domingo, 16 de fevereiro de 2020

NAZISMO É DE ESQUERDA OU DE DIREITA?






Valter de Oliveira



Nazismo e fascismo são de direita ou de esquerda? A pergunta parece simplória. Com efeito, na totalidade de nossos livros didáticos, e em grande parte das discussões sobre o assunto, esses dois regimes de governo são considerados de direita. Se é assim, por que a discussão?

Para respondermos lembremos da Revolução Francesa. Foi nela que surgiram os termos direita e esquerda para explicar o posicionamento politico dos deputados na Assembleia Nacional Constituinte.

Com efeito aí tivemos dois grupos revolucionários em luta: os girondinos, defensores de valores considerados mais liberais, e os jacobinos, extremistas que tendiam para uma política socializante. Estes dois grupos sentavam-se, respectivamente, à direita e à esquerda no salão da Assembléia Nacional 

Passado este período tivemos a Convenção. Os jacobinos venceram. Um grupo, os montanistas, passaram a ser a esquerda do jacobinismo.

De lá pra cá os termos foram usados do seguinte modo: um grupo passou a ser tido como esquerdista se tinha um ideal igualitário. Direitistas passaram a ser aqueles que, pelo menos de um certo modo, aceitavam certos tipos de desigualdade entre os homens. Ou valorizam mais o valor da liberdade. 

O problema maior é que as palavras passaram a ser usadas de modo que causam confusão entre quem não está acostumado ao linguajar político. Assim, por exemplo, a esquerda começou a considerar direitistas todo tipo de adversário. A palavra passou a rotular conservadores, nacionalistas, liberais, sociais democratas e até socialistas.

O que mais importa, o rótulo ou o conteúdo?

Voltemos ao conceito formado na Revolução Francesa: esquerdista é aquele que enfatiza a igualdade como valor. Quanto mais uma pessoa -ou grupo político - tiver como meta a igualdade em todos os aspectos da vida humana mais esquerdista deverá ser considerada.

Ora, quando usamos o termo como comparação entre diferentes grupos podemos incorrer em uma imprecisão. Vejamos alguns exemplos.

Suponha que no no Congresso brasileiro tivéssemos apenas três partidos políticos: O Liberal, O Social-Democrata e o PT.  Teríamos em sequência: direitistas, sociais-democratas e a esquerda. 

Digamos que na eleição seguinte liberais e sociais democratas fossem varridos do mapa e não elegessem representantes e os partidos no Congresso passassem a ser: O PT, o PSol, O PCdoB e o Partido da Causa Operária. Resultado: o PT passaria a ser considerado a extrema direita, depois PSOl como centro-direita, PCdoB como centro-esquerda e PCO como extrema esquerda...

Samba do crioulo-doido?

Nem tanto. O PT passaria a ser direita em relação ao PSol, e assim por diante. Há lógica no sentido que os outros partidos são mais radicais do que o PT no seu afã igualitário

Não é lógico no sentido que nos chocaria acreditar que um partido como o PT é de direita. Sem ter mudado em nada seu conteúdo político programático.

Podemos ver melhor a ilogicidade de se usar indiscriminadamente tal nomenclatura quando, por exemplo, rotulamos como direita tanto para liberais quanto nazi-fascistas. Os conteúdos são bem diferentes. Isso é reconhecido até mesmo por aqueles - como os tradicionalistas - que consideram que certos princípios liberais contribuíram para o surgimentos de diferentes tipos de socialismo.

Assim, o que importa é o conteúdo defendido por um partido ou movimento. O rótulo é secundário. 

Voltemos agora à questão do nazismo. Vou reproduzir parte de uma carta-programa do Partido dos Trabalhadores Alemães (Nazista) conhecida como "Vinte e Cinco Pontos", publicada em fevereiro de 1920. Ali podia-se ler:
+

(...) "Não pode ser cidadão senão aquele que faz parte do Povo. Não pode fazer parte do Povo senão aquele que tem sangue alemão, qualquer que seja sua confissão. Consequentemente, nenhum judeu pode fazer parte do Povo.

(...) A supressão de toda renda obtida sem trabalho e sem esforço e a abolição da servidão dos lucros

(...) Exigimos a estatização de todas as empresas já constituídas em trustes.

(...) Pedimos a criação e a conservação de uma classe média sã; a expropriação pelas comunas das grandes lojas, que deverão ser alugadas a preço baixo aos comerciantes; e que melhor se considere os pequenos fornecedores para as encomendas do Estado, dos estados e das comunas.

(...) Exigimos a reforma agrária, adaptada às nossas necessidades nacionais, a publicação de uma lei permitindo a expropriação do solo sem indenização para as necessidades de interesse geral; a supressão das hipotecas sobre os bens de raiz e a especulação sobre os terrenos "

Conclusão

Fica para o amigo leitor. O conteúdo da Carta-Programa nazista tem ou não notável semelhança - ou identidade - com o que é pregado pela chamada esquerda?