sábado, 7 de julho de 2018

DEMOCRACIA FORMAL E SUBSTANCIAL














Valter de Oliveira

Aristóteles   e   São Tomás
Na antiguidade Aristóteles, em sua obra sobre política, afirmou que há três formas de governo: a monarquia, a aristocracia e a democracia. S. Tomás, na Idade Média, manteve o mesmo ensinamento. Curiosamente ambos os pensadores afirmavam que a monarquia era a melhor forma.

No mundo moderno e contemporâneo, especialmente após as revoluções liberais do século XVIII, gradualmente a democracia passou a ser tida como mais adequada ao homem de hoje; mesmo nos países que mantiveram a monarquia. É porque passou a se fazer uma distinção entre forma e regime. Este seria baseado em uma série de princípios filosóficos. Concretamente o regime político é o conjunto de regras e critérios que definem quem será o detentor do poder. O regime pode ser democrático ou autoritário, nas suas várias modalidades.

A nós, neste momento, interessa discutir a democracia que existe em nosso país. Todos sabemos que nesse regime político é o povo quem governa. Daí a famosa frase de Abraham Lincoln: “A democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo”.
Essa é a teoria. Na prática nos perguntamos: O Brasil de hoje é realmente uma democracia? Efetivamente exercemos o poder? Este poder é exercido para o bem de todos, para o bem comum?

Para entendermos melhor a questão vamos usar uma distinção que vem sendo usada mais recentemente na Ciência Política. Ela diz respeito às regras democráticas e ao próprio objetivo do governo e do Estado.

No mundo ideal uma sociedade verdadeiramente democrática deve ser, ao mesmo tempo, formal e substancial. No mundo real isso é muito difícil de ser conseguido, se é que seja possível. Em todos os lugares o que se procura é se aproximar do ideal.

Democracia formal

Um país com regime democrático necessita, para bem funcionar, uma série de regras, um conjunto de instituições características dele. Quais são? Primeiramente a representatividade (pessoas que governam em nosso nome). Como são escolhidos? Através do voto universal e secreto. Depois (seguindo sugestão de Montesquieu) temos a autonomia dos poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário) que devem procurar atuar em harmonia. O objetivo era impedir que o exercício do poder fosse arbitrário, despótico, como se tornara, até certo ponto, prática nas monarquias absolutas do Antigo Regime. Com o tempo tivemos a formação dos partidos políticos com a ideia do pluripartidarismo, e uma nova ordem jurídica foi constituída (Constituição, leis, jurisprudência). Importante também em uma boa democracia formal são as garantias aos direitos básicos do cidadão e todas as suas liberdades (associação, imprensa, opinião, etc). Em suma, a formalidade consiste em todas as regras e instituições pelos quais a democracia se exerce. Quando são bem feitas e bem constituídas são importantíssimas para um bom desenvolvimento da sociedade.

Democracia substancial

Quando falamos em democracia substancial estamos nos referindo não aos meios (democracia formal), mas aos fins que são alcançados, aos resultados de todo o processo democrático. Dentre seus valores podemos destacar a efetiva ação do Judiciário com a realização concreta da justiça, de um adequado equilíbrio de direitos e deveres na sociedade, a um desenvolvimento econômico sustentável da sociedade com emprego e boas perspectivas de ascensão social. No caso da educação, por exemplo, teríamos tanto escolas públicas quanto particulares de qualidade, de modo a beneficiar toda a sociedade. Todas, dentro de suas peculiaridades, ofereceriam condições para que o estudante se desenvolva plenamente.

Em nosso próximo artigo vamos discutir como o correto entendimento da democracia contribui para entendermos suas relações com a economia, a sociedade, o direito e a política.


segunda-feira, 2 de julho de 2018

ELEIÇÃO DE 2018. DESENCANTO, INDIGNAÇÃO OU ESPERANÇA?












Valter de Oliveira

Dizem que brasileiro não é politizado. É verdade. Muito disso se deve às falhas de nosso sistema educacional. Povo mal formado tem poucas condições de entender o processo político. Isso explica o que muitas vezes ouvi em sala de aula.  

- “Professor, odeio política! Voto porque sou obrigado”.

- Um outro completa: “Políticos são todos iguais, sempre dizem a mesma coisa. Prometem e não cumprem. Só procuram seus interesses!

- E ainda: “Voto em pessoas, não em partidos. Se me parecer confiável e tiver ideias que aprovo, voto no candidato!.

Isso era há 10 ou 20 anos. Agora, com a Lava Jato e a tremenda crise pela qual passa o país, a situação piorou. Existe o desencanto com todos os poderes da República. Critica-se – e com razão – o presidente, o Congresso Nacional, o Judiciário. E não se vê alternativa para se sair desse túnel escuro. Uma minoria, cansada de tudo, sonha com a volta dos militares ao poder. É dar um cheque em branco para quem não se conhece.

O que fazer?

Respondo com um conceito de política muito usado: “política é a arte do possível”. (1)

Em outras palavras, diante da grave crise (2) pela qual passamos não há como, a curto prazo, esperarmos que após as próxima eleições surja o belo mundo que idealizamos. O que podemos fazer hoje  é usar de todos os meios legítimos e legais para tentarmos influenciar bem as pessoas a fim de que votem em candidatos mais dignos e preparados. O pleito eleitoral deste ano  nos permitirá escolhermos um presidente e governadores bem como renovar o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas estaduais. Verdade que as condições de nosso sistema político não nos ajudam, ele está cheio de falhas, todos sabemos disso. Contudo, sempre há algo que podemos vir a fazer. E este algo pode vir a ser muito importante.

Qual seria o primeiro passo?

Muitos diriam: ”escolher candidatos com ficha limpa, homens e mulheres com princípios éticos, ideias claras, bem definidas, que reformem o país e o levem à prosperidade”.

Sem dúvida isso é bom, mas não é o primeiro passo. Por quê?

Porque a primeira coisa necessária para se votar bem é ter ideias claras sobre o que será melhor para o país. Sou eu que, em primeiro lugar, preciso formar minha opinião sobre os principais problemas nacionais e, após isso, escolher os candidatos que mais se aproximam do que penso. O escolhido será nosso representante, aquele que se propõe a fazer no governo, aquilo que você e eu faríamos se lá estivéssemos.

Nada fácil, não é mesmo? A Globo tem perguntado a muita gente que país desejam. Claro que a resposta é quase sempre correta mas, absolutamente genérica: “Melhor educação, prioridade para a saúde do povo, saneamento básico, proteção ao meio ambiente, crescimento econômico, pleno emprego, fim de privilégios inadmissíveis, reforma política, segurança pública, e mil outras coisas boas”. Ora, não há candidato ou partido que não nos prometam tudo isso.

A questão está em como obter tudo isso. Com base em quais ideias, em quais princípios filosóficos, em que tipo de ética (3) se baseiam aqueles que pretendem vir a nos governar. Ora, é de suma importância que conheçamos esse alicerce.  

A partir de hoje publicarei uma série de artigos com breves e simples análises de nossas questões políticas, econômicas, sociais. Serão análises de ideias e também das propostas dos partidos e candidatos. Antes disso veremos alguns pontos básicos sobre democracia e política.

Espero que possam ajudar especialmente ao leitor que não está familiarizado com a política em geral. Para aqueles que tenham tempo, disposição, e mais conhecimento, indicarei artigos ou textos mais aprofundados.

Hoje há muito desencanto e indignação com o que ocorre em nosso país.  Só que os males que existem não devem nos deixar prostrados.  As adversidades existem para serem superadas. Se entendermos isso já daremos um grande passo para que a esperança surja no horizonte.

Notas:

       
 A crise atual é muito profunda mas não deve nos fazer esquecer que há muita coisa boa acontecendo e muita gente lutando pelo bem., o que, infelizmente, não é destacado devidamente. Todo esse bem é motivo de alegria e esperança. Não vê-lo pode esfriar em nós a disposição de lutar.

1.Em um sentido mais específico Política é “a arte de governar, ou seja, a arte de fixar objetivos conforme o bem comum, e orientar sua conquista ou manutenção”.

2.A crise atual é muito profunda mas não deve nos fazer esquecer que há muita coisa boa acontecendo e muita gente lutando pelo bem., o que, infelizmente, não é destacado devidamente. Todo esse bem é motivo de alegria e esperança.

3.Muita gente foi enganada por partidos que se afirmavam éticos. Ora, a ética é parte da filosofia que nos ensina como deve ser o comportamento humano. Acontece que o eleitor comum não sabe que existe uma ética aristotélica ou tomista; uma ética pragmática ou uma ética de princípios; uma ética kantiana ou uma ética marxista. Em suma, quando um candidato se apresenta como ético, se ele não disser quais são os princípios fundamentais de sua ética, ele não estará dizendo absolutamente nada. Se eu afirmo que sigo uma ética tomista ou jusnaturalista segue-se que vou afirmar que ninguém, nem o indivíduo e nem o Estado têm o direito de, voluntariamente, matar um inocente. Por outro lado, se alguém segue uma ética consequencialista ou de resultados, ele admite que mesmo um inocente pode ser eliminado se isso for considerado benéfico para a sociedade. Governos nazistas não viam nenhum problema em eliminar sumariamente doentes mentais. Já o marxismo considera que se pode mentir ou matar inocentes se isso for favorável à causa revolucionária. .