quarta-feira, 22 de abril de 2020

O DIA EM QUE O VENDEDOR DE LIVROS FEZ A FESTA


Quarta-feira, 22 de abril de 2020


Valter de Oliveira 


Quando foi? Provavelmente em alguma tarde de outubro ou novembro de 1964. Devia estar jogando bola em frente à venda do sr. Macário, em Itaquera. Não estava. Por esses mistérios da vida estava em casa. A campainha tocou. Era um vendedor de livros...

Convidei-o a entrar. Ficamos no escritório de meu pai, no térreo, ao lado da garagem. Lembremos que eu ainda era um teenager...Passatempo: futebol e música. Bem verdade que eu lia. Desde criança.

Acontece que o vendedor não me oferecia um livro, nem mesmo a Barsa que alguns compravam naqueles tempos e a deixavam descansando na estante. O homem apresentava-me coleções... Imaginem a dificuldade de se vender isso na periferia. Ele devia ter muita fé...

Aí aconteceu outro imprevisto. Meu pai, que geralmente chegava após às 19h apareceu. Cumprimentou-nos e perguntou: -"O que ele quer?" Respondi: - "Está oferecendo alguns livros".  Ele continuou: - "Interessa algum?". -"Todos!". -"Então compre todos!",disse ele.

Foi assim que o vendedor de fé me vendeu 6 coleções:

1.  Descoberta do mundo. Ciência, arqueologia, história, etc,etc. -12 volumes.
2. Antologia da literatura mundial. 12 volumes.
3. Os Forjadores do Mundo Moderno. Heróis latino americanos, filósofos, cientistas, políticos, etc. 6 volumes.
4. Antologia de vidas célebres. Só grandes figuras da antiguidade. 6 volumes.
5. Fábulas de La Fontaine. 3 volumes. 
6. Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa.. 2 volumes. 

Feliz da vida o vendedor anotou a encomenda e foi embora. 

Algum tempo depois, recebi os livros. Uns, no dia 19 de dezembro. Outros, no dia 24. Total 41.

Foi um feliz natal. Como era de praxe ganhei também uma bola de capotão. 

E por que conto isso?

Tudo a ver com o coronavírus. 

Daqui a pouco conto. Aguardem.