domingo, 31 de maio de 2009


OBAMA E O CARÁTER PROCESSIVO DA CULTURA DA MORTE


Valter de Oliveira




Até agora nem uma só vez fiz comentários sobre a eleição de Barack Obama e nem sobre seus primeiros meses de governo.

Não fiquei nem um pouco entusiasmado com sua vitória, e nem a desejei. Sabia o suficiente sobre seu passado político e seus ideais para não me deixar levar pela propaganda da mídia.

E antes que algum desavisado me acuse de preconceituoso quero dizer que não apoio ou discordo de pessoas por atributos acidentais tais como simpatia, beleza, cor da pele, gênero ou raça. Ou se torcem para o meu time de futebol. Um candidato político tem que ser escolhido por suas qualidades éticas, pela justiça de seus ideais, por seu compromisso com o verdadeiro bem comum, por sua coerência de vida. .

Os que foram seduzidos por slogans como “Yes, we can”, esqueceram de se perguntar o que Obama poderia mudar na grande nação americana e no mundo. Todos podemos mudar. Para melhor e para pior...

No Brasil poucos sabem que Obama fora um dos mais radicais abortistas do Senado Americano. Talvez por isso não espanta que pessoas decentes, grandes defensoras da cultura da vida, mas desinformadas e também ingênuas, tenham se alegrado com sua vitória. Não é bom ver pela primeira vez um presidente negro? Não é bom para a democracia que um jovem simpático, bem falante, agradável, carismático assuma o poder?”

Claro que seria, desde que assumisse o poder baseado em verdadeiros valores. Sucede que Obama e seu séqüito fazem parte da corrente ideológica que defende e propaga a cultura da morte. Cultura que, ao negar o valor inviolável da vida, nega o próprio homem e, por conseqüência, a liberdade e a verdadeira democracia.

Barack Obama, dissemos, sempre foi um radical abortista. Tal como Hillary Clinton. Ele defendeu veementemente no Senado que uma criança nascida após uma tentativa de aborto poderia ser eliminada logo após o nascimento. Assim mesmo, sem atenuantes. (1)

Por isso não foi surpresa que uma de suas primeiras medidas foi abolir uma lei dos republicanos que impedia o financiamento do aborto em outros países (2).

Tal como Lula e a esquerda latino-americana Obama procura favorecer legislações internacionais contrárias ao direito natural em relação à vida humana.

As feministas abortistas, por exemplo, lutaram e lutam para que o aborto possa ser praticado pelo simples desejo da mulher. Mas não são bobas. Há 50 anos sabiam que nenhum país no ocidente aprovaria lei tão radical. Era necessário se chegar ao fim último por um processo gradual, mais ou menos rápido conforme os valores e a resistência da opinião pública de cada país. Na Europa e nos EUA avançaram realmente bastante.

No nosso caso, onde a lei é ainda bastante restritiva, querem que o Legislativo – ou o Judiciário que no Brasil resolveu fazer leis- aprove o aborto de anencéfalos. Já será um primeiro passo. Depois será a vez de outros deficientes. E assim por diante. Recentemente mudaram o discurso. Simplesmente não se fala no feto. Fala-se em saúde pública, sofrimento de jovens grávidas que sofreram abusos, mães pobres que não podem cuidar de outro filho. Toda essa luta, financiada pelo governo federal, é para, no fim, se aprovar o que tanto querem, ou seja, a criança só deverá nascer se a mulher quiser. Afinal, abortar ou não, seria um problema só dela. Só ela teria o direito de decidir. (3)

Só há um problema. Os defensores dessas idéias não têm a intenção de parar por aí. A questão é simples. Não basta a liberdade em esquecer a ética. O último passo consiste em perseguir e punir criminalmente os que defendem os valores da vida.

Alucinação de minha parte? Não. Pura realidade.

Na Europa, já há um bom tempo, as feministas lutam para que sejam aprovadas leis que penalizem médicos e enfermeiras que se recusem a praticar o aborto. Querem negar-lhes o direito à objeção de consciência.

Barack Obama gostou da idéia. Resolveu colocá-la em prática nos EUA. “Yes, we can!”

Artigo da Zenit de 8 de abril mostra que a Conferência Episcopal dos Estados Unidos e numerosas organizações cristãs uniram-se pedindo aos fiéis e cidadãos que lutassem contra o projeto do governo que pretende proibir a objeção de consciência aos profissionais da saúde.

Entre as associações está a Cardeal Newman Society que, em um comunicado à imprensa, faz um apelo pungente:

«Por favor, os médicos e as enfermeiras que estão a favor da vida precisam da sua ajuda hoje mesmo!» (4)
Artigo de Notícias Globais, de Buenos Aires, intitulado “A perseguição anunciada” cita o que a administração Obama fez em poucos meses de governo:

(...) podemos enumerar a “exportação” do aborto como direito humano a todo o mundo; a anulação das disposições que asseguravam a objeção de consciência aos profissionais da saúde, a distribuição sem receita a menores da “pílula do dia seguinte”; o financiamento da experimentação com embriões humanos, o corte total de recursos tanto aos programas de educação na abstinência sexual e como aos programas de experimentação com células mães não-embrionárias .Além disso, deu seu apoio ao projeto de lei contra a discriminação, que inclui a discriminação por orientação sexual e o crime de ódio, duas figuras jurídicas impulsionadas pelo movimento homossexual que atentam contra a liberdade de expressão, a liberdade de ensinamento e a liberdade religiosa; tomou medidas administrativas reconhecendo supostos direitos aos casais do mesmo sexo, e promove o projeto de revogação da legislação favorável ao matrimônio. (Defence of Marriage Act-DOMA), além de uma longa lista de privilégios para a comunidade “LGTB” (homossexual), (Life Site, Special Report II, 08-05-09; vid. NG 915, 922, 951, 953, 955, 957, 96)

E agora vem o lado paradoxal e trágico: apesar de tudo isso, a Universidade Católica de Notre Dame resolveu homenagear Obama!

De nada valeram os protestos de bispos e associações católicas. O Reitor, invocando a autonomia universitária, homenageou quem nega o direito natural e os valores cristãos.

A Universidade, tão acolhedora, tão amante da inclusão, especialmente tão carinhosa com membros da comunidade LGTB (5) aplaudiu Obama.

Só não foi tão acolhedora com um padre idoso que resolveu protestar. Convido meus leitores a assistir o vídeo. Fica mais fácil entender o que ameaça desabar sobre nós também no Brasil. Aqui, a lei da homofobia, patrocinada pelo PT, também quer algemar e colocar nas grades quem defende os verdadeiros valores humanos.

É hora de resistir. E confiar. Vale a pena.



Notas

1. Veja a menção a esta lei americana no discurso de Gianna Jessen, jovem americana que escapou de um aborto.

2. O que, conforme notícia da época, repercutiu mal no Vaticano. Artigo do prof. Cláudio de Cicco, intitulado “Abrindo mal uma nova era” analisa muito bem o que a medida de Obama significava. E conclui:

Barack Obama invocou a benção de Deus sobre os Estados Unidos, no seu discurso como candidato vitorioso. Por que então, logo em seguida, feriu gravemente a vontade divina, patrocinando o aborto? Mau sinal. A menos que retroaja, o novo presidente americano corre o grave risco de passar para a História como o presidente que começou uma “Nova Era” de desgraças para o povo yankee e para o mundo. Deus tal não permita.

3. Certa vez, em um seminário apresentado em minha aula de Estudos Brasileiros, um grupo de meninas apresentou um “projeto de lei” (cada grupo apresentava um tema que escolhera livremente) favorável à liberação do aborto. Foram radicais. No final a representante do grupo defendeu claramente que para que fosse praticado bastaria que fosse aceita a vontade da mulher. Como seu namorado estava na sala perguntei: Supondo que você se case com um ótimo rapaz e vocês se amem muito, que são saudáveis e têm muito boa situação financeira, e você descobre, três meses após o casamento que está grávida, mas seu plano era ter um filho só mais tarde. O que você faria?
Resposta: abortaria. Sem dúvida nenhuma!
Olhei para o namorado e perguntei a ela: E se o seu marido não concordar?
Resposta: ele não tem nada a ver com isso!
E há quem se case sem jamais conversar sobre temas tão relevantes... É a casa edificada sobre a areia.

4. As organizações criaram um site, www.freedom2care.org, para recolher assinaturas, informar as pessoas do que está em jogo a fim de resistir à lei totalitária de Obama.. Há também na rede o site de proteção de consciência da Conferência Episcopal: http://www.usccb.org/conscienceprotection/.
Ver também: freedom2Care: http://www.freedom2care.org

As organizações criaram um site, www.freedom2care.org, para recolher assinaturas para apresentar este pedido e informar as pessoas do que está em jogo.
http://www.usccb.org/conscienceprotection/
Freedom2Care: http://www.freedom2care.org

5. Corresponde no Brasil à sigla GLTS.