terça-feira, 4 de agosto de 2009



NÃO ENGULAMOS NEM DIGIRAMOS!

Ubiratan Jorge Iorio de Souza

04/08/2009


O Brasil e o mundo viram e ouviram, estupefatos, aquela cena de baixaria explícita protagonizada ontem, em plenário, pelos senadores Renan Calheiros e Fernando Collor, em seus
ataques a Pedro Simon, que acabara de reiterar algo que até os paralelepípedos das ruas mais esconsas sabem, ou seja, que o presidente do Senado precisa renunciar, em nome da manutenção de um mínimo de credibilidade institucional. Com efeito, clamam a ética e o patriotismo que Sarney deve abandonar o cargo para, se for o caso, provar a sua alegada inocência. Calheiros – que, como todos devem lembrar-se, foi homem de confiança de Collor nos tempos em que o nosso Indiana Jones ocupou a Presidência da República, para em seguida ser ministro de Fernando Henrique e, mais adiante, migrar para o bloco dos amigos de Lula; Calheiros, que, há alguns meses, foi apeado da presidência do Senado em decorrência de uma série de acusações pesadas -, tentou desqualificar Simon. Este retrucou dizendo-lhe que crescera politicamente em redor de Collor, mas o abandonara na véspera da cassação de seu mandato presidencial. Collor, por sua vez, agora também integrante de uma ala do bloco lulista, sentindo-se “ofendido”, voltou a exibir a arrogância dos tempos da Casa da Dinda, gritando para o senador gaúcho, com os olhos rútilos de outrora: “São palavras que não aceito! Quero que o senhor as engula e as digira como achar que é conveniente! Sei o que o presidente Sarney está passando porque também já passei por isso”.


Pobrezinhos... Ora bolas, não serão Sarney, Calheiros e Collor (como muitos outros políticos) farinha do mesmo saco? Não passaram por “isso” exatamente porque desabaram sobre seus ombros pilhas de acusações de práticas que agridem a ética? Confesso que, olhando na TV a fisionomia enfurecida do ex-caçador de “marajás”, não pude deixar de lembrar-me de quando anunciou, com incrível petulância, um dia depois de tomar posse, em março de 1990, aquele malfadado plano de estabilização que seqüestrou 80% de todos os ativos financeiros (sem atacar a causa da hiperinflação legada pelo próprio Sarney), comandado por aquela senhora que ocupava o ministério da Economia e cuja soberba, também, só encontrava paralelo nas de seu então chefe e em sua própria ignorância em Teoria Econômica.


Entristece a repetição quase diária de cenas como a que acabo de descrever. Mas isto não deve ser motivo de espanto. O que vem acontecendo no Senado, como de resto na Câmara e nos outros poderes e, mais amplamente, em toda a sociedade, nada mais é do que reflexo do ambiente generalizado de relativismo moral que tomou conta não apenas do Brasil, mas do mundo. A raiz de toda essa baixaria, a causa de toda essa nojeira, a origem de toda essa sujeira está no abandono dos valores morais em que sempre se baseou a civilização ocidental, que são os ensinamentos judaico-cristãos. Quando o relativismo moral derruba a fronteira, recebida por Moisés no Sinai e revigorada por Cristo, entre o certo e o errado, a virtude e o vício, o comportamento reto e o desonesto, misturando tudo em um liquidificador, relativizando tudo - com a ajuda da própria mídia - o que esperar?


Mas não devemos e nem podemos desanimar. Cada um de nós deve fazer a parte que nos cabe para resgatar os valores, hoje esquecidos e espezinhados, que nos foram legados por nossos pais e avós. Não engulamos nem digiramos! Façamos a nossa parte. Pelo bem do Brasil. E do mundo.

Assista ao vídeo - 03/08/2009




Notas:

Ubiratan Jorge Iorio de Souza é Doutor em Economia (EPGE/Fundação Getulio Vargas, 1984), Economista (UFRJ, 1969). Autor dos livros "Economia e Liberdade: a Escola Austríaca e a Economia Brasileira", "Uma Análise Econômica do Problema do Cheque sem Fundos no Brasil" e "Macroeconomia e Política Macroeconômica". Articulista de Economia do Jornal do Brasil (desde 2003), do jornal O DIA (1998/2001), cerca de duzentos artigos publicados em jornais e revistas. Consultor de diversas instituições.


Vídeo
YouTube - Canal Universogeral
Renan e Collor discutem com Simon no Senado