terça-feira, 23 de dezembro de 2008




PODEMOS FICAR AQUI?


Paulo Henrique de Oliveira






Jesus nasce sempre. Ele é o “Oriens”, “o que nasce”, como nos diz a Sagrada Escritura. E ele nasce sempre que O queiramos em nossos corações. Peçamos essa graça. Uma graça nada mais é que uma jóia em uma caixinha. Para abri-la é necessária uma chave, que é a oração, e a pessoa que no-la abre é Maria. Estejamos, pois, lado a lado com Ela, abramos e contemplemos quantas caixas Deus quiser presentear-nos.

Cristo nasce. Nasce em uma cova prosaica, fria, esquecida. Por quê? Porque Ele o quis. Talvez porque Ele quisesse que fosse símbolo de todos nós, pobres pecadores. Nossa alma é como a gruta de Belém. Se é assim apresentemos a Ele este presépio virgem, talvez sombrio, para que nessa noite receba a Luz. E agora, relembremos o que houve naquela noite-dia e naquela cova-céu. Vamos observar, só observar. Em silêncio, com olhos bem abertos.

Há um homem caminhando em uma noite escura e silenciosa. As estrelas do firmamento emitem uma luz tênue e débil. O cheiro do mato é suave. O homem caminha solitário, deixando atrás de si uma mulher grávida e seu jumentinho. Tem em uma das mãos um cajado alto com uma ponta retorcida. A que toca o chão está lascada pelas longas jornadas. Caminha pressuroso a uma gruta, a uma cova que vê à sua frente. Não sabe o que encontrará ali, quiçá um chacal, quiçá um lobo, quiçá ladrões. Teme, mas avança, pois sua missão é muito maior que seu temor. Ao entrar nela uma luz, vinda não se sabe de onde, ilumina seu rosto e o inóspito lugar. Ao passar entre as estalactites, sente que há palha cobrindo parte da terra fria, e em um canto, observa que há um boi e um burro. Eles o olham. Ele olha para eles. A luz dá vida ao seu rosto e desvela uma face formosa, viril. Seu olhar belo, sereno, profundo observa cuidadosamente cada detalhe da cova. Ali, só os dois animais vêem que os olhos daquele homem estão marejados de lágrimas. Pela cabeça daquele homem passam muitas idéias, muitas imagens. Sabe quantas mulheres morrem ao dar à luz, mesmo tendo a ajuda de uma parteira. E ele sequer poderá dar isso à sua amada. Sequer isso... Observa o musgo que cresce ao redor das fendas feitas pela água que corre serpenteando em uma das extremidades da gruta. Sente o cheiro dos animais. Também está cansado. O cansaço, o forte odor do lugar, o vento frio, fazem perder forças e apoiar-se em seu cajado. Olha para a entrada da gruta e vê o céu. Seu coração se revigora e ele se endireita. Ele pensa: ali terá que nascer o filho de Deus, naquela cova, em um estábulo de animais... Ele então se aproxima do burro, afaga-lhe a fronte e com os dedos acariciando seu pelo olha também para o boi e diz: “Amigos, podemos ficar aqui? É que na cidade não há lugar para nós (e lhe rolavam as lágrimas), não há lugar para nós”...

Esses animais serão testemunhas de grandes coisas. Viram o choro de José. Pouco depois o choro de Maria. Finalmente, com o choro da Virgem, vai brotar um ainda mais doce, o primeiro choro de Deus. O bebê nasceu, e José o repousa nos braços fatigados de sua mãe enquanto sai apressado a buscar água para limpar o Menino. Maria tem então uma cena maravilhosa ante seus olhos: o Menino ensangüentado em seus braços... Maria representa a humanidade e contempla seu sangue no Menino Jesus coberto com o sangue da humanidade. Essa cena haverá de repetir-se mais uma vez, no Calvário, mas, dessa vez, será a humanidade que estará coberta com o sangue de Cristo...

Aqueles pobres animais só contemplam. O burro vê José colocar algo na manjedoura e se levanta, dirigindo-se alegremente ao seu lugar habitual de alimentação. Mas, ao chegar não encontra ração, encontra Deus. Ele vê Deus. Talvez, como vemos na vida de S. Antonio de Pádua, ele tenha se ajoelhado diante de Cristo. Gosto de pensar que sim. E Maria lhe sorriu. Que cena inenarrável de humildade. Deus num presépio em um “prato” de animais. Sim, ali está Deus, pronto para ser devorado. Poderia haver mais bela figura eucarística que esta?

Dessa mesma maneira Cristo vem aos nossos refúgios que chamamos coração. E muitas vezes somos como esses animais e Maria O repousa em nossos corações para que possamos nos alimentar de Sua carne e dignificar nossas almas. Afinal, que é uma manjedoura, um presépio, um coração sem Deus? E com Ele, o que é? Aprendamos com esses animais a escolher a Deus ou à ração de nossas paixões desordenadas. Ou Deus ou elas... Escolhamos... Mas escolhamos com sabedoria. Oh! Se tivéssemos essa boa vontade que cantavam os anjos! Ele habitaria muito mais em nossas almas! Reflitamos, pois, porque Cristo não escolhe palácios. Ele prefere os lugares sujos, miseráveis, frios, escuros... Gosta de nossos corações... E para quê? Para convertê-los, purificá-los, aquecê-los, iluminá-los, divinizá-los. Façamos nossa parte. Imitemos Maria. Saibamos dizer uma simples palavra: Sim!

Se assim fizermos, meus caros amigos, não tenhamos dúvida. A Virgem fará de nossas almas um eterno Natal.



Paulo Henrique de Oliveira, 23, é meu filho, diretor de produção e pesquisador da Oliver, Empreendimento Educacionais.

Eu, minha esposa Sonia, e todos os meus filhos, Maria Theresa, Paulo Henrique, Helena Cristina, Ricardo Luís, Marcelo Augusto, Anna Cecília e Rafael Henrique, desejamos a todos Um Natal muitíssimo abençoado e um Ano Novo pleno de realizações e felicidades.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008



ENSINO, DOUTRINAÇÃO, MANIPULAÇÃO

Valter de Oliveira


Quando se fala em doutrinação muita gente pensa nos movimentos totalitários, seja o nazi-fascista, seja o socialista marxista. E está correto. Tais movimentos são brutalmente doutrinadores.

Contudo, a doutrinação é um fenômeno muito mais amplo. Nós a encontramos entre totalitários e liberais, nas ditaduras e nas democracias, nos meios laicistas e nas fileiras cristãs. E isso acontece toda vez que se tem uma visão errada do ensino, da educação, e, principalmente, do homem. Em vários momentos de minha vida tive que enfrentá-la. E, para surpresa minha, não só no campo do adversário. O que senti na pele encontrei bem descrito na pena de um escritor francês.

Há muitos anos, quando iniciei meu curso de mestrado na USP encontrei na livraria do prédio de História um pequeno livro, “A Doutrinação”, de Olivier Reboul (1). Gostei tanto que, na semana seguinte, comprei uns dez exemplares e os distribuí entre meus amigos. O artigo de hoje é, simplesmente, cópia de algumas páginas deste livro. O texto dispensa comentários.

Na introdução da obra Olivier Reboul faz as seguintes considerações:

“Interrogarmo-nos sobre a doutrinação é maneira de refletir acerca do ensino. Maneira um pouco perversa, sem dúvida, mas muito eficaz. Pois, se o termo “doutrinar” é pejorativo, é com referência a certo tipo de ensino tido como válido, e cujos critérios permitem, em compensação, definir a doutrinação e condená-la.

É evidente que a maneira pela qual um autor define a doutrinação depende de sua própria doutrina. Adiantemos, pois, desde já, os dois postulados fundamentais de todo este livro.

O primeiro é que um ensino verdadeiro tem por fim, qualquer que seja seu conteúdo, formar seres adultos: seres capazes de assumir sua responsabilidade e manter seu compromisso, pensar por si mesmos, respeitar os fatos, ainda quando vão contra sua vontade, e ouvir os outros, ainda quando os contradigam. Todo ensino que se afasta desse fim me parece contra-ensino.

O segundo é que um ensino verdadeiro não poderia ser neutro. Certamente, não pretendo que o professor tenha o dever, ou mesmo o direito, de fazer propaganda em classe, nem de procurar “converter” seus alunos. Há, porém, algo mais triste que um professor tendencioso: é um professor entediante. O primeiro pode vir a influenciar os alunos, o segundo se arrisca a aborrecê-los, o que é, no final, a pior influência. Eis um postulado que os administradores de todos os países dificilmente admitirão, menos preocupados que estão em ter mestres interessantes que em ter paz. Mas, se devessem um dia voltar à escola, que espécie de mestre desejariam: o tendencioso ou o enfadonho?

Dir-se-á que a questão se apresenta diversamente com crianças, a quem se trata, antes de tudo, de “preservar”. Mas de quê: de doutrinas perigosas ou do direito de ser informado, de refletir, de tornar-se maior?

Meus dois postulados subentendem este livro todo, o qual deverá, em compensação, não somente justificá-los, mas conciliá-los, mostrar que, em realidade, são apenas um. Ou que podemos ser liberais sem ser neutros.” (Introdução, XV, XVI)

Depois de explicar três abordagens do problema (a do sentimento popular que associa doutrinação às suas formas extremas, a literatura filosófica anglo-saxônica, individualista, liberal, positivista, e, finalmente, a filosofia educacional francesa para quem a questão da doutrinação não se apresenta ao nível das relações individuais e, sim, das instituições, Reboul vai fazer sua reflexão acadêmica procurando um caminho diferente dessas duas escolas.

No capítulo primeiro, intitulado “UMA PERVERSÃO DO ENSINO” ele vai procurar distinguir a doutrinação de outras formas de manipulação como a propaganda e o condicionamento. Para isso ele examina casos inegáveis de doutrinação. Cita treze (2).


Mentira, Sinceridade, Má fé

Depois de discutir a questão da intencionalidade da doutrinação Reboul discute a sinceridade do doutrinador.

“Neste caso, mais que de intenção, antes caberia falar de self-deception, da má fé no sentido sartriano. Quando doutrinamos, ignoramos o que fazemos. E a ignorância é, paradoxalmente, voluntária, no sentido em que se diz: “Não quero saber disso!”. Essa ignorância desejada apresenta dois aspectos:

1. O doutrinador está a tal ponto convencido daquilo que prega, que admite certa distorção da verdade para convencer os outros da veracidade de sua causa. Assim, pode esconder certos fatos contrários à sua doutrina por pensar que ela o merece; igualmente, pode defender certos aspectos de sua doutrina que lhe repugnam in petto; assim, esse catequista que ensina o culto dos santos sem crer nele; esse stalinista que, embora chocado pelo culto da personalidade, justifica-o “para não dar o flanco ao adversário”. Em suma, pensamos, (sinceramente) que o fim justifica os meios, que o valor da causa faz, das mentiras que exige, mentiras piedosas. Mentiras pedagógicas!”

2. “No mais das vezes, o doutrinador ignora totalmente que doutrina. É que abafa em si mesmo as objeções antes de abafá-las nos outros; é tanto mais fanático quanto menos seguro do que ensina; se mente, é, em primeiro lugar, a si mesmo. Tal é a má fé: sinceridade adquirida com o enganar-se a si mesmo, com o abafar, em si, o que seria necessário de lucidez e de espírito crítico para mudar de opinião. Mostra que a palavra “sinceridade” não tem o mesmo sentido que a palavra “honestidade”.”


O doutrinador doutrinado

A seguir Reboul explica um pouco mais o que entende por sinceridade do doutrinador. Citemos dois de seus argumentos:

1. Primeiro, o próprio doutrinador é doutrinado. Ao menos, quase sempre. Dir-se-á que esse não é o caso quanto ao inventor de uma doutrina. E, entretanto, esta é, sempre, síntese de elementos preexistentes, inculcados, de uma forma ou de outra, ao doutrinário. Hitler havia bebido seu nacionalismo pan-germanista, seu anti-semitismo, seu culto da força nos meios racistas e chauvinistas de antes de 1914.

2. De outra parte, quando se fala de doutrinação, costuma-se esqec demais a responsabilidade dos que a sofrem. Está, sem dúvida, ausente nas criancinhas. Mas quanto adolescente, quanto adulto continua bem infantil para engolir um pensamento pronto e acabado que os libera da dificuldade de refletir e da angústia de duvidar! Quantos, em qualquer idade, buscam um guia, um chefe, um pai, que os livre do fardo de pensar por si mesmos, de querer por si mesmos, de ser eles mesmos! Muito homem “pede” para ser doutrinado; e a doutrinação vinga tanto pela preguiça e pela covardia de suas vítimas quanto pela má fé de seus autores. O doutrinador mais perigoso é a criança que permanece no homem e, como diz o poeta, impõe a lei ao homem: And thus the child imposes on the man.

Retrato do doutrinado

“Desde que julgamos a doutrinação pelo resultado, podemos terminar por um retrato do doutrinado: o retrato-robô de uma espécie de robô! Reconhecemo-lo, com efeito, por certos traços que permanecem constantes, qualquer que seja a doutrina.

O primeiro é a tendência a mascarar os fatos que o contrariam, e mascará-los aos próprios olhos.

O segundo é o caráter unilateral de seus argumentos; não é homem que pese o pró e o contra; ou tudo é pró, ou tudo é contra.

O terceiro não é a ausência de lógica, mas o caráter sofístico de sua lógica; petições de princípio, raciocínios ilegítimos, equívocos dos termos utilizados, etc.

O quarto é o recurso à retórica, precisamente para mascarar as falhas de sua lógica; a metáfora, o eufemismo, a hipérbole são suas figuras favoritas) (Quanto a mais indicações precisas, permito-me remeter a meu livro Le slogan, “Complexe”, PUF, 1975, cap. II).

O quinto é o aspecto rígido de sua linguagem, o abuso de fórmulas feitas, dos lugares comuns, dos slogans, tidos por evidências; pensa por “pensamentos” de confecção” (Cf. ibid., cap. III).

O sexto, que explica os precedentes, é o receio de duvidar, de “mudar de idéias”, de não ter razão, de não saber: o receio de pensar.

O sétimo, que decorre do precedente, é o ódio de todos que podem perturbar-lhes as certezas, de todos que pensam.

O oitavo é certo maniqueísmo a respeito dos valores, das doutrinas ou dos homens que as encarnam; para ele, tudo quanto não é branco é negro, tudo quanto não é verdadeiro é falso, etc.

O nono é a ausência de auto-crítica, de recuo de si mesmo; pode, sem dúvida, dar prova de espírito crítico muito sutil, sempre, contudo, a respeito do adversário.

O décimo é a confusão constante entre a ordem da força e a ordem da razão, entre a chantagem e o argumento, entre a submissão e a adesão, entre o fato de vencer e o fato de convencer.

O décimo primeiro é certo desprezo do homem; o homem nunca passa, para ele, de um meio de servir à sua causa ou de um obstáculo que ele precisa afastar.

O décimo segundo é a ausência de humor... (p. 83,84)


Na segunda parte de seu livro Olivier Reboul exemplifica com a doutrinação feita na China de Mao, a doutrinação feita por seitas religiosas e, em seguida, analisa a doutrinação hitlerista.

Finalmente é discutida a questão da doutrinação nas sociedades ditas democráticas e alerta-nos para o risco do que muitos entendem por “educação total”.

Quem encontrar o livro leia, vale a pena!


1. REBOUL, Olivier. A Doutrinação. Companhia Editora Nacional/Edusp.São
São Paulo, 1980

Professor da Universidade de Ciências Humanas da Universidade de Estrasburgo – Especialista em Filosofia da Educação.

2. São os seguintes:

01. Ensinar doutrina perniciosa
02. Utilizar o ensino para fazer propaganda partidária
03. Fazer aprender sem compreender aquilo que deveria ser compreendido.
04. Utilizar, para ensinar, o argumento de autoridade.
05. Ensinar com base em preconceitos.
06. Ensinar com base numa doutrina como se fosse a única possível.
07. Ensinar como científico aquilo que não o é.
08. Não ensinar senão os fatos favoráveis à sua doutrina.
09. Falsificar os fatos para apoiar a doutrina.
10. Selecionar arbitrariamente esta ou aquela parte do programa de estudos
11. Exaltar, no ensino, determinado valor em detrimento dos outros.
12. Propagar o ódio por meio do ensino.
13. Impor a crença pela violência.

Mais para frente vamos comentar alguns deles.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008




MORAL MARXISTA: A PRÁTICA

Valter de Oliveira


Em artigos anteriores procurei mostrar que a esquerda brasileira, e em especial o PT, tem uma visão da moralidade das ações humanas baseada no relativismo marxista. Afirmei também que esta visão da moral que estão implantando na sociedade e na legislação brasileiras, é uma verdadeira revolução cultural conforme o modelo do marxista italiano Antonio Gramsci. (1)

Esta visão, que é desconhecida do grande público, entra violentamente em choque com aquilo que o cidadão comum pensa ser ético.

Vamos aos fatos.

1. O povo e o terrorismo.

O que pensa o cidadão comum sobre o terrorismo? É fácil responder. Basta perguntar ao seu vizinho, a seus amigos, ao vendedor de hot-dog da esquina. Todos vão considerá-lo criminoso. Ninguém entende porque inocentes devem morrer por causa de razões políticas, religiosas ou quaisquer outras. Não importa se quem pratica as ações são separatistas bascos, fanáticos da Al-Qaeda, narco-marxistas das FARC ou pretensos católicos do IRA. Havendo atentados a indignação popular é geral.

2. Mas há exceções.

Onde? Nas cátedras universitárias, setores da mídia, e em certos partidos políticos. É a “intelectualidade” revolucionária. Temos muitos exemplos deles no governo atual. Para estes, o terrorismo – e também a tortura – só são crimes, se forem usados contra militantes da esquerda.

3 – A Lei da Anistia

Como é sabido, Em agosto de 1979, o governo FigueiredoGeisel, promulgou a lei da Anistia que tinha por características ser “ampla, geral e irrestrita”. Entendeu-se que aí estavam incluídos crimes praticados por ambos os lados. Teríamos, assim, a volta dos exilados e condições para o retorno à democracia em mãos de civis.

No poder, setores da esquerda entenderam que a interpretação da lei deveria ser outra. O ministro da Justiça, Tarso Genro, e o secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, colocaram-se como expoentes desta posição. O PT os apoiou. Passaram a advogar o julgamento dos torturadores que, no mínimo, deveriam ser obrigados a reconhecer publicamente seus crimes e retratar-se deles. Os mais radicais pediam punições. A polêmica pegou fogo. Lula, como sempre, fez de conta que não tinha nada a ver com o peixe. No máximo disse que era problema para o STF resolver.

Tarso Genro e Vannuchi não arredaram pé. Citando legislação internacional afirmaram: o crime de tortura é imprescritível!

Com tanto barulho oficiais da reserva das Forças Armadas reagiram. “Se é para julgar crimes vale para os dois lados. Tem muita gente no governo que vai ter problemas.”

Quando a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, também disse que “os torturadores do período de regime militar não são beneficiados pela lei da anistia”, a imprensa foi perguntar ao presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, o que ele pensava da declaração dela. Sua resposta foi:

“Os crimes de terrorismo são imprescritíveis, assim como os delitos de tortura (...)” (2)

O debate esquentou na mídia. Começaram a divulgar as proezas de Dilma como terrorista.

E o que fez a esquerda? A do PT, boazinha, aburguesada, que adora whisky e festa no arraial do Planalto, saiu em defesa dos companheiros. Seguiu a cartilha de Lênin. Desmascarou-se. Eis o texto:

Executiva Nacional do PT texto oficial de 07 de novembro de 2008.
Nota sobre a Tortura, Anistia e Direitos Humanos

O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores reafirma as resoluções sobre Direitos Humanos aprovadas no 3º. Congresso Nacional do PT:

a) crimes contra a humanidade não prescrevem;

b) a Lei da Anistia de 1979 não beneficia quem cometeu crimes como a tortura nem impede o debate público, a busca da verdade e da Justiça;

c) a punição aos violadores de direitos humanos é tarefa da Justiça brasileira. Esperamos que o Poder Judiciário atenda aos reclamos das vitimas, especialmente dos familiares de mortos e desaparecidos.

O Diretório Nacional repudia os ataques difamatórios feitos por setores conservadores e antidemocráticos contra os companheiros Paulo Vannucchi e Tarso Genro no exercício do dever oficial de promover o debate público. Ainda, repudia os ataques e as tentativas de descaracterização da militância política dos companheiros Dilma Roussef e Franklin Martins quando da LEGÍTIMA RESISTÊNCIA ao regime ditatorial ao lado de outros milhares de perseguidos políticos. (Destaque nosso)

Cabe ao Governo Brasileiro seguir defendendo, coerentemente, o repúdio à tortura. Cabe ao Poder Judiciário pronunciar-se definitivamente sobre a matéria, de acordo com os princípios de direitos reconhecidos universalmente.

Aí está a caracterização da moral ou da ética política de amplos setores de nossa esquerda. Torturar um militante esquerdista fere os direitos humanos. Seqüestrar, justiçar, matar militares ou executar civis inocentes em atentados terroristas, não. O militante luta pela revolução, pelo partido, pela causa, pelo proletariado. É legítima defesa. É luta contra o Estado da classe dominante. Não viola os inalienáveis direitos da pessoa humana.

Curioso que os terroristas e guerrilheiros, no Brasil e no mundo, jamais perguntaram à s suas sociedades se estas queriam ser defendidas com o derramamento de sangue inocente. Não precisa. Eles são os iluminados. Conhecem o marxismo científico. E podem mentir, roubar, matar.

Terminemos com algumas perguntinhas:

1. Se os governantes que permitem ou aplicam a tortura cometem crime imprescritível o PT vai começar uma campanha mundial pela punição de torturadores cubanos, vietnamitas, russos e chineses?

2. Se torturadores são tão abjetos, por que o entusiasmo de Lula e Dilma pelo General Giap e Ho Chi Mihn? Será que soldados americanos e franceses foram tratados com a dignidade exigida pela Convenção de Genebra? (3)

3. Se é abominável torturar terroristas e guerrilheiros que assassinaram inocentes não é também monstruosa a tortura contra os que são totalmente inocentes? Neste caso porque os ideólogos da esquerda defendem o aborto que poderia ser realizado inclusive em estágio de gravidez avançada? E até ao nascer, como é defendida pelas feministas radicais aninhadas nos partidos e movimentos de esquerda? Despedaçar tais crianças, jogar ácido nelas, arrancar-lhes o cérebro, não é tortura? Tal barbaridade não é crime imprescritível?

E a “intelectualidade” na mídia e nos livros didáticos continuam nos garantindo que revolucionários marxistas são humanistas. Haja doutrinação!

PS: Vou mandar as questões para o blog do Zé Dirceu. Talvez também para o ministro Tarso Genro. Vocês acham que eles vão me responder?

1. Falaremos sobre a revolução gramsciana em breve
2. Comparem com a postura do Papa João Paulo II que condenou o terrorismo do IRA.
3. Por Chico de Gois - O Globo - 11/07/2008 Lula pede para herói da Guerra do Vietnã tire foto com Dilma


HANÓI (Vietnã) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva no encontro com o general Vo Nguyen Giap, herói nacional e principal estrategista do Vietnã nas guerras pela independência da França e contra os Estados Unidos, pediu que ele aceitasse tirar uma foto ao lado da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a quem Lula descreveu como uma das adoradoras do líder de 97 anos.

- Queria pedir um favor - começou Lula, dirigindo-se a Vo Nguyen Giap.

- Aquela moça (apontado para Dilma) é minha ministra do Brasil, foi na sua juventude militante de esquerda, ficou três anos e meio na cadeia e ela tem pelo senhor uma verdadeira adoração - apresentou o presidente.

Dilma, que até então se mostrava séria, e cuja presença no Vietnã ainda era uma incógnita, esboçou um leve sorriso, entre feliz e encabulada. Levantou-se, dirigiu-se ao velho líder e deu-lhe dois beijos na face.
(Não é encantador?... que impacto teria na mídia se os beijinhos fossem em Pinochet?)

domingo, 7 de dezembro de 2008



JÓ E O HOMEM DO RIFLE

Valter de Oliveira



Tinha por volta de uns 14 anos. Assistia sozinho um seriado de televisão: “O Homem do Rifle”. Chuck Connors era o ator que representava Lucas Mccain, um vaqueiro que vivia com seu filho, ainda menino, em algum lugar do velho oeste. Por alguma razão, que não me lembro, o garoto estava triste. Talvez estivesse com dificuldades em entender as injustiças e misérias deste mundo. O pai sentou-se ao lado dele e começou a contar uma história. Era a história de Jó. Foi a primeira vez que eu a ouvi. Foi curta, como acontece nos filmes. Mas foi o suficiente para me marcar e me encher de encanto por um livro encantador da Sagrada Escritura. Parece que ainda sinto a voz de Connors dizer em voz grave e terna:


-Havia um homem na terra de Hus, que era justo e reto. Amava a Deus e detestava o mal...

Deus permitiu que o demônio o tocasse e perdesse todos os seus bens, até seus filhos e filhas. E no meio da dor, arruinado, Jó exclamou: “Deus me deu, Deus me tirou, bendito seja o nome de Deus.” Fiquei petrificado e extasiado. Curioso que eu não praticava minha fé. Nem mesmo tinha feito minha primeira comunhão.

Passaram-se alguns anos. Aos 16, comunguei. Aos 17 recebi o Crisma. Foi então que comecei a ver cada vez mais a beleza divina da Igreja. E um belo dia, já por volta de meus 20 anos, voltei a ouvir a história de Jó. Agora de forma mais profunda, mais bela, baseada no “De moralis” de S. Gregório Magno. E, por alguma razão, ficou em minha mente uma outra frase (1) que Jó teria dito aos amigos que o criticavam. Ele, todo chagado, simbolizando Cristo, sentado sobre um monte de escombros, raspando suas feridas com um pedaço de telha, teria exclamado:

“Bendito o dia que me viu nascer, benditas as estrelas que me viram pequenino! Bendito o dia em que se disse: nasceu um varão”

Por que estou aqui, tantos anos depois, a confidenciar meus sentimentos?

Porque creio que é uma imensa lição de vida. Como é belo saber enfrentar a dor, como é grandioso saber carregar a cruz. Aceitar o fardo inevitável. Dobrar-se sob seu peso, mas não quebrar. Receber recriminações, injustiças, abandono. Não temer nem o desprezo nem o esquecimento. E continuar sendo íntegro e reto. “Reparaste em meu servo Jó, que não há igual a ele?”

Ainda agora, em nosso Brasil, tivemos o exemplo de tantas pessoas que muito perderam. Alguns, como Jó, perderam não só seus bens adquiridos com tanto esforço e luta, mas também seus entes mais queridos. Todos vimos imagens muito fortes, de muita dor. Vimos pessoas esperando contra toda a esperança. Homens e mulheres que tinham fé que iriam recomeçar suas vidas. Vi realmente muitas lágrimas. Não vi revolta. Por mais que tenham sido tentados. E por isso creio, que com a ajuda de seus irmãos por todo o Brasil, com nossas orações, também serão recompensados como Jó.



Mas, em nosso mundo há outros males. Eles também pesam sobre nós. Falo da injustiça fruto de tantas indiferenças, da imoralidade que campeia, do aparente triunfo revolucionário de todos os que defendem a cultura da morte. Eles são astutos. Sabem o que querem. Têm por estratégia pintar o mundo pior do que é. E criam um manto de fuligem que cobre nossas almas e convida-nos ao desânimo.

Vamos sucumbir?

Tenho visto homens e mulheres vergados sob o peso de suas preocupações morais. Há poucos dias vi um homem cheio de energia, mas muito preocupado, perguntar quase aflito: “que mundo vamos legar a nossos filhos?” E vi também um senhor já avançado em anos, figura respeitável, desses que é capaz de dar com alegria a vida por seu país e por seu povo indagar: “Haverá tempo para fazermos o que deve ser feito?”

O tempo é a vida de cada um de nós. E temos que preenchê-la de sentido.

Creio que é bom lembrar-se de Jó e seguir seu exemplo. É preciso saber entender a dor, ver e não temer o mal. Manter a fé, a esperança, a caridade. Saber ver sob as aparências. Somos testemunhas disso. Há junto de nós exemplos de dedicação, de honestidade, de humildade, e de entregas que são exemplares. Olhemos nossa esposa e nossos filhos; nossos amigos e colegas, até desconhecidos, cujas virtudes conheceremos só no fim dos tempos. Sim, sem dúvida, há muito mais bem sendo feito do que imaginamos.

Por tudo isso temos que manter o otimismo e a alegria de quem ama o bem. Lutar por um mundo mais justo e mais fraterno é dever de todos nós. Luta que só tem verdadeiro valor se for iniciada em nós mesmos. Combatendo nosso egoísmo e nosso amor próprio; na epopéia do dia a dia, do dever cumprido a cada momento. Quem passa a vida lutando pelo bem é sempre vitorioso, ainda que morra no campo de batalha.

Que o exemplo de Jó anime a todos nós. Que todos possamos um dia exclamar:

Bendito o dia que nos viu nascer, benditas as estrelas que nos viram pequeninos!



(1). Não encontrei a frase no livro de Jó. Contudo, ela corresponde perfeitamente ao espírito do grande patriarca. De qualquer modo tem sempre me ajudado. E muito!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008


MORAL MARXISTA: A TEORIA


Valter de Oliveira


No artigo “Política e Eleições” escrevi que a esquerda se utilizou e se utiliza do discurso ético para manipular a opinião pública e atingir seus objetivos.

Em geral sabemos que os políticos e os partidos, em geral, atuam de forma maquiavélica. O importante é alcançar o poder e permanecer nele.

Em relação à esquerda muita gente esqueceu que eles também são maquiavélicos. E, ingenuamente, acreditou que eles tinham um verdadeiro discurso ético. Poucos leram sobre a ética ou a moral pregada pelos partidos de esquerda e pelo marxismo.

Na ocasião comentei que se quisermos saber o que eles defendem basta consultar o que seus mentores ou inspiradores escrevem.

Nosso objetivo hoje é simples: mostrar a visão marxista de moral. Para isso, inicialmente, vamos explicar um dos pontos importantes do materialismo histórico de Marx: a afirmação que a infra-estrutura determina a supra-estrutura.

E o que é a infra-estrutura?

É a base econômica da sociedade, ou seja, as forças produtivas (instrumentos, experiências e hábitos de trabalho), mais as relações de produção (as relações instaladas entre os homens, como, por exemplo, o escravismo ou o trabalho assalariado).

E a supra-estrutura?

Conforme Marx ela é formada por todas as ideologias, ou seja, as opiniões políticas, jurídicas, religiosas e artísticas de uma época mais todas as instituições correspondentes: as leis, os partidos, o Estado, a Arte, a Igreja.

O autor do manifesto comunista afirma que as supra-estruturas correspondem à base social que as produziram e são seu reflexo e expressão. Assim, as idéias de lei natural (que nós defendemos), moral, direito, etc, são supra-estruturas que mudam com o mudar da base econômica e, portanto não tem nenhum valor perene. Tudo muda, tudo é relativo.

Na realidade, para Marx as supra-estruturas existentes em uma época determinada correspondem ao pensamento e aos interesses da classe dominante. Por isso, em geral, as supra-estruturas são conservadoras.

Nesta lógica a classe opressora cria a sua moral. A que temos hoje seria a moral burguesa, defensora dos interesses da classe dominante. Cabe aos defensores do povo – os socialistas, conforme Marx – desmascarar a ideologia burguesa conscientizando os oprimidos para que lutem contra os exploradores. É a teoria da luta de classes.

É bom observar que, na concepção marxista, o mais importante não são as idéias, e sim as mudanças que ocorrem necessariamente na base econômica. Estas é que vão mover e determinar a evolução da História que caminharia inexoravelmente para o socialismo, o comunismo e a anarquia. O que o homem pode fazer é lutar para acelerar este processo. Esta seria a missão dos revolucionários. Não basta esperar o socialismo que fatalmente virá. “Quem sabe, faz a hora, não espera acontecer”.

Aqui vem a questão crucial. Supondo que este objetivo revolucionário seja realmente um bem para a humanidade, que meios podem ser usados para alcançá-lo?

Diz Marx:

“Os comunistas desdenham a dissimulação de suas idéias e projetos. Declaram abertamente que não podem atingir seus objetivos senão com a destruição pela violência da antiga ordem social. Que as classes dirigentes tremam à idéia de uma revolução comunista! (1)

Manifesto Comunista


Um ano antes, em Miséria da Filosofia, ele escreveu:

“(...) Até lá, à véspera de cada recomposição geral da sociedade, a última palavra será sempre: “o combate ou a morte: a luta sanguinária ou o nada. É assim que a questão é colocada irresistivelmente”. (2).

Lênin vai ser ainda mais explícito. Ele pergunta:

“Existe uma moral comunista?”

“Sem dúvida. Imaginamos frequentemente que não temos nossa moral própria, e a burguesia, nos reprova, muitas vezes, (...) de repudiar toda a moral.

Em que sentido repudiamos a moral?

“No sentido da moral pregada pela burguesia, que a deduz dos mandamentos de Deus. (...) nós rejeitamos toda moral desse tipo. Dizemos que ela não é mais que mentira e engano (...) Nossa moral depende dos interesses da luta da classe operária.”
(3)

Lojacono cita um texto ainda mais claro:

“Moral é o que é útil e serve ao partido comunista. Para fornecer atividade comunista de qualquer forma é preciso estar pronto a qualquer sacrifício, também a usar métodos ilegais e a esconder a verdade” (4) (Lênin, Der Radikalismus)

Creio que é desnecessário dizer que tais idéias “morais” foram responsáveis por todas as barbaridades praticadas por marxistas no transcorrer da História. Atos terroristas, campos de concentração, fuzilamento de antigos companheiros, modificação dos manuais de História, extermínio sistemático de populações inteiras, genocídios na África.

Alguém dirá: Mas isto é passado. É coisa do totalitarismo soviético. Morreu com Lênin e Stalin.

Infelizmente não é assim. Muitos dos grandes criminosos marxistas continuam sendo cultuados. Pior: é este falso conceito de moral que está sendo inoculado em amplos setores da sociedade e na legislação de nosso país. O que estamos tendo é uma verdadeira revolução cultural marxista gramsciana liderada pelo PT.

Em próximo artigo veremos a prática da “moral” marxista. Seja curioso (às vezes é bom) e aguarde...

Notas

1. Manifesto Comunista.

2. Karl Marx, Miséria da Filosofia (1847) in, PIETTRE, André. Marxismo, Zahar, RJ, 1969, pág, 278,

3 Lênin, sobre a religião
Discurso no dia 2 de outubro de 1920, no terceiro congresso da Juventude comunista russa, in Reale, G. Historia da Filosofia 6, São Paulo, Paulus, 2006, p.463.

4. Lênin, Der Radikalismus, in LOJACONO, Jorge, O Marxismo, Paulinas, SP, 1968, pág. 108.