sábado, 18 de março de 2023

LIÇÕES DA MATER ET MAGISTRA. DSI


 A DUPLA MISSÃO DA IGREJA

Comemorando o 70º aniversário da famosa encíclica "Rerum Novarum", de Leão XIII,  em 15 de maio de 1961, o Papa João XXIII publicou a "MATER ET MAGISTRA". Nela, de modo atualizado, renovado, aprofundado, o Pontífice volta a tratar da questão social, agora de modo mais aimpliado, indo além da questão operária provocada pela Revolução Industrial. 

No Brasil ela provocou polêmica. Já estávamos nos tempos conturbados da escalada socialista em vários pontos do mundo. Escalada que começou a ser apoiada, de um modo ou de outro, pelo que se convencionou chamar de esquerda católica. Esta passou a exigir do clero católico uma ação mais decisiva na esfera política. 

Quando a Mater et Magistra foi publicada tivemos uma tradução - se não me engano realizada pela editora vozes, que colocou alguns subtítulos na encíclica com a palavra socialização. A palavra não tem sentido único e isso foi suficiente para que determinados esquerdistas a interpretassem como uma abertura para o socialismo... Como veremos em outros artigos que vou postar não era bem assim...

Hoje vou simplesmente colocar aqui os seis primeiros pontos do documento. Neles são destacados claramente o duplo papel da Igreja do ponto de vista espiritual e temporal. Papel que muitos não conhecem e que alguns rejeitam ou deturpam. Papel esplendoroso que a Igreja prima por ensinar há dois mil anos. 

Vamos aos pontos (V.O.)


"1. A Igreja Católica foi constituída por Jesus Cristo, com MÃE e MESTRA das Nações, para que, ao longo dos séculos, todos quantos se acolhessem ao seu regaço nele encontrassem a salvação na plenitude de uma vida superior. A essa Igreja, "coluna e fundamento da verdade" (1), seu Santo Fundador confiou a dupla tarefa de gerar-lhe filhos e de eduvá-los  e governá-los, orientando com solicitude materna a vida dos indivíduos como a dos povos, cuja eminente dignidade Ela sempre teve na mais alta conta e defendeu sempre com indormida vigilância.

2, A doutrina de Cristo, com efeito, une, por assim dizer, a terra ao céu, pois assume o homem na sua totalidade, alma e corpo, intelecto e vontade, ao mesmo tempo que o impele a elevar a mente das mutáveis condições da vida presente às alturas da vida eterna, onde lhe será dado gozar um dia de uma felicidade e de uma paz que não terão fim.

3. Essa a razão pela qual, ainda que à Igreja caiba o dever primordial de santificar as almas e faze-las participantes dos bens eternos, Ela se preocupa, entretanto, com as necessidades cotidianas dos homens, não só as que dizem respeito à subsistência e às condições de vida, como as que se referem ao seu bem estar e à sua prosperidade, sob todas as formas que possam assumir com o progresso dos tempos.

4. Ao proceder desse modo, a Igreja está pondo em prática o preceito de Cristo, seu Fundador, que quando afirma, numa passagem: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (2), e, noutra, "Eu sou a luz do mundo" (3) Certamente se refere, antes de tudo, à sallvação eterna dos homens; mas, quando contempla ao redor de si a multidão faminta e exclama como num gemido, "Tenho pena deste povo" (4), demonstra que as necessidades materiais da humanidade constituem, também, objeto dos seus cuidados. E, nem só por meio de palavras o demonstra, senão com os atos de sua vida como quando, para aplacar a fome da multidão, mais de uma vez, multiplica miraculosamente o pão.

5. Pão, dado à nutrição do corpo, mas que Ele quis, ao mesmo tempo, fosse figura do celeste alimento, que às vésperas de sua Paixão, haveria de dar aos homens.

6. Nenhuma espécie, pois, há de causar, se a Igreja Católica, seguindo as pegadas de Cristo e fiel aos seus mandamentos, durante dois mil anos, do ministérios dos primeiros diáconos aos nossos dias, tenha mantido viva, na doutrina e nas obras, a chama da caridade. Caridade que, unindo estreitamente o preceito do amor fraterno e a sua prática, realiza, de modo admirável, a missão da Igreja, contida na dúplice doação da sua doutrina e da sua ação social". 



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Observação: Nas próximas semanas voltaremos a abordar outros pontos da encíclica.

Notas:

1. Cf. I Tim 3, 15.

2. João, 14, 6.

3. João, 8, 12.

4. Marcos, 8, 2.

Fonte: 

"Encíclicas e Documentos Sociais. Da Rerum Novarum à Octogesima Adveniens. São Paulo, Edições LTr, 1971