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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

ESQUERDA BRASILEIRA E REVOLUÇÃO GRAMSCIANA



Valter de Oliveira



Recebi de um sacerdote amigo um e-mail com as seguintes afirmações:


"O artigo é muito bom. Creio que para entender a situação atual se deve ler Antonio Gramsci. O domínio do marxismo virá não pela luta de classes, mas pela conquista da cultura. cfr.Brasil atual. Não querem a ditadura do proletariado (já viram que não funciona), querem o domínio da cultura e estão a caminho".


Respondi dizendo que concordava com ele e que iria colocar no site texto de um líder comunista - Santiago Carrillo, Secretário Geral do Partido Comunista Espanhol que encontrei, tempos atrás, em artigo do Coronel Jorge Baptista Ribeiro, no site Sacralidade. (1) Os trechos que vou colocar foram retirados por ele do livro de Carrillo, intitulado Eurocomunismo e Estado, publicado em 1977.


Nele é explicado como o neocomunismo marxista pode e deve tomar o poder nas sociedades capitalistas.


Seguem os trechos traduzidos por Jorge Baptista. Os destaques em negrito são do site:

(...)."a estratégia das revoluções de hoje, nos países capitalistas desenvolvidos, tem que orientar-se no sentido de ganhar os aparatos ideológicos do Estado - e não destruí-los como prevê a doutrina leninista - para transformá-los e utilizá-los contra o poder do Estado do capital monopolista. Entre os aparatos ideológicos que atuam sobre a consciência humana estão os religiosos, os familiares, os jurídicos, os políticos, os de informação - imprensa escrita, rádio e televisão - e os culturais. A experiência moderna mostra que isso é possível . E aí está a chave para transformar o Estado por uma via democrática.

(...) atualmente a Universidade e os docentes se convertem com freqüência em focos de impugnação da sociedade capitalista graças ao nosso persistente trabalho..

(...) a Universidade ocupa um lugar privilegiado na atividade das forças políticas revolucionárias. Não apenas pela grande concentração de massas jovens, disponíveis para a ação, como também por ser ali que se formam os quadros para integrarem os aparatos ideológicos da sociedade e onde se semeiam as idéias marxistas e progressistas com um dos meios mais eficazes para assegurar e ganhar, pelo menos parcialmente, esses aparatos. À medida que as novas gerações se incorporarem à profissão esse fenômeno se estenderá e a impugnação à justiça burguesa tradicional se fará mais amplamente (...).

(...) .entre os aparatos ideológicos do Estado e da sociedade capitalista moderna estão os meios de comunicação: a televisão , o rádio e a imprensa escrita. Estas são hoje as armas ideológicas mais eficazes, porque penetram em todos em todos os lugares, umas vezes de modo agressivo e outras de forma sutil, desempenhando um papel alienante e embrutecedor ....

(...) a condição prévia é lutar por uma autêntica liberdade da cultura.(sic) O florescimento e a extensão da cultura são o terreno em que as idéias revolucionárias e progressistas podem firmar-se e influir cada vez mais, decisivamente, na marcha da humanidade penetrando e transformando os aparatos ideológicos da sociedade para as idéias revolucionárias ....

(...) a atitude que devemos adotar é, em substância, a luta pela conquista de posições, na medida do possível, nos aparatos ideológicos da sociedade, para as idéias revolucionárias ....

(...) uma das grandes tarefas históricas atuais para a conquista do poder do Estado e seus componentes, pelas forças socialistas, é a luta determinada, resoluta, inteligente, para voltar contra as classes que estão no poder a arma da ideologia e, consequentemente, os aparatos ideológicos, pois nenhuma classe pode conservar o poder do Estado se perde a hegemonia dos aparatos ideológicos (...).

(...) torna-se necessário que o Partido Comunista e todos os partidos que lutam pelo socialismo e, em geral, as forças transformadoras da sociedade assumam ante os aparatos coercitivos do Estado e seus componentes, um atitude distinta da que tem historicamente adotado. Quando há uma manifestação ou uma greve, não são os dirigentes do Banco do Estado que vão à rua enfrentar os grevistas ou os manifestantes. São as forças da ordem, a polícia e , em casos extremos, o Exército que o fazem. É esse papel que o poder do Estado do capital monopolista confere as Forças Armadas que devemos impugnar. Trata-se de lutar, por meios políticos e ideológicos, a fim de impor um novo conceito de ordem pública mais democrático e, de levar esse conceito à mente dos componentes das forças da ordem(...)

(...) é verdade que nós, comunistas , revisamos teses e fórmulas que, em outros tempos, eram artigos de fé. Mas não abandonaremos as idéias revolucionárias do marxismo: as noções de luta de classes, o materialismo histórico e o materialismo dialético. Não estamos retomando à social-democracia. Em primeiro lugar porque não descartamos de nenhuma maneira a possibilidade de chegar ao poder revolucionariamente, se as classes dominantes fecharem os caminhos democráticos e se surgir uma conjuntura em que essa via seja possível."


É isso aí, em resumo, diz Jorge Baptista, a metodologia de ação dos que tentam, sorrateiramente, de maneira pérfida, assassinar a alma de um povo, aniquilando sua liberdade - um direito fundamental do Homem. Infelizmente, muitos só a valorizam quando a perdem.


Completo com outra observação: a revolução gramsciana é tão bem orquestrada que engana não poucas pessoas que, sem dúvida, jamais pactuarian, conscientemente, com os princípios marxistas e a cultura da morte.


Com efeito, a revolução cultural gramsciana produzida pelos chamados intelectuais orgânicos, ao conquistar o monopólio do discurso, ao modificar o "senso comum" consegue que muitos se tornem reféns do patrulhamento ideológico e do políticamente correto. Os cidadãos, inclusive os de bom nível intelectual, diz Sérgio Augusto de Avellar Coutinho - especialista no tema - "acabam sendo convencidos de certas "verdades" e concordando com certas explicações que trazem enganoso apelo patriótico, (ou social ), e tornam-se prisioneiros da ideologia da esquerda. (2)


Cabe a todos nós, como o tem feito de forma contínua documentos do Vaticano, alertar a sociedade para os perigos que ameaçam devorá-la.



Notas:


1. Site da Sacralidade - www.sacralidade.com

2. COUTINHO, Sergio Augusto de Avellar. Cadernos da Liberdade, uma visão do mundo diferente do senso comum modificado. Belo Horizonte. Ed. Sografe, 2003.

(o destaque incluído é do site).



sexta-feira, 12 de dezembro de 2008




MORAL MARXISTA: A PRÁTICA

Valter de Oliveira


Em artigos anteriores procurei mostrar que a esquerda brasileira, e em especial o PT, tem uma visão da moralidade das ações humanas baseada no relativismo marxista. Afirmei também que esta visão da moral que estão implantando na sociedade e na legislação brasileiras, é uma verdadeira revolução cultural conforme o modelo do marxista italiano Antonio Gramsci. (1)

Esta visão, que é desconhecida do grande público, entra violentamente em choque com aquilo que o cidadão comum pensa ser ético.

Vamos aos fatos.

1. O povo e o terrorismo.

O que pensa o cidadão comum sobre o terrorismo? É fácil responder. Basta perguntar ao seu vizinho, a seus amigos, ao vendedor de hot-dog da esquina. Todos vão considerá-lo criminoso. Ninguém entende porque inocentes devem morrer por causa de razões políticas, religiosas ou quaisquer outras. Não importa se quem pratica as ações são separatistas bascos, fanáticos da Al-Qaeda, narco-marxistas das FARC ou pretensos católicos do IRA. Havendo atentados a indignação popular é geral.

2. Mas há exceções.

Onde? Nas cátedras universitárias, setores da mídia, e em certos partidos políticos. É a “intelectualidade” revolucionária. Temos muitos exemplos deles no governo atual. Para estes, o terrorismo – e também a tortura – só são crimes, se forem usados contra militantes da esquerda.

3 – A Lei da Anistia

Como é sabido, Em agosto de 1979, o governo FigueiredoGeisel, promulgou a lei da Anistia que tinha por características ser “ampla, geral e irrestrita”. Entendeu-se que aí estavam incluídos crimes praticados por ambos os lados. Teríamos, assim, a volta dos exilados e condições para o retorno à democracia em mãos de civis.

No poder, setores da esquerda entenderam que a interpretação da lei deveria ser outra. O ministro da Justiça, Tarso Genro, e o secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, colocaram-se como expoentes desta posição. O PT os apoiou. Passaram a advogar o julgamento dos torturadores que, no mínimo, deveriam ser obrigados a reconhecer publicamente seus crimes e retratar-se deles. Os mais radicais pediam punições. A polêmica pegou fogo. Lula, como sempre, fez de conta que não tinha nada a ver com o peixe. No máximo disse que era problema para o STF resolver.

Tarso Genro e Vannuchi não arredaram pé. Citando legislação internacional afirmaram: o crime de tortura é imprescritível!

Com tanto barulho oficiais da reserva das Forças Armadas reagiram. “Se é para julgar crimes vale para os dois lados. Tem muita gente no governo que vai ter problemas.”

Quando a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, também disse que “os torturadores do período de regime militar não são beneficiados pela lei da anistia”, a imprensa foi perguntar ao presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, o que ele pensava da declaração dela. Sua resposta foi:

“Os crimes de terrorismo são imprescritíveis, assim como os delitos de tortura (...)” (2)

O debate esquentou na mídia. Começaram a divulgar as proezas de Dilma como terrorista.

E o que fez a esquerda? A do PT, boazinha, aburguesada, que adora whisky e festa no arraial do Planalto, saiu em defesa dos companheiros. Seguiu a cartilha de Lênin. Desmascarou-se. Eis o texto:

Executiva Nacional do PT texto oficial de 07 de novembro de 2008.
Nota sobre a Tortura, Anistia e Direitos Humanos

O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores reafirma as resoluções sobre Direitos Humanos aprovadas no 3º. Congresso Nacional do PT:

a) crimes contra a humanidade não prescrevem;

b) a Lei da Anistia de 1979 não beneficia quem cometeu crimes como a tortura nem impede o debate público, a busca da verdade e da Justiça;

c) a punição aos violadores de direitos humanos é tarefa da Justiça brasileira. Esperamos que o Poder Judiciário atenda aos reclamos das vitimas, especialmente dos familiares de mortos e desaparecidos.

O Diretório Nacional repudia os ataques difamatórios feitos por setores conservadores e antidemocráticos contra os companheiros Paulo Vannucchi e Tarso Genro no exercício do dever oficial de promover o debate público. Ainda, repudia os ataques e as tentativas de descaracterização da militância política dos companheiros Dilma Roussef e Franklin Martins quando da LEGÍTIMA RESISTÊNCIA ao regime ditatorial ao lado de outros milhares de perseguidos políticos. (Destaque nosso)

Cabe ao Governo Brasileiro seguir defendendo, coerentemente, o repúdio à tortura. Cabe ao Poder Judiciário pronunciar-se definitivamente sobre a matéria, de acordo com os princípios de direitos reconhecidos universalmente.

Aí está a caracterização da moral ou da ética política de amplos setores de nossa esquerda. Torturar um militante esquerdista fere os direitos humanos. Seqüestrar, justiçar, matar militares ou executar civis inocentes em atentados terroristas, não. O militante luta pela revolução, pelo partido, pela causa, pelo proletariado. É legítima defesa. É luta contra o Estado da classe dominante. Não viola os inalienáveis direitos da pessoa humana.

Curioso que os terroristas e guerrilheiros, no Brasil e no mundo, jamais perguntaram à s suas sociedades se estas queriam ser defendidas com o derramamento de sangue inocente. Não precisa. Eles são os iluminados. Conhecem o marxismo científico. E podem mentir, roubar, matar.

Terminemos com algumas perguntinhas:

1. Se os governantes que permitem ou aplicam a tortura cometem crime imprescritível o PT vai começar uma campanha mundial pela punição de torturadores cubanos, vietnamitas, russos e chineses?

2. Se torturadores são tão abjetos, por que o entusiasmo de Lula e Dilma pelo General Giap e Ho Chi Mihn? Será que soldados americanos e franceses foram tratados com a dignidade exigida pela Convenção de Genebra? (3)

3. Se é abominável torturar terroristas e guerrilheiros que assassinaram inocentes não é também monstruosa a tortura contra os que são totalmente inocentes? Neste caso porque os ideólogos da esquerda defendem o aborto que poderia ser realizado inclusive em estágio de gravidez avançada? E até ao nascer, como é defendida pelas feministas radicais aninhadas nos partidos e movimentos de esquerda? Despedaçar tais crianças, jogar ácido nelas, arrancar-lhes o cérebro, não é tortura? Tal barbaridade não é crime imprescritível?

E a “intelectualidade” na mídia e nos livros didáticos continuam nos garantindo que revolucionários marxistas são humanistas. Haja doutrinação!

PS: Vou mandar as questões para o blog do Zé Dirceu. Talvez também para o ministro Tarso Genro. Vocês acham que eles vão me responder?

1. Falaremos sobre a revolução gramsciana em breve
2. Comparem com a postura do Papa João Paulo II que condenou o terrorismo do IRA.
3. Por Chico de Gois - O Globo - 11/07/2008 Lula pede para herói da Guerra do Vietnã tire foto com Dilma


HANÓI (Vietnã) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva no encontro com o general Vo Nguyen Giap, herói nacional e principal estrategista do Vietnã nas guerras pela independência da França e contra os Estados Unidos, pediu que ele aceitasse tirar uma foto ao lado da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a quem Lula descreveu como uma das adoradoras do líder de 97 anos.

- Queria pedir um favor - começou Lula, dirigindo-se a Vo Nguyen Giap.

- Aquela moça (apontado para Dilma) é minha ministra do Brasil, foi na sua juventude militante de esquerda, ficou três anos e meio na cadeia e ela tem pelo senhor uma verdadeira adoração - apresentou o presidente.

Dilma, que até então se mostrava séria, e cuja presença no Vietnã ainda era uma incógnita, esboçou um leve sorriso, entre feliz e encabulada. Levantou-se, dirigiu-se ao velho líder e deu-lhe dois beijos na face.
(Não é encantador?... que impacto teria na mídia se os beijinhos fossem em Pinochet?)

domingo, 23 de novembro de 2008





POLÍTICA E ELEIÇÕES:
A MANIPULAÇÃO DA ÉTICA


Valter de Oliveira


O motivo que me faz escrever esta breve análise sobre alguns aspectos da política partidária brasileira é a necessidade de mostrar como o tema ética na política tem sido abordado de modo completamente equivocado pela nossa mídia. Equívoco ainda mais preocupante quando vemos pessoas de alto nível moral e intelectual serem enredados nas teias de uma falsa ética. Explico-me.

No final do século passado amplos setores da sociedade brasileira estavam cansados de corrupção política. Para muitos, a vitória do PSDB após o sucesso do plano Real, representava a esperança de uma nova forma de fazer política. Houve melhoras em alguns pontos, sem dúvida, mas longe do que era desejável. Para piorar, FHC não usou seu segundo mandato para fazer as reformas há tanto tempo prometidas. Vários erros de seu governo, e a crise internacional, contribuíram para que o eleitorado passasse a ver esperança em outra seara.

Esperta, a esquerda brasileira havia levantado com força a questão da ética na política. Se o governo, por exemplo, socorria o sistema financeiro, o PT e seus aliados bradavam: “É legal, mas não é moral”. Diziam que era Robin Hood às avessas. Tirava-se do povo para ajudar os ricos. O canto da sereia foi parecendo cada vez mais simpático.

Em 2002 o PT foi ficando mais afável e atraiu antigos adversários. Cresceu o discurso da ética na política. Os marqueteiros foram chamados – e regiamente pagos – para dar os retoques necessários. Ajeitaram a barba de Lula, enfiaram-no em ternos com cortes mais distintos, descoloriram um pouco a bandeira vermelha, acenaram com mil esperanças para os pobres. Os empresários foram sendo cooptados. A classe média, cansada dos desmandos da “direita” (?), sucumbiu. Estava na hora de entregar o País para quem iria gerir com honestidade a “coisa pública”. Assim, muitíssimos brasileiros, (1), que nada têm de socialistas, resolveram dar uma chancezinha ao PT! E Lula venceu as eleições de 2002.
E depois?

Depois, as camadas mais pobres se sentiram amparadas. Tudo parecia melhorar. Lula parecia o rei Midas: tudo o que tocava virava ouro. E a mídia propagava suas proezas. Até que começaram os escândalos. Um, dois, cem, uma infinidade. Cada vez mais o PT se afundava neles. E o presidente nada sabia... Um professor de Harvard indignou-se contra o mar de lama. Afirmou que era o governo mais corrupto do governo republicano. Exigiu impeachment! Hoje é ministro do governo Lula...Sem constrangimentos...(2)

Após longo e tenebroso inverno a classe média começou a acordar. E, graças a Deus, o povo também. Mas continua de pé a pergunta: Por que até mesmo a classe média, que teóricamente tem mais meios e informações para não cair nas garras da mídia gramsciana, foi tão habilmente enganada?

Na verdade tudo acontece porque, como dissemos no início, deixamo-nos enganar por um conceito errado do que é ética.

Ética é só honestidade financeira?

A grande mentira que nos estão impingindo é que político ético é o que não rouba. Alguns “roubavam, mas faziam”. Com o governo Lula teria chegado o tempo de fazer sem roubar. Como se isso bastasse para termos um governo ético. Aliás, até mesmo a honestidade não pecuniária ficou em segundo plano. Não tem importância a aliança política com todos aqueles que, anos antes, eram tidos como corruptos, imorais, inimigos do povo, lacaios do FMI, etc, etc. Menos ainda o que se prometeu durante anos: não ao pagamento da dívida externa, auditoria dos empréstimos internacionais, possibilidade de salário mínimo acima de R$ 600,00 (ou até mais) desde que houvesse vontade política, etc. Tudo isso foi colocado de lado. A nova oligarquia sindical aliava-se à oligarquia dos coronéis. O fisiologismo cresceu como nunca. Coerência não faz parte dessa estranha ética.

Pior foi constatar, ao conversar com alunos e amigos, que muitos não tinham percebido os males dessa ética reducionista. Tanto em aula quanto em conversas lembrei alguns pontos:

1. Se prestarmos atenção veremos que nenhum de nós, no dia a dia, temos um conceito tão simplista da conduta moral de uma pessoa. Ninguém diz: “Meu vizinho é um homem admirável: é bom empresário, trata com dignidade seus funcionários, paga seus impostos, respeita o consumidor. É verdade que espanca violentamente o filho de dois anos e trai a esposa... mas é profundamente ético!”.

2. Robespierre tinha a reputação de incorruptível, o que não o impediu de dirigir a fase mais sanguinária da Revolução Francesa: o Terror. Nossos livros didáticos mostram-se encantados com os aspectos positivos do governo jacobino: abolição da escravidão nas colônias, fim de privilégios feudais, tabelamento de preços, laicização do Estado. Que belos democratas! Que importa que milhares foram condenados à guilhotina, que no altar de Notre Dame se colocou uma prostituta nua simbolizando a liberdade, que em Paris só se podia produzir o pão da igualdade, que....

3. Ainda nesta linha de raciocínio gostaria de relembrar um anúncio feito pela FSP, se não me engano no final dos anos 90, no qual o jornal queria mostrar seu compromisso de informar inteira e honestamente seu leitor. Começava sem imagem, só se ouvia a voz de um locutor:

- “Ele acabou com a inflação no seu país”!
- “Ele acabou com o desemprego”!
- “A economia voltou a crescer!”
- “O povo voltou a sentir orgulho de sua pátria!”
- “Ele... (e aí aparecia uma foto de Hitler)

E a conclusão do anúncio:

-“Você pode mentir dizendo só a verdade!”

Encerrei esta parte comentando com meus alunos que se eu vivesse na Alemanha no início dos anos 30 teria muita dificuldade em alertar a muitos do perigo nazista. Este era um partido trabalhista, que se dizia preocupado com o bem-estar do trabalhador e com as injustiças sociais. Prometia também o fim do caos capitalista, emprego para todos, não ao Tratado de Versalhes e tantos outros males. E claro, um reino glorioso de mil anos! . Como lembrar a meus compatriotas que deveriam ler o que Hitler escrevera no “Mein Kampf”? Ali estava prenunciado todos os horrores do nazismo. Não deveríamos levar as palavras do führer a sério?

Na época muitos foram ingênuos. Desde o homem comum na Alemanha até Chamberlain na Conferência de Munique. O primeiro teve muito menos responsabilidade. É o homem que cuida de sua família, preocupado com seu trabalho, normalmente distante de debates e estudos políticos e filosóficos. O segundo, movido por um falso idealismo, querendo a paz a todo custo, não soube ver com quem negociava. Voltou de Munique acreditando que obtivera a paz para o mundo. Em Londres, ao saber do teor do Tratado, Churchill então deputado no Parlamento, exclamou: “Tínheis que escolher entre a vergonha e a guerra, escolhestes a vergonha e tereis a guerra”.


Qual ética?

Quando o político fala em ética ele, em geral, procura passar a imagem que sabe que o público quer ouvir. A ética do povo em geral é a do senso comum, conforme a cultura do país. Em nosso caso a população considera ético o que é ainda, em vários pontos, conforme valores e condutas baseados em princípios do cristianismo e do direito natural. Já o político utiliza a ética de Maquiavel temperada com outras filosofias:, positivismo, pragmatismo, marxismo, até mesmo liberalismo e, pasmem, a escolástica de S. Tomás.(3) Portanto, em geral, ao falar em ética, ele não está dizendo absolutamente nada. Se quisermos saber o que realmente ele pensa temos que apelar para outras informações além daquelas transmitidas pela mídia. O programa do Partido pode ajudar. Pelo menos nos casos dos partidos mais ideológicos como é o caso do PT e de outros de esquerda mais radical. Só conhecendo mais profundamente as idéias e o comportamento dos políticos e dos partidos é que poderemos dizer se eles são ou não éticos. E nós também deveríamos saber que ética estamos usando ao julgá-los.

Bem, já me alonguei demais. Falta explicar o que Marx, Lênin e companhia Ltda consideram ser ético ou moral. Eles não escondem. Está nos escritos deles. E mais ainda na prática. É tema para outro artigo. Para o qual conto com sua imensa paciência.


(1) Após as eleições fiquei surpreso ao saber que vários amigos, inclusive bons católicos, haviam votado no PT. Razão: acreditavam que o PT era um partido mais ético!

(2) O professor é Mangabeira Unger que chegou a dar aulas para Obama. Hoje é ministro Extraordinário de Ações Estratégicas..Para não cansa-los coloco suas palavras no blog outro dia.

(3) É o caso do MST e dos ideólogos das CEBs que deturpam o conceito de S. Tomás sobre a propriedade.