terça-feira, 28 de janeiro de 2020

LENIN NO PODER


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A proposta e apologia do Terror




Parte II do livro de Richard Pipes sobre a Revolução Russa.

No capítulo 10 o historiador trata do Terror Vermelho. Diz ele: 

(...) “Os objetivos e métodos bolcheviques implicavam em terror, que – ao contrário do protótipo jacobino, com um ano de duração – estendeu-se por toda a sua existência. Terror não significava somente execuções sumárias, mas uma permanente atmosfera de ilegalidade, na qual a minoria governante detinha todos os direitos, ao passo que a maioria governada, nenhum: ao cidadão comum restava a impotência”. Assim, nas palavras de Isaac Steinberg, membro do comissariado da justiça, “um manto pesado, sufocante, foi jogado sobre a população do país” (...)

A justificativa dos apologistas de Lenin

Seguidores e apologistas de Leni costumam justificar o recurso ao terror como uma lamentável necessidade. Assim escreveu Angélica Balabanoff, apoiadora crítica do regime e primeira secretária da internacional comunista:

            “Embora lamentável, o terror e a repressão instalados pelos bolcheviques foram impostos pela intervenção estrangeira e por reacionários russos, determinados a defender seus privilégios e a restabelecer a velha ordem”.

Na verdade...

“Tal apologia suscita mais perguntas do que respostas. Os bolcheviques fundaram a Tcheka, principal agência do  terror, em dezembro de 1917, antes de qualquer intervenção estrangeira ou oposição doméstica organizada. Uma nota manuscrita de Lenin encontrada no Arquivo Central do Partido, sem data, mas a julgar por seu conteúdo, escrita pouco antes de a Tcheka surgir, provavelmente em novembro de 1917, deixa isso claríssimo. Dirigida a N.N.Krestinski, secretário do Partido Comunista Bolchevique, diz”:

            “Sugiro que formemos imediatamente (de início, pode ser feito em segredo) uma comissão para formular medidas excepcionais (no espírito de Lárin: Lárin tem razão). Digamos você + Lárin + Vladimirski (ou Dzerjinski) + Rikov? Ou Miliutin? Preparar em segredo o terror: essencial e urgente. E decidiremos na terça formalizá-lo através do Sovnarkóm ou de outro jeito”. (1) Destaque em negrito é do Oliver, Em itálico é do livro).
Lenin não tinha escrúpulos

            “Exemplo da predileção de Lenin pelo terror é lembrado por Isaac Steinberg. No Sovnarkóm, quando foi apresentado o decreto intitulado “A pátria socialista em perigo”, cominando vários delitos mal definidos – “agitação contra-revolucionária”, entre outros – com penas de execução sumária, o SR de esquerda se opôs:

            “Objetei que essa cruel ameaça matava todo o espírito do manifesto. Lenin retrucou com escárnio: “Ao contrário, o decreto encerra o verdadeiro espírito revolucionário”. Você realmente acredita que possamos vencer renunciando à crueldade do terror vermelho?”  Foi difícil argumentar contra ele a esse respeito, e logo chegamos a um impasse. O que estava em discussão era uma medida política rigorosa, que a longo prazo poderia converter-se no terror. Lenin ofendeu-se com minha oposição em nome da justiça revolucionária. Então gritei, exasperado. “Por que nos incomodamos com um Comissariado de Justiça? Vamos chama-lo de Comissariado para o Extermínio Social e pronto!” Com o rosto subitamente iluminado, ele respondeu:”Bem posto... é isso, exatamente, mas não podemos falar assim”.

 Até os totalitários, com o poder nas mãos, cuidam em esconder suas intenções. No caso não falaram; agiram. E usaram toda a crueldade julgada necessária. (V.O.).

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Obs: subtítulos em negrito foram introduzidos pelo Olivereduc.

Nota: 1. Destaque em negrito é do Oliver, exceto a palavra "urgente", em itálico. Tudo leva a crer que foi ênfase dada por Lenin. 

Fonte: Pipes, Richard. História Concisa da Revolução Russa. Tradução de T. Reis – RJ, BestBolso, 2008, p.237-239.