sábado, 3 de outubro de 2020

BOLSONARO, ELEITORES E A INDICAÇÃO DE KASSIO NUNES AO STF

 

Valter de Oliveira

            Desde a campanha eleitoral os eleitores de Bolsonaro sonhavam com o início de mudanças na composição do STF. O candidato acenou com a futura indicação de Moro, baluarte na campanha contra a corrupção política no Brasil.

            Muita gente ficou entusiasmada.

            Certos entusiasmos fazem parte da cultura brasileira. Já acontecera antes com a atuação do ministro Joaquim Barbosa quando este criticou seus colegas que teriam negado coisas evidentes no processo do mensalão (1).  Bastou para que muita gente pensasse em lançá-lo como candidato a presidente.

            Na verdade falta visão de conjunto. Certas posturas acertadas de certos atores políticos em determinada ocasião não nos garantem que acertarão em muitos outros pontos. Temos que saber o que eles pensam sobre muitas outras coisas e se são coerentes entre teoria e prática.

            A divergência Moro-Bolsonaro provocou frustração entre os eleitores de Bolsonaro que se dividiram. As faíscas prejudicaram a ambos. Perdeu também o Brasil com a não indicação de Moro?

            Descartado o antigo ministro falou-se em novos nomes que poderiam ser indicados. Esperava-se a indicação de alguém com grandes qualidades jurídicas, ilibada reputação, coerente, identificado com os valores conservadores desejados por grande parte da população e, principalmente, na capacidade de aplicar a justiça. (2)

            Repentinamente surgiu o nome do desembargador Kassio Nunes, do Piauí. Houve quem dissesse que era só balão de ensaio para sentir a opinião do eleitorado do presidente. A base não gostou. Expressou isso claramente.

            Apesar disso Kassio foi indicado. Conforme as notícias com as bênçãos de Toffoli, Gilmar Mendes e do Centrão.  Indicação também recebida com agrado pela bancada nordestina.

            Prevaricação do presidente? Pragmatismo político? Sagacidade maquiavélica?

            Eleitores mais fiéis afirmam que Bolsonaro sabia que outros nomes não seriam aprovados. Assim teria acertado em indicar quem é mais próximo e toma tubaína com ele.

            De minha parte preferiria a indicação de Ives Gandra Martins Filho. Mas, vejam só, como o jurista é numerário do Opus Dei isso já seria uma coisa difícil de engolir. A entidade seria ultraconservadora ou até franquista, como insistem em afirmar os pseudoinformadores.

            Fingem que não sabem que o Opus Dei, tal como a Igreja, não impõe um credo político. Só o que se pede é que seus associados sejam fiéis ao ensinamento católico.

            Contudo nada disso interessa à nova inquisição laicista revolucionária.

            Se Bolsonaro tivesse indicado Ives Gandra teria demonstrado a coragem de Trump. O Chefe de Estado norte-americano que é presbiteriano, sem pestanejar, indicou para a suprema corte americana uma jurista católica com seis filhos.

            Verdade que lá os republicanos têm a maioria do Senado. A indicação provavelmente será aprovada. E aqui? Quem garante que nossos nobres senadores estão ávidos para indicar um conservador? Mesmo assim, cabe a pergunta: teriam a coragem de rejeitar quando jamais fizeram isso no passado?

            Bolsonaro, que ao contrário do que se imagina conhece os bastidores da política, pode ter informações que desconhecemos. Resolveu ser pragmático. Acertou?

            Kassio Nunes certamente será indicado. Votará bem? Irá contra a corrente? O futuro dirá. Confesso que minha esperança não é grande.

            É sabido que a política é a arte do possível. Ela não é fácil.

            De qualquer modo o presidente sabe que não agradou sua base. Esperava-se mais dele neste momento. Prometeu-se muito. Por enquanto, infelizmente, o episódio lembra o famoso caso do parto da montanha.

 

Notas:

1.    http://g1.globo.com/politica/mensalao/noticia/2014/02/barbosa-critica-absolvicoes-e-diz-que-nacao-tem-que-estar-alerta.html

 

2.    Editorial da Gazeta do Povo do dia 02 de outubro p.p. indica detalhadamente  - e com todo acerto - as qualidades necessárias a um magistrado do STF.

 

https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/kassio-marques-stf-bolsonaro-tiro-no-escuro/?fbclid=IwAR1lBTTujRuH8DmPZFpcGRrMHeGv5B-14wSeK_1pjNnzU914LyYQam