judiciário?

É um caminho. Pode ser legítimo. Quem, como eu, defendo a verdade e a justiça penso que injúrias e calúnias devem ser punidas. Conforme a lei. Conforme a justiça. Respeitando-se o devido processo legal. 

E aqui entra um grande exemplo de contradição. O inquérito das fake news é arbitrário. Ele não segue nada disso. Assemelha-se a atos abusivos e autoritários permitidos no passado brasileiro. Passado que dizem abominar!

Até quando senhores revolucionários?

Notas:

1. Parece-me que o conceito de fake news ainda não está nas leis brasileiras. Se estiver enganado peço que me enviem o texto legal. 

2. Há alguns anos o governo iniciou um diálogo com pensadores católicos sobre o modo como se deveria pleitear direitos ou combater certas ideias. O governo não queria que se apelasse para o direito natural (tido por ele como muito ligado ao catolicismo) Dever-se-ia argumentar em nome do interesse coletivo. Visão pragmática revolucionária que pode levar a mil arbitrariedades jurídicas. O diálogo, que eu saiba, não teve frutos. Entrei na internet para procurar reações. O que vi foram reações furiosas de gente de segundo e terceiro escalão do governo que rejeitava até mesmo as conversas ocorridas.

3. Por amor à verdade é importante dizer que há defesas na lei contra tal tipo de injúria. O clero católico tem meios de processar todos os atos de profanação e sacrilégio  que certos manifestantes de esquerda praticam. Infelizmente ninguém se mexe.