quarta-feira, 3 de outubro de 2012

QUEM SEGUE A CARTILHA DA CNBB, NÃO VOTA NO PT














Valter de Oliveira


Cumprindo importante dever moral a CNBB publicou uma cartilha de orientação aos eleitores para as eleições municipais de 2012.


Como era de se esperar não se indica nomes de partidos que possam merecer ou não nossos votos. São dados apenas os critérios. Aplicando-os o leitor saberá em quem deverá votar, e quais candidatos ou partidos deverão ser rejeitados.

Dos grandes partidos o mais atingido pela cartilha é o PT. A razão é simples e pode ser demonstrada com base em três pontos:

DECLARAÇÃO DOS BISPOS. Eles consideram que o candidato deve ser:

1. Defensor da vida

No ponto 9.2 da declaração dos bispos está escrito:

“Que o candidato defenda a dignidade da pessoa humana e da vida, em todas as suas manifestações, desde a sua concepção até a morte natural. Não devemos votar em candidatos que defendam projetos que visem a legitimar o aborto e a eutanásia. É importante votar na vida e não na morte!”.

Ora, é sabido que o PT fechou questão quanto ao aborto. Nenhum membro do Partido tem o direito de se opor a ele lutando pelo direito à vida. Se todos os membros do partido têm o dever de aderir a essa determinação nenhum deles pode receber nossos votos. Nem nesta e nem em nenhuma outra eleição. 

                                      
                                                                     


2. “Merece o voto dos cristãos quem defende os valores da família”

A afirmação entre aspas é continuação do ponto 9.2 e também condena o PT que tem se empenhado em destruir os valores familiares.

Prova disso foi a cartilha promovida pelo candidato Haddad como ministro da Educação. É o conhecido “Kit Gay” que faz a apologia do homossexualismo, da ideologia de gênero, da permissividade sexual, da legalização da prostituição, etc. Ainda agora o Ministério da Saúde volta à carga, em luta incessante para impor sua ideologia nefasta, em eventual convênio com o Conselho de Psicologia para tentar dar base “científica” para sua nova moral... O Ministério da Educação, por exemplo, criou um prêmio para os alunos que melhor souberem defender a igualdade de gênero! Doutrinação pura!(1)



Tanto na última campanha para a Presidência, como na atual, o PT, desonestamente procurou esconder seu pensamento sobre o direito à vida e sobre a verdadeira família. Por isso é condenado também pelo ponto 9.1 da declaração dos Bispos:




“O bom candidato tem senso de justiça, é coerente entre o discurso e a prática; é honesto, transparente e verdadeiro antes, durante e depois da campanha política”.



3. A Lei da Ficha Limpa.

Antes de ascender à presidência o PT se afirmava o Partido da Ética. Devido a isso, cansados de tanta coisa indigna que havia em nossa política, muita gente boa votou em Lula e no PT. Não sabiam que a Ética petista é revolucionária, baseada na filosofia da práxis, ao mesmo tempo maquiavélica e marxista.

Já no primeiro mandato de Lula o partido se notabilizou pela mais absoluta falta de ética na política. O fisiologismo e a corrupção só fizeram crescer. Tivemos o mensalão, negado por Lula,  confirmado agora pelo Supremo Tribunal Federal. O PT, como todos sabem, tem muitos políticos envolvidos em toda essa trama. Admite suas falhas? Não. Culpa a imprensa e os magistrados que os condenam. E ainda convidam Delfim Neto para defende-los! (2)



Aqui lembramos o ponto 8.2 que trata de candidatos à reeleição:

“- Ele participou ou foi conivente com escândalos e fraudes anteriores?”











São apenas três pontos. Suficientes para confirmar o título do artigo. “Quem segue a cartilha da CNBB não vota no PT”.(3)








Notas

1. Em outro artigo trataremos dessas iniciativas.
Mais informações no site www.igualdadedegenero.cnpq.br

2. artigo na folha de São Paulo intitulado “Lula”, de 26 de setembro último. Em seu blog José Dirceu agradece:

Primoroso o artigo "Lula", publicado hoje na Folha de S. Paulo pelo ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto. Não só pelas considerações que ele faz sobre o ex-presidente da República, mas pela forma didática como expõe a realidade brasileira, o funcionamento das instituições e porque o ex-presidente, neste momento de disputa eleitoral, tornou-se o alvo preferencial de denúncias não provadas da oposição, dos nossos adversários e da mídia, à frente a revista Veja. (o destaque em negrito é nosso)

3. Também não vota em outros partidos que estão na base do PT e que advogam explicitamente a bandeira da cultura da morte e o solapamento da família natural e cristã como o PCdoB.  Na mesma linha temos “críticos do PT” como o  PSol, PSTU, etc.

Partidos tidos como de centro e centro-esquerda como PMDB e PSDB não advogam tão claramente o aborto e a destruição da família. Entretanto, na prática, muitos de seus associados têm votado em consonância com a agenda do PT. Só para dar um exemplo: Fernando Henrique Cardoso defende a descriminalização da maconha, a lei da homofobia, leis pró-homossexuais, etc.

Para piorar o ex-presidente está agora propondo uma revolução moral no Brasil! Piada de mau gosto! Justo ele que afirmou que impediu que a oposição pedisse o impeachment  de Lula porque isso seria prejudicial à democracia...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

EUTANÁSIA: DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICA





          André Gonçalves Fernandes
                   
Nos debates públicos sobre a eutanásia durante a reforma do Código Penal, foram frequentemente invocadas questões estranhas ao tema. Ninguém nega que qualquer indivíduo tem, em princípio, o direito de recusar tratamentos que, embora venham com a chancela médica, podem ser por ele tidos como inconvenientes. Compete a cada um avaliar se a recusa a um tratamento, num dado caso, é compatível com o dever ético de cuidar de sua própria saúde.

Mas os campos jurídico e político devem reconhecer a todos a faculdade de auto-determinação no âmbito terapêutico, que se expressa no princípio ético do consentimento informado, o qual simboliza a humanização que deve haver na relação entre médico e paciente. Nesse momento, está em jogo o princípio da liberdade individual, em virtude do qual tampouco se pode obrigar o médico a atuar profissionalmente contra o estado da ciência e sua consciência.

O equilíbrio da relação é frágil. Na dúvida do acerto da decisão do enfermo ou da atuação do médico, convém que o assunto seja submetido à apreciação judicial, a fim de se evitar a coação privada.

Há também um amplo acordo sobre o fato de que não existe sentido em insistir com tratamentos de eficácia terapêutica duvidosa ou inútil em pacientes cuja morte iminente é inevitável. Nesses casos, a única atitude acertada é a de aceitar a situação terminal do paciente, aliviando seu sofrimento por meio de cuidados paliativos e prestando o apoio emocional necessário para assegurar que seus últimos momentos de vida sejam percorridos da melhor maneira possível.

Também pode haver uma legítima diversidade de opiniões acerca da intervenção médica mais conveniente no estágio terminal, até porque, nessa situação, o tempo não é um aliado do médico. A superação do problema deve ser feita por meio de um diálogo claro e sereno entre os médicos, o paciente, caso seja capaz de compreender e avaliar a sua situação, e a família.

Esse relacionamento é denominado apropriadamente como "aliança terapêutica". Em princípio, é preferível que a legislação não tenha que adentrar nesse nível de particularidade, porque há o risco de se estabelecer princípios que não guardem relação com a realidade ou princípios cuja rigidez seja difícil de ser atenuada pela equidade.

Tome-se, por exemplo, uma expressão muito comum em algumas legislações européias: o “direito à sedação terminal”. Na mesma linha de raciocínio, teria que se falar também em “direito a antibióticos" ou "direito a anti-inflamatório". Caso se pretenda dizer que estes medicamentos devam ser administrados quando houver prescrição médica, os termos seriam aceitáveis. Mas, na maioria dos casos, isso é desnecessário, porque a medicina deve buscar a cura possível para o paciente.

Tenho a impressão de que o uso dessas expressões num texto legislativo parece indicar que o enfermo ou sua família possam reivindicar o uso desses princípios farmacológicos frente ao médico que, segundo sua consciência e o estado da ciência, não os considera indicados. Existe o perigo de o hospital ser visto como uma espécie de restaurante, onde o cliente chega e ordena o que lhe bem apetece e, por outro lado, reduz a importância do papel do médico a uma espécie de garçom que serve o que lhe é pedido.

Uma concepção de assistência médica definida assim pelas leis de um país constituiria um grave problema ético e político.
Se a eutanásia consiste na ação ou na omissão dos cuidados básicos, com o fim de direta e intencionalmente provocar a morte de outra pessoa, o problema ético-político começa quando a ação ou a omissão de buscar diretamente a morte ganha uma vestimenta legal e se agrava quando se pretende ainda que o sistema público de saúde deva ocupar-se de buscar a morte de seus pacientes.

Por exemplo, uma família, já saturada com anos de cuidados médicos de um idoso acamado e inválido, poderia ingressar com aquele parente naquelas condições e, passados alguns dias, ele seria devolvido bem acondicionado num caixão de alabastro. A justificativa poderia ser a de que aquele quadro clínico era tão negativo e sem sentido que seria bom e conforme o direito a adoção de um protocolo dirigido intencionalmente para acabar com a vida daquele doente.

Uma enfermidade poderia converter-se num mal de uma dimensão tal que “justificaria” a transgressão do princípio jurídico do não matar o semelhante. Na raiz dessa postura e do problema ético-político, há uma teoria: existem vidas dignas de serem vividas e outras não. E uma tentação: conferir a alguém um poder arbitrário sobre a vida e a morte das pessoas. Com respeito à divergência, é o que penso.


André Gonçalves Fernandes é juiz de direito e professor do Instituto Internacional de Ciências Sociais (agfernandes@tjsp.jus.b

terça-feira, 1 de maio de 2012

EDUCAÇÃO (ESCOLAR?) PARA UMA JUVENTUDE EM CRISE





José Ramón Ayllón





O grande número de adolescentes e jovens que apresentam sérios problemas de comportamento e profundas crises de personalidade é um fenômeno preocupante. A situação na Espanha, que aparece nos exemplos deste artigo, tem muitas semelhanças com o que ocorre nos outros países. As causas do problema são profundas e complexas: a sua correção exige algo muito mais amplo do que simples campanhas estatais de informação preventiva.


Se educar é preparar para a vida, não é possível uma vida boa sem uma boa educação. Mas o fracasso escolar cresce na Espanha, e isso preocupa ainda mais quando vemos que esse é um solo de cultivo perfeito para o fracasso existencial entre os jovens. Vários podem ser os remédios eficazes, mas penso que todos devem ter em comum uma condição imprescindível: chegar a tempo.




A IMPORTÂNCIA DE CHEGAR A TEMPO




Tenho visto entre os meus alunos vários casos de adolescentes que começam a entortar apesar da sua boa cabeça e do seu bom ambiente familiar. Descrevo e resumo uma má evolução típica: Problemas de relacionamento com colegas de classe, ou a má influência de alguns, produzem num rapaz ou numa moça de treze anos a perda de concentração no estudo e baixo rendimento. Esse fracasso os distancia dos seus pais. A frustração cresce e se tenta paliá-la com a bebida, com brincar com as drogas e com relações sexuais ocasionais com colegas de perfil parecido. À idade de vinte anos, a vida desses jovens pode ser já um completo caos, e acodem ao psiquiatra com um quadro mais ou menos agudo de alcoolismo, de dependência de drogas e de depressão. Nesse momento a solução talvez já seja difícil, mas quando tinham treze anos teria sido fácil. A pergunta que se impõe é: O que poderíamos ter feito naquela altura para não ter de chegar agora a tais extremos? Poderíamos ter chegado a tempo?



Poderíamos ser tachados de alarmistas, se não fosse o fato de as estatísticas da Organização Mundial da Saúde afirmarem que o suicídio é a primeira causa de morte entre os jovens de 18 a 24 anos. Infelizmente, diversos estudos em países ocidentais atestam que uma em cada cinco crianças apresenta problemas psicológicos sérios, e que um em cada seis jovens de 20 anos apresenta sintomas de embriaguez crônica. Só na França, fogem de casa por ano mais de cem mil adolescentes. Esses e outros dados igualmente dramáticos, longe de serem inevitáveis, são a demonstração de que a família e a escola chegam tarde demais, quando muitas vidas podem já estar arruinadas, ou à beira disso.  

Diversas instituições estatais tentam sanear e diminuir essas situações com campanhas preventivas de informação. Mas a experiência mostra que a informação sozinha, mesmo sendo positiva, é muito insuficiente. Entre outras coisas porque a origem do problema não está na droga, no álcool, no sexo irresponsável ou no fracasso escolar, mas nas crises afetivas que tantos jovens atravessam, e que os leva a buscar o falso refúgio dessas condutas. Por isso, a verdadeira eficácia estaria na prevenção, e prevenir significa eliminar a raiz. Uma raiz complexa, onde se entrelaçam fatores tais como a herança genética, a família, o centro educativo e o ambiente social. Se houver uma solução para essa complexidade, terá de ser uma solução educativa, pelo lado do desenvolvimento afetivo. Platão disse que toda educação poderia ser resumida em ensinar ao jovem quais prazeres deve aceitar e quais rejeitar, e em que medida. Adaslair Macintyre traduz assim o conselho platônico: Uma boa educação é, entre outras coisas, aprender a desfrutar fazendo o bem, e a sentir desgosto fazendo o mal.



FALTA DE AUTORIDADE E SÍNDROME LÚDICA

Já dissemos que a boa vida está necessariamente condicionada pela educação recebida. As mais recentes análises e reportagens sobre o mundo escolar espanhol detectam dois pontos por onde a nossa educação está fazendo água: a falta de autoridade e a síndrome lúdica. Trata-se de dois pontos fracos que impedem ou comprometem seriamente uma educação de qualidade. Em minha exposição, seguirei de perto o magnífico ensaio Os limites da educação, publicado por Mercedes Ruiz Paz em 1999.
Dizer que toda educação requer autoridade é quase um simplismo. Refiro-me a uma autoridade que não é o autoritarismo da violência física ou da humilhação, mas o prestígio capaz de garantir uma ordem básica. Uma ordem que requer uma informação moral precisa sobre o que está bem e o que está mal, para que a norma de conduta não seja a ausência de qualquer norma: o vale-tudo.

No mencionado ensaio, a autora explica que a autoridade supõe transmitir a obrigatoriedade de certas pautas e valores fundamentais, de certos critérios que ajudarão a construir personalidades equilibradas, capazes de agir com liberdade responsável. Coisa que no fundo não é tão difícil.
Todos entendemos que a autoridade deve ser primeiramente exercida e aprendida na família. E também sabemos que isso nem sempre acontece.Assim como existe um pensamento débil, existe um modelo de paternidade débil, que é mais capaz de vender os filhos ao diabo do que arriscar-se a ser tachado demagogicamente de tirano ou repressor. Mas educar também é reprimir o que haja de indesejável numa conduta. Nestes últimos anos, muitos pais e professores se evadem dessa responsabilidade tratando seus filhos e alunos de igual para igual, como se fossem colegas ou amigos da escola, sem compreenderem que a educação não é nem deve ser uma relação entre iguais. Com os filhos, por exemplo, não se discute se é ou não necessário dar-lhes assistência médica: os pais são responsáveis de lhes dar essa assistência sem discussão.
É um erro atribuir à autoridade a possível infelicidade de um filho ou aluno. O que na verdade ocorre é o contrário. Uma correta autoridade faz a criança e o jovem sentirem-se queridos e seguros, pois notam que são importantes para alguém. Mafalda – a célebre personagem das histórias em quadrinhos de Quino – sente a autoridade dos seus pais em questões tão cotidianas como a obrigação de tomar sopa, que ela detesta. Um dia, estando sozinha no seu quarto, fala: Mamãe? E esta lhe diz: Que foi? A menina responde: Nada. Só estava querendo confirmar que existe pelo menos uma boa palavra que ainda está em vigor.
Os especialistas em Psicologia infantil costumam explicar que os pais decepcionam a criança se a deixam fazer tudo o que quer, entre outras cosas porque essa sua equivocada tolerância irá transformar a criança num pequeno tirano antipático. Contudo, existem adultos que parecem obstinados em proporcionar às crianças e aos jovens uma felicidade absoluta e constante; e sobre esse erro se monta um outro ainda mais crasso: o de uma permissividade e impunidade quase completas. Qualquer preço lhes parece pequeno contanto que possam desfrutar da harmonia na família ou na escola. Mas uma harmonia conseguida à custa de todo tipo de concessões está montada sobre um barril de pólvora, pois a criança e o adolescente são por natureza insaciáveis.

Até aqui, o enfoque errado a respeito da autoridade. Outro enfoque errado típico da educação atual é a chamada síndrome lúdica. Como exemplo poderia ser citado o daquela escola pública que começava a exposição do seu projeto educativo para o ano 1995-96 com estas palavras: Nosso principal objetivo é que os nossos meninos e meninas sejam felizes. Além de ser uma enorme ingenuidade, uma declaração de intenções como essa nem sequer é discutível, pois a atividade principal de um centro escolar não é nem deve ser a lúdica, e menos ainda quando observamos que o nível acadêmico de muitos colégios está ao rés do chão, enquanto vão sendo transformados em ludotecas ou ateliês de artesanato. Se há alguns anos os inspetores ou diretores da escola podiam questionar o professor cujos alunos aos seis anos ainda não sabiam ler, hoje suspeitam do professor cujos alunos já sabem ler com essa idade. (O que será que ele andou fazendo? Pobrezinhos, como foram forçados!)
A síndrome lúdica, paralela ao desprestígio do esforço pessoal, tem raízes profundas na nossa sociedade. Se os políticos costumam ver nas pessoas eleitores, a economia capitalista as reduz à condição de compradores, e concentra a sua publicidade em conseguir que os seus clientes gastem o máximo para poderem levar uma vida cômoda e prazerosa. Isso costuma produzir uma sociedade integrada por tipos humanos adolescentes, compulsivos, pouco dados à reflexão e alérgicos a qualquer tipo de responsabilidade. Essa situação, aplicada ao nosso país, fez com que Umbral dissesse que na Espanha as pessoas não são nem de esquerda nem de direita, mas de shopping center. Se isso é assim, além dos lucros astronômicos dos shopping centers, no terreno educacional – diz Mercedes Ruiz – nos deparamos com adultos que são adolescentes educando outros adolescentes, todos mais ou menos dominados por uma síndrome lúdica que impede o amadurecimento dos alunos.

Os responsáveis por essa ludopatia são os pais, na medida em que explicam o colégio para os seus filhos mais jovens como sendo um lugar para brincar com os amigos e divertir-se. Corrigir essa forma errada de ver as coisas pode custar ao professor não digamos sangue, mas sim suor e lágrimas, e no pior dos casos pode ser que ele não o consiga. O garoto deve saber que vai para a escola para aprender, que só se aprende com esforço, que esse esforço vale a pena e é gratificante, e que não deve confundir o âmbito familiar com o escolar. O colégio não é uma extensão do lar, e por isso o aluno não pode se levantar, conversar ou mascar chiclete quando lhe dê vontade. Atualmente, se o aluno não chegasse à escola com critérios e referências tão equivocados, o professor não teria que perder tanto tempo para colocá-lo naquela situação de civilidade e sossego mínimos a partir da qual o ensino começa a ser possível.
A crise de autoridade e a confusão entre aprendizado e brincadeira são aliadas perfeitos para que na classe se gere um clima de indisciplina que não beneficia ninguém e prejudica todos. Qualquer professor admite que hoje vinte alunos por classe são mais difíceis do que quarenta há dez anos. E esse mesmo professor não se sente respaldado pelos pais dos seus alunos: sabe que com freqüência não é apresentado aos olhos das crianças e dos jovens como uma pessoa que merece respeito, deferência e atenção. Agora o problema é que uns garotos que ainda estão por civilizar, que ainda não têm suficientes conhecimentos, que mal se desenvolveram emocionalmente, e que estão forçosamente carentes de critérios, têm como única informação recebida a de poderem criticar e denunciar tudo o que contrarie o seu parecer.
Essa situação também tem a sua explicação nos tempos que correm. O mundo mudou muito e rápido. Modos tradicionais de ver a vida e de vivê-la talvez não tenham perdido a validade como os iogurtes, mas perderam a sua vigência. Daí se costuma chegar à falsa conclusão de que tudo é relativo, e então deixa de ter sentido aconselhar os filhos e alunos sobre condutas e valores. Desse modo muitos pais ficam bloqueados e não exercem ações positivamente educativas.
Por outro lado, a sensação de que seus pais se enganaram a seu respeito recorda-lhes que eles também podem se equivocar com seus próprios filhos, e essa possibilidade faz com que encarem a educação pelo lado negativo – o que é que não querem para os seus filhos -, deixando assim de elaborar um modelo de referência positivo para ser transmitido com o próprio exemplo. Enquanto isso, os filhos flutuam na indiferença e se movem entre o desconcerto e a desorientação.

ENFOQUES CORRETOS

Dissemos que não é possível a boa vida sem uma boa educação. Mas quem estabelece as linhas mestras da educação? Quem define quais são as coordenadas de uma educação de qualidade? Só há uma resposta: a família e as instituições educativas, respeitando sempre a própria tradição cultural. A família em primeiro lugar, porque os filhos são filhos de seus pais e não do colégio nem do Ministério da Educação.
Embora nem sempre concordem de fato, os pais, os colégios e o Ministério da Educação deveriam concordar em escolher, entre os diferentes modelos educativos, aqueles que sejam os melhores. Ao longo de 25 séculos de Civilização Ocidental, apareceram modelos educativos que ganham por esmagadora diferença dos outros, e configuram essencialmente a nossa cultura. Modelos integrados por certos traços fundamentais que passarei a comentar.
Trata-se de traços ou qualidades que derivam diretamente da condição humana: vestem-na com um traje sob medida e permitem o seu pleno desenvolvimento. Desde Aristóteles define-se o homem como sendo animal racional e animal social. Pois bem: a melhor educação da razão consiste em capacitá-la para descobrir o bem e pô-lo em prática. A inteligência que descobre o bem se chama consciência moral (primeiro traço) e a passagem da teoria à prática do bem realiza-se por meio da prudência (segundo traço).

Como a realização do bem costuma ser árdua, o terceiro dos traços educativos fundamentais é a fortaleza, esforço por conquistar e defender aquilo que vale a pena. Além disso, a animalidade que faz parte da nossa constituição fornece à conduta humana um recurso fundamental: o prazer. A educação do prazer – a sua administração racional – constitui o quarto traço indispensável a toda boa educação: chama-se autocontrole, domínio de si, temperança.
Um quinto traço é a justiça, que prescreve o respeito aos direitos dos outros e torna possível a própria existência da Sociedade. A justiça se concretiza nas leis: nas regras do jogo que nos permitem sair da selva e viver nos domínios da dignidade. Educar os jovens no sentido da justiça e no controle do prazer não é algo que tenha mais ou menos importância: Aristóteles afirma que tem uma importância absoluta.


A consciência moral, a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança são qualidades descobertas pelos gregos. Estão esboçadas em Homero e as encontramos em Sócrates, em Platão e em Aristóteles de forma explícita. Basta citar o mito platônico do carro alado ou a Ética a Nicômaco. Essas cinco qualidades são herdadas pelos romanos e pela Europa cristã. Além disso o cristianismo acrescenta outras três qualidades ou virtudes que se referem diretamente às relações do homem com Deus: me refiro à Fé, à Esperança e à Caridade.


Dizia Pascal – filósofo e matemático – que a última fase da razão é notar que existem muitas coisas que a ultrapassam, e que precisamente por isso é muito razoável crer. Nesse mesmo sentido afirma Josef Pieper, um dos melhores filósofos alemães do século XX, que poderia muito bem ocorrer que a raiz de todas as coisas e o significado último da existência só possam ser contemplados e pensados por aqueles que creem. A Esperança em Deus é a qualidade necessária para o equilíbrio psicológico do único animal que sabe que vai morrer. E a Caridade é a forma de amar mais adequada à dignidade humana: com palavras de Borges, é ver os outros como o próprio Deus os vê.
Fonte: Arvo.net
Tradução: Quadrante

domingo, 25 de março de 2012

O FRACASSO DE SUMMERHILL






Alfonso Aguilló


O famoso internato britânico Summerhill, escola que foi carro chefe da educação tolerante e antiautoritária, foi notícia nos últimos anos por suas repetidas ameaças de ser fechada devido ao baixo rendimento de seus escassos sessenta alunos.

Summerhill, fundado em 1921 por Alexander Neill, teve um auge espetacular na década de sessenta e depois foi gradualmente perdendo alunos até ficar semideserto.

Seu método pedagógico era realmente peculiar: não havia exames nem provas, a assistência à aula era voluntária e a vida do centro se regia em grande medida através de decisões dos próprios alunos.

A questão é que os alunos do internato de Summerhill não saiam dele bem preparados. Apenas iam às aulas, e sua formação acadêmica e humana, apresentava, segundo um informe do Ministério de Educação britânico, assombrosas deficiências.


Escola Summerhill - Inglaterra


A tentativa da escola em educar na tolerância e erradicar o autoritarismo merece todos os elogios. Contudo, seus resultados mostraram que nas bases de seu fundamento filosófico havia muita ingenuidade.

O fracasso dessa escola britânica nos faz lembrar – bem contra as previsões de seu fundador – o fracasso do permissivismo, e o fato de que toda pessoa tem de aprender a esforçar-se seriamente se, de verdade, quer conseguir qualquer objetivo válido em sua vida. Sobretudo nessas primeiras etapas da infância e adolescência nas quais é formado o caráter.

Por outra parte, para aprender a esforçar-se seriamente em algo, nada mais prático do que procurar submeter-se – livremente, mas submeter-se – a um plano exigente. E isso é assim porque fazer o que achamos que devemos fazer supõe muitas vezes um esforço considerável. Por isso, uma educação responsável tem que estabelecer um alto nível de exigência pessoal.

E isso não significa nenhum atentado contra a tolerância, mas simplesmente saber o que é educar.

Não teria muito sentido, por exemplo, partir da ideia de que é ótimo dar todas as facilidades para alguém atuar mal se quiser, com a desculpa de que assim a opção pelo bem seria mais plenamente livre e meritória. É tão inadequado uma cerceante e habitual privação da liberdade quanto, ingenuamente, dar facilidades para escolher o mal. (1)


Sala de aula em Summerhill

No caminho de qualquer processo formativo ou educativo é de grande importância facilitar prudentemente as boas escolhas. Não há educação nem formação sem uma certa constrição, e por isso não há porque escandalizar-se de que haja regras e normas, que expressam precisamente o tipo de educação que livremente se escolheu.

Por exemplo, se colocamos uma garrafa de gin ou whisky diante de uma pessoa alcoolizada, provavelmente não conseguirá deixar de tomá-lo. Talvez acredite que é uma pessoa livre, mas parece bem mais ter perdido uma grande parte da liberdade de escolha, pois suas decisões são cada vez menos livres.

Há restrições que ajudam a conservar a liberdade, a saber empregá-la positivamente, a dar-lhe apoio, a não perde-la seguindo caminhos que não têm saída ou que terminam subitamente em um precipício ou se perdem pouco a pouco nas areias de um deserto.

As utopias libertárias são como elixires que, depois de provar-se, mostram-se desencantadores e frustrantes. Não existem essas panaceias nem paraísos terrenos, e os que caíram em tais promessas se sentem enganados. O homem é um ser de capacidades limitadas, que vive em um meio adverso, e cuja liberdade somente se desenvolve quando adquire consciência do dever, autodomínio e ética, (2) não quando se deixa hipnotizar pelas promessas da permissividade.

NOTAS

1. Claro que, quando uma criança ou adolescente, decidem brincar em vez de estudar, quando deveriam fazê-lo, nem sempre percebem que optaram mal. (observação do blog).

2. Os destaques em negrito são do blog.

Fonte: www.interrogantes.net