domingo, 29 de março de 2020

DSI. BEM COMUM. RESPONSABILIDADE. BENS PARTICULARES



A RESPONSABILIDADE PELO BEM COMUM


Geralmente dizemos que o bem comum é obrigação do Estado. Também, como dissemos, afirma-se que é obrigação da sociedade. Tudo correto.

A DSI ensina claramente:


  • "O bem comum empenha todos os membros da sociedade: ninguém está escusado de colaborar, de acordo com as próprias possibilidades, na sua busca e no seu desenvolvimento" (1)
Fácil? Não!

         "O bem comum correspondente às mais elevadas inclinações do homem, mas é um bem árduo de alcançar, porque exige a capacidade e a busca constante do bem de outrem como se fossem próprio" (2)


RELAÇÃO ENTRE BENS COMUNS E BENS PARTICULARES

Sem a preocupação com o bem comum, sem que este fosse um objetivo, ficaria difícil, em grau maior ou menor, a conservação e o desenvolvimento dos bens particulares. Na verdade tem que haver entre todos uma interação harmoniosa. O Estado tem por fim o bem comum, mas não pode violar ou ser hostil aos bens de cada um de nós. Se ele cumpre com sua função é evidente que, no conjunto, ele favorece os bens particulares.
 
Colaboramos com o poder público e com a sociedade quando atuamos em benefício desta, em toda a medida do possível, de acordo com nossas situações concretas.

A SOCIEDADE DEVE ATENDER EM IGUAL MEDIDA A TODOS OS CIDADÃOS?

Não. Isso por um princípio de justiça. Esta exige que se dê a cada um aquilo que ele merece ou tem direito. Aqui entra uma ideia importante: conciliar a igualdade fundamental ou essencial de todos os homens com o princípio da desigualdade proporcional de vantagens e ônus. 

O que significa isso?

Muito simples: Os que são maiores (em todos os sentidos), ou seja, pessoas, famílias, classes, associações, dentro da sociedade ou do Estado, são os que mais devem fazer por ela ou por ele.. É o que comumente entendemos por "opção preferencial pelos pobres". Na prática significa proteger e ajudar quem mais precisa em um momento concreto. Por isso existem legislações que "privilegiam"  idosos, deficientes, pessoas em situação de risco, etc.

Nesta lógica, observando-se a situação crítica de muitos países do mundo que tiveram políticas econômicas gravemente nocivas a seus povos, é que se entendem reformas, como as da Previdência e outras que visam evitar males futuros muito graves. O grande problema é que setores que se transformaram em oligarquias, nos três poderes do Estado, são os que mais rejeitam cortar na própria carne. Atitude visceralmente contrária ao ensinamento e ao espírito da doutrina social da Igreja.

Por outro lado, quando os que têm mais poder cumprem suas funções também têm direitos especiais proporcionados, o que inclui serem respeitados e honrados pelas comunidades. Política feita no sentido mais nobre representa um papel funcional de primeira grandeza para o bem comum. 

Em uma guerra, por exemplo, se procura proteger de modo ainda mais especial o chefe de estado, ministros, generais, oficiais em geral. 

A PROCURA DO DIREITO INDIVIDUAL PREJUDICA O BEM COMUM?

Nem de longe. É uma visão errada.

     Quem assim pensa são os socialistas que colocam o bem comum e os bens particulares como antagônicos.

     Na verdade, quando procuramos e promovemos o bem individual, se favorece poderosamente o bem comum. Quando cada um de nós se aprimora - o que inclui necessariamente o censo moral - ajudamos a todos. O senso moral é necessário porque só ele nos ajuda, através da virtude, a nos posicionarmos corretamente diante de todos e de termos, ao mesmo tempo, como veremos depois, espírito de solidariedade, outro princípio fundamental da DSI. 

BEM INDIVIDUAL E EGOÍSMO

Nosso aperfeiçoamento - que é no que devemos pensar quando procuramos nossos bens individuais - nada tem a ver com egoísmo e falta de amor ao próximo. Amor que, de modo sublime, nos foi ensinado por Cristo. 

Para ver melhor a questão é bom entendermos a questão da proximidade.

Há graus de proximidade entre os homens. O amor ao próximo deve obedecer a uma justa graduação. Em outras palavras. Amamos mais os que nos são mais próximos. Devemos a todos amor? Sem dúvida. Não, contudo, em medida igual.

Em casa amo em primeiro lugar minha esposa (conforme a Revelação somos dois uma só carne), os filhos, os demais parentes, os conhecidos. 

Mas, sendo assim, como fica meu amor pelos outros?

Meu amor pelos outros implica em desejar a cada um e a todos o mesmo que desejo a mim e aos que estão mais próximos. A  todos, sem exceção, desejo todos os bens importantes para a vida: alimentação, vestuário, casa digna, trabalho, salário digno e suficiente. Bens superiores como a honra, a justiça, compreensão, etc, etc, etc. Bens espirituais: que todos vivam uma vida harmoniosa, fruto da virtude de do bem infinito que é Deus. Sobretudo a união santificante com Deus. 

Por hoje é isso. Amanhã começamos a falar especificamente do Estado.

Notas:

1 e 2. Compêndio de Doutrina Social da Igreja/ Pontifício Conselho "Justiça e Paz". Tradução CNBB. São Paulo: Paulinas, 2005, ponto 167.