domingo, 3 de novembro de 2024

O NEOLIBERALISMO ECONÔMICO FERE A DOUTRINA CATÓLICA?

 


Valter de Oliveira

A pergunta tem uma razão de ser: nos séculos XVIII e XIX as ideias iluministas, que produziram o liberalismo político e econômico, atacaram fortemente a Igreja, e não somente no campo das ideias. Isso se deu principalmente na França onde  muito sangue católico foi derramado. Assim sendo, nada mais natural que encíclicas papais tenham sido duras com a ideologia liberal e denunciado os abusos da economia capitalista durante a Revolução Industrial européia. 

Acontece que as filosofias ou ideologias mudam, ou se adaptam, conforme novas circunstâncias e até oportunismos. Um exemplo é o liberalismo econômico, que inicialmente defendia apenas o Estado "gendarme" (1), mas depois, com o tempo, passou a admitir uma ação efetiva do Estado também na vida econômica. 

Um dos expoentes desse novo liberalismo econômico é Friedrich H. Hayek, um dos pais da chamada Escola Liberal Austríaca. Ele escreveu, em 1944, o livro "O Caminho da Servidão". Neste  defendeu a liberdade humana no campo político, social e econômico opondo-se aos totalitarismos da época: o nazi-fascismo e o comunismo. Curiosamente também criticou o capitalismo intervencionista e pseudoliberal que dominava os EUA e vários países europeus. Tarefa nada fácil dado que o liberalismo, desde 1929, com a famosa queda da Bolsa de valores de Nova York, passou a ser tido como superado e até inaceitável. 

No Brasil a segunda edição deste livro foi publicada pela Globo em 1987. O prefácio é de Adolpho Lindemberg, conhecido por ser um pensador tradicionalista que, apesar de reconhecer algumas lacunas de Hayek no campo religioso, não deixa de ver valores positivos no chamado neo-liberalismo, destacando-se sua rejeição a toda forma de socialismo cuja adoção seria um caminho para a servidão.

Adolpho Lindemberg
Lindemberg afirma peremptoriamente: "seria um erro grosseiro confundir o chamado neoliberalismo econômico com essa heresia tantas vezes condenada pela Igreja". E continua:

"O neoliberalismo, como observa Louis Baudin, um dos representantes máximos dessa escola, rejeita unanimemente o laissez-faire, laissez-passer do século XIX; é um conjunto de correntes de pensamento bastante diversas, cujo traço comum é o respeito pela pessoa humana e a utilização da iniciativa individual como base da vida econômica, uma vez que apenas o mecanismo de preços, funcionando num mercado livre, permite um aproveitamento ótimo dos recursos naturais e dos meios de  produção (cf. BAUDIN, Louis, L'Aube d'un Nouveau Libéralisme, Paris, Génin, 1953. p. 146 e 150. Isso não exclui, mas até supõe a ação do Estado: tanto para proteger o regime de livre concorrência, quanto para administrar a justiça, e para, realizar, subsidiariamente, tudo aquilo que a iniciativa particular não possa fazer. É portanto muito ampla a missão do Estado numa economia neoliberal. Só não é permitido a este, em matéria econômica, desvirtuar o regime de livre concorrência, substituir-se aos particulares em nome de uma deificação dos poderes públicos, intervir no mercado a fim de impor um plano arbitrário concebido apriorísticamente por pretensos "engenheiros" do bem-estar social. É isso o que expõe Hayek tantas vezes, nesta obra, por exemplo às p.77-78 e 115-116 (2). 

"Assim sendo, só uma ignorância total do neoliberalismo - ignorância hoje dificilmente concebível num espírito lúcido e de boa-fé poderia ver algo da heresia liberal naquilo que constitui propriamente  o pensamento econômico de Hayek. Se em algumas considerações colaterais, e de ordem não econômica, dele discordarmos, deveremos ter presente que isso em nada há de afetar a linha-mestra da obra. É útil, aliás, sublinhar aqui que o neoliberalismo não é, de modo algum uma doutrina monolítica, hirta, inflexível. Mas seus partidários fazem questão de ressaltar sempre que, versando sobre uma realidade econômica sumamente complexa e mutável, o neoliberalismo pode e deve admitir em seu seio as interpretações mais variadas, as sugestões mais imaginosamente diversas, desde que se respeite escrupulosamente o princípio fundamental da economia de mercado. E nessa riqueza e liberdade de perspectivas, bem entendidas, não há latitudinarismo doutrinário, nem relativismo metafísico, mas só o bom senso que ensina ser impossível ao homem dogmatizar sobre matéria variável, livre, sujeita à riqueza das manifestações vitais.

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Termino pedindo a opinião dos amigos, especialmente liberais e tradicionalistas. Concordam com Adolpho Lindemberg? Ele interpreta bem a Doutirna Social da Igreja ou deixou-se seduzir pelo novo liberalismo? 

Notas:

1. Estado policial. É um estado que se limita a garantir a ordem e a segurança pública, deixando os dominios sociais e econômicos para a liberdade individual.  Nessa lógica, só para dar um exemplo, não competiria ao Estado nem mesmo estabelecer um salário mínimo regional ou nacional. 

2. Hayek não admite que a propriedade seja um privilégio, afinal todos podem adquiri-la pelas mesmas regras. Quem faz isso priva a palavra privilégio de seu "verdadeiro sentido". p. 77- Na p. 115 são citados casos em que o Estado pode e deve atuar na economia, como, por exemplo, desastres em todos os sentidos: "Sempre que a ação pública não pode defender-se e contra cujas consequências não pode precaver-se, tal ação pública deve, indubitavelmente, ser empreendida". 

Fonte: Hayek, Friedrich August von. "O caminho da servidão". trad. Leonel Vallandro"; 2. ed. São Paulo, Globo, 1977

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

AS PROPOSTAS POLÍTICAS ESTÃO LIGADAS A UMA IDEOLOGIA


 Valter de Oliveira


Vamos continuar nossas observações sobre as eleições municipais e os candidatos.

Nos debates eleitorais e em entrevistas os candidatos a prefeito apresentaram diferentes propostas. Escolas em período integral é uma defendida por todos. Mais atendimento hospitalar e melhoria nos transportes também.  

Então não há diferença? 

Claro que há. Ela pode estar na eficiência do trabalho executado pelo prefeito e/ou na sua visão de governo, do homem e do mundo. Ou seja, o político atua conforme princípios e valores, ideologia que adota e interesses de grupos econômicos ou categorias que o apoiam.  

Curiosamente há candidatos que procuram deixar em segundo plano sua visão de mundo. Simplesmente porque pode ser complicado explicar o que realmente desejam, pois assim correm o risco de perderem eleitores. Eis porquê Tábata e Boulos - que pertencem a partidos socialistas, jamais explicam o que é o socialismo que defendem. Nem como e quando será implantado. 


A filosofia política de Guilherme Boulos

O candidato é conhecido por sua particiapação em movimentos sociais, em especial  do MTST (Movimento dos Trabalhadores sem Teto), do qual é líder. Por lógica também apóia o MST (Movimento dos sem terra). Não há problema nisso. A lei permite que criemos ou pertençamos a movimentos sociais. A questão é que também aí temos que seguir leis, obedecer a justiça. Não está em nenhuma lei que eu, você, Boulos, quem quer que seja, possamos afirmar que uma propriedade não  está cumprindo sua função social e, devido a isso, tenhamos o direito de invadi-la. 

Pior é quando uma área particular é invadida e a Justiça determina que os invasores saiam dela. Isso acontece após um longo processo e onde não houve possibilidade de negociação. Quando o proprietário tem ganho de causa ele espera ter de volta sua propriedade. Oficiais de Justiça intimam os invasores e dão prazo para que se retirem.  Pois bem, em muitos casos desses o que fez Boulos e outros militantes sociais? Você sabe. Simplesmente insuflaram os invasores a resistir. Ou seja, para ele é lícito não obedecer ordens judiciais quando conveniente. Fica uma pergunta para Boulos: -"Vale também para Elon Musk?"    

Outro ponto. Boulos diz que desobedeceu ordem judicial por amor aos pobres. Mesmo? Ou porque ele sonha com uma sociedade onde não haja propriedade privada, livre iniciativa, capitalismo?

Nesta última eleição os socialistas e os partidos de esquerda em geral, preocuparam-se em dizer mil coisas que o Estado faria pelos mais necessitados. Não perceberam que muita gente prefere a liberdade de empreender, de crescer, ter sucesso, dependendo principalmente do próprio esforço. Marçal percebeu. Disse que seria capaz de criar 2 milhões de emprego com empreendedorismo. Soube ler melhor a realidade social. Resultado: muita gente votou nele. Foi uma disputa bem acirrada.

O desespero. Boulos lança "Carta ao Povo de São Paulo".

Pesquisas eleitorais favoráveis a Nunes fizeram com que a campanha de Boulos lançasse mão de mil artifícios para angariar eleitores. Usaram-se vários meios. Alguns não muito éticos. Finalmente, resolveram publicar uma "carta ao povo". 

Nela se reconhece que os famosos intelectuais de esquerda, aqueles que enchem a boca para dizer que  que estão sempre na periferia, que viveram ou vivem nela, não entenderam as mudanças que ocorreram nas camadas mais pobres. Pediram desculpas.

O fato foi comentado por um amigo, Marcelo Guterman, mestre em economia, numa rede social. Eis suas palavras:

Da chamada “Carta ao Povo Paulistano” de Guilherme Boulos, muito se falou do mea culpa da esquerda, que “esqueceu-se” dos pequenos empreendedores da periferia ao focar nos mais pobres. De minha parte, o trecho que me chamou a atenção foi o seguinte:

“Sei que boa parte de vocês está descrente da política, perdeu a esperança por achar que são todos iguais. E quando a gente vê quem aparece só de quatro em quatro anos, repetindo o que o marqueteiro falou, eu te entendo. É difícil diferenciar quem está de verdade do seu lado dos que querem te enganar.”

Este é o trecho em que Boulos descreve o seu próprio discurso. Ele só está “repetindo o que o marqueteiro falou”, fruto de pesquisas qualitativas. Grande parte dos paulistanos (e, porque não dizer, dos brasileiros), ainda acha que precisa trabalhar para conquistar o que deseja, e que invadir propriedade alheia é roubo, pura e simplesmente, ainda que seja glamourizado pela intelectualidade da esquerda.

Boulos sendo preso durante reintegração de posse em 17/01/2017


Boulos foi doutrinado e doutrinou dentro da práxis marxista. Ele já afirmou em entrevista que o MTST não é um movimento por moradia, mas uma mobilização do povo para “transformações sociais”, em que, supostamente, as estruturas capitalistas seriam derrubadas.

A sua afirmação de que, agora, quer ajudar os pobres a empreenderem, dentro de uma lógica capitalista, soa tão natural quanto um elefante vestido com um pijama pink com bolas amarelas. Por isso, a imagem do candidato que repete como um papagaio o que o marqueteiro lhe fala lhe cabe à perfeição.

Depois das eleições, a esquerda doutrinada poderá recomeçar a chamar o pobre empreendedor de “burro” por ser um “pobre de direita”. Falta pouco, gente.


            Invasão e depredação da FIESP em 13/12/2016, organizada por  Boulos, PT e CUT

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É isso amigos. Por hoje é só. Até amanhã,

PS. Acabei de ver na JP que Boulos aceitou ser sabatinado por Marçal. Em certo ponto o deputado afirma que não tem medo  de rejeição por causa das ideias que defende. "Todo mundo sabe quais são minhas ideias", disse ele. Todo mundo, deputado? Então porque desconversa quando pedem sua opinião sobre aborto, liberação das drogas, pauta identitária, cotas no sentido igualitário, críticas às polícias, etc. etc? Será que está bem claro seu apoio ao governo Lula, em todos os seus aspectos, inclusive seu alinhamento com a esquerda mundial? Entendem a simpatia de nossa esquerda pelo  Hamás?  Não caro  deputado, o sr. procura esconder sua verdadeira visão política. Se o povo a conhecesse, de verdade, sua rejeição seria ainda maior. 



quinta-feira, 24 de outubro de 2024

ELEIÇÕES: CANDIDATOS, PROPOSTAS, GOVERNO

 


Valter de Oliveira


Mais uma eleição.  Tivemos candidatos a vereador e à Prefeitura. Os 55 primeiros já foram eleitos. Os dois candidatos que ficaram para o segundo turno continuam debatendo e apresentando suas propostas. Como é habitual, infelizmente, sempre temos verdades e mentiras. Assim sendo, para facilitar a compreensão do processo político municipal vamos apresentar alguns esclarecimentos indicando, préviamente, alguns problemas. 

1.  A fulanização da política. 

Fulanização? Isso mesmo. Fulanizar é transformar a escolha eleitoral em um jogo no qual o que importa é a pessoa. Aí, enfatiza-se mais as pretensas qualidades de um ou  outro candidato e deixa-se em segundo plano princípios, valores, ideologia partidária, etc. Assim, como vimos na atual eleição, os candidatos se preocuparam mais em atacar pessoalmente os adversários do que discutir os problemas da cidade. 

Todos têm culpa? De certo modo sim. Igualmente? Não. Se você assistiu os debates sabe muito bem quem foi que mais procurou atacar a honra do outro. 

A fulanização fica mais flagrante quando um candidato se apresenta como capaz de resolver os problemas da cidade simplesmente porque ele é bom, porque promete muitas coisas Ao fazer isso faz um desserviço à democracia, procurando enganar o eleitor. Por quê? Porque passa ao eleitor a ideia que ele, em um cargo executivo, poderia agir com mais autoridade do que um antigo rei absoluto. Não pode. Para muitas de suas promessas ele depende da aprovação dos vereadores. O prefeito pode elaborar o orçamento que inclui onde e quanto vai gastar em determinado ano. É a chamada LOA, Lei  Orçamentária Anual. Mas, aí está aquestão. Tudo tem que ser aprovado pelos vereadores. Eles podem aceitá-la ou não. Podem também fazer emendas que modifiquem o que foi proposto.

É assim que agem os candidatos? Explicam isso a você? Ou dizem que a partir de 1º de janeiro, caso eleitos, já começam modificando o que bem entenderem?

Quando uma eleição é fulanizada fica mais fácil o candidato procurar enganar o eleitor. Um exemplo: Lula e Dilma, em campanhas eleitorais, sempre disseram que eram pessoalmente contra o aborto. Até D. Marisa entrava no meio porque se dizia que ela assim pensava. Pronto. Muita gente ficou tranquila. Confiaram na pessoa, no candidato. Não ligaram Lula e Dilma ao PT, que é oficialmente favorável à eliminação dos nascituros pelas mais diferentes razões. Não foram informados que norma interna do PT permite a expulsão de deputado federal que divirja da orientação partidária neste assunto. Mal informados, votaram em Lula e Dilma. Eleitos, o que  deveriam ter feito? Muito simples. Escolhido Ministros da Saúde de acordo com o que declararam nas eleições, ou seja, com ideologia pró-vida. Fizeram isso? Não! Muito pelo contrário. Escolheram  ministros que procuraram favorecer a interrupção da gravidez. Uma enorme contradição. 

Se ficasse claro na eleição que é o partido ou a coligação de partidos que apoiam uma determianda visão política, bem clara, tudo ficaria mais compreensível para o eleitor. 


2. É difícil, se não impossível para o eleitor, compreender a viabilidade da proposta.

Suponha só coisas boas propostas pelos candidatos: mais hospitais, mais escolas técnicas, mais corredores de ônibus, etc, etc. A questão é: quanto custa? Quanto tempo leva para fazer? Com que qualidade? E em questões mais complexas, como segurança e educação? Estas estão ligadas a leis estaduais e federais bem como a ação dos respectivos Executivos. Nada fácil. Em suma, como diz o ditado popular, "Uma coisa é prometer, outra é fazer". 

Lembre-se disso na hora de votar no domingo. 

Amanhã tem mais. 





sexta-feira, 4 de outubro de 2024

ELEIÇÕES. MAQUIAVELISMO ONTEM E HOJE

 Valter de Oliveira


Você acompanha a política nacional? Acredita que há bons políticos? Quais seriam suas qualidades? Honestidade? Competência? Virtudes? Busca do bem comum de todos nós?

Talvez você tenha procurado tudo isso ao acompanhar os debates. Se é que os assistiu...


Debates para a prefeitura de São Paulo

Gostou ou decepcionou-se?

Você sabe que há quem se deixa enganar. Alguns porque procuram candidatos com as qualidades de um santo. Outros porque imaginam que "aquele candidato" tem condições de mudar tudo... E em pouco tempo! 

Você e eu sabemos que o mundo é muito mais complexo. Há muito tempo. Desde o começo da humanidade.

Uma coisa essencial é bom lembrar: desde maquiavel, aquele famoso humanista político da Renascença, o bom político é aquele que aparenta ser bom. E que faz com que acreditem nele. Não importa se é um santo ou um pilantra. O que importa é a imagem. 




Segue aqui trecho de um artigo que escrevi em novembro de 2022. Cito palavras de Maquiavel 

"O fim justifica os meios

“Nas ações de todos os homens, máxime dos príncipes, onde não há tribunal para que recorrer, o que importa é o êxito bom ou mau. Procure, pois, um príncipe vencer e conservar o Estado. Os meios que empregar serão sempre julgados honrosos e louvados por todos, porque o vulgo é levado pelas aparências e pelos resultados dos fatos consumados”  (MAQUIAVEL., 1983, P. 75) (Op.cit. p. 57-58).

Se o amigo leitor é paciente, se tem amor pela história e quer aprofundar o tema, abra o link e leia o artigo. Vai ajudá-lo a entender como funciona a política em nossos dias. Aliás, praticado por nossas falsas elites há mais de 400 anos. 

https://www.olivereduc.com/politica/politicanacional/etica-politica-idade-media-renascenca-hoje/ 

terça-feira, 10 de setembro de 2024

POR QUE USAMOS "SEU" E "DONA"?

 Encontrei este belo texto hoje no FB. É uma bela aula sobre nossos pronomes de tratamento. A única mudança que fiz foi mudar a ilustração. (V.O).

"Quem assistiu a ‘Escolinha do Professor Raimundo’ (1990–1995) deve se lembrar que o personagem de Chico Anysio chamava seus alunos com ‘seu’ e ‘dona’ ante o nome: Seu Boneco, Seu Peru, seu Sandoval Quaresma, Dona Bela, Dona Cacilda, dona Catifunda. Esse hábito está cada vez mais sumido.
“Bom dia, seu Pedro! Como vai o senhor?” “Olá, dona Lúcia! Vou enviar a encomenda para a senhora.” Não se usa mais falar assim para demonstrar respeito e urbanidade? Não sei lhe dizer o fim dessa história, mas posso lhe contar o início.
Na Antiguidade, casa era chamada de ‘domus’ em latim. O chefe do ‘domus’ era o ‘dominus’ (pronuncia-se /dôminus/) e sua esposa era a ‘domina’. Alguns imperadores romanos, como Diocleciano, chegaram a usar ‘Dominus’ como um título honorífico.
São Jerônimo, ao passar a Bíblia para o latim, traduziu a palavra hebraica ‘יהוה’ (YHWH; pronuncia-se /jaué/) como ‘Dominus’. Por sinal de respeito, ainda nos primórdios do cristianismo, bispos e papas também eram tratados por ‘dominus’. Na Idade Média, o termo era usado para reis, nobres do alto escalão, senhores feudais, cavaleiros e todo tipo de gente importante.
‘Dominus’ evoluiu para ‘domnus’ ainda no latim. No português arcaico, ficou como ‘donno’, o que nos gerou o nosso atual ‘dono’ (proprietário). Por similar processo, ‘domina’ virou ‘dona’; em francês, se tornou ‘dame’, o que nos ficou como ‘dama’. O francês ‘ma dame’ (minha senhora) formou ‘madame’ e o italiano ‘ma donna’ , ficou ‘madona’ para nós.
Outro caminho que ‘dominus’ tomou na evolução da língua foi ser reduzido a ‘dom’. Por isso, temos o par ‘dom’ e ‘dona’. Assim como o ‘Dominus’ dos romanos, os títulos honoríficos ‘Dom/Don’ e ‘Dona/Donna’, eram usados como tratamento da gente da nobreza e do clero onde hoje são Portugal, Espanha, França e Itália. Essa tradição se estendeu ao Brasil, onde passaram nobres como Dom João V, Dom Pedro I, Dom Pedro II, Dona Teresa Cristina e a princesa Dona Isabel. Veja que as mulheres, por terem menos destaque no sistema monárquico, geralmente são citadas sem o ‘Dona’.
Com o fim da monarquia em 1889, Dom ficou mais restrito aos sacerdotes católicos, como, por exemplo, Dom Bosco (padroeiro de Brasília) e Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro. Já ‘Dona’ se popularizou e passou a ser um tratamento dado às consideradas ‘mulheres de respeito’, ou seja, às casadas, às viúvas e às religiosas. É por isso que a Maria, ao se casar com o José, costumeiramente era tratada por Dona Maria.
Já que Dom ficou com os membros da Igreja, o tratamento respeitoso aos homens veio de outra palavra que, em sua origem, equivalia a ‘dominus’. Voltemos à Idade Antiga.
Em latim, ‘senex’ significa ‘velho’. De ‘senex’, temos o comparativo ‘senior’, que significa ‘o mais velho’.
Depois que os lombardos conquistaram a região norte da península Itálica, no século VI, algo dos costumes de chefia mudou por lá. Quando um ‘dominus’ lombardo repartia suas terras entre seus filhos, o governo do lugar era concedido ao mais velho, chamado ‘senior illius loci’ (o mais velho do lugar). A partir de então, ‘dominus’ e ‘senior’ foram se tornando sinônimos.
Da mesma forma que ‘dominus’ virou ‘dom’, ‘senior’ passou a ‘senhor’ e, com o tempo, acabou sendo atribuído como forma de tratamento aos homens em geral. A partir de ‘senhor’, vieram as formas ‘senhora’ (o equivalente a ‘dona’) e ‘senhorita’ (moça solteira).
Um tantão de termos foram derivados de ‘senhor’ e ‘senhora’, especialmente durante a escravidão brasileira. De ‘senhora’, tivemos: ‘sinhara’, ‘sinhá’, ‘siá’ e ‘sá’; de ‘sinhá’ surgiram ‘nhanhá’, ‘iaiá’ e ‘nhá’. De ‘senhor’, surgiram ‘sinhô, ‘sô’, ‘nhô’, ‘nhonhô’ e ‘ioiô’. Os filhos dos senhores eram tratados pelos escravos como ‘sinhô-moço/sinhá-moça’ e ‘sinhozinho/sinhazinha’.
É aí que você se lembra do romance ‘Sinhazinha’ (1929), de Afrânio Peixoto; das novelas ‘Sinhá Moça’ (1986 e 2006) e da ‘Sinhazinha Flô’ (1977). Espantosamente, muitas festas juninas ainda realizam o concurso da Sinhazinha e do Sinhozinho.
Mas como esse nomes tiveram forte ligação à vida do campo e aos escravocratas, seu uso ficou mais restrito às cidades do interior e a maioria desapareceu. Nos grandes centros, o que vingou foi outro derivado de ‘senhor’, ‘seu’, muito influenciado pelo pronome ‘seu’. Assim, homens – casados ou não – costumavam levar o tratamento ‘seu’ ante o nome ou o ofício: Seu Jorge, Seu Barriga, seu delegado, seu guarda.
‘Seu’ e o feminino ‘sua’ também são usados com outros sentidos diversos. Podem ser empregados com valor afetivo (“sua linda!” “seu bobinho...”), de forma jocosa (dizendo a uma criança que bagunçava: “Bonito, hein, seu Rafael!”) ou até depreciativa (“seu burro!”, “sua tonta”).
Atualmente, boa parte da população tem associado ‘seu/dona’ e ‘senhor/senhora’ a ‘velho, idoso’. Há quem também entenda que se trata de um formalismo desnecessário. Por isso, esses termos têm deixado de figurar nas boas maneiras. Até pouco tempo atrás, ninguém com mais de 30 anos se incomodava em ter um desses tratamentos. Jovens casadas de 19 anos eram ‘senhoras’ e estava tudo bem. Hoje, muita gente até se ofende ao ser chamada de ‘senhor/senhora’. Retrucam: “Senhora está no Céu!”
Referência: ‘Vocabulario latino & portuguez’, por Raphael Bluteau (1728); e ‘Dicionário Houaiss’ (2009).

Sugestão: Felipe Moreira.

domingo, 5 de maio de 2024

A PURA RAZÃO É SUFICIENTE PARA RECONHECER A INVIOLABILIDADE DE TODA VIDA HUMANA

                                                                                                                       

“Ai daqueles que chamam de bem o mal e o mal de bem, que mudam as trevas em luz e a luz em trevas” (Is 5, 20). 

   

Valter de Oliveira

                                                                                                                                   





São João Paulo II advertiu-nos que, em nossa moderna sociedade, foi instaurada uma verdadeira cultura da morte. Bem verdade. Através dela seus defensores negam o valor da vida humana desde a concepção e defendem também o abreviamento dela através da eutanásia. 


Curioso - ou melhor, paradoxal - que neguem o direito à vida em nome da dignidade humana e dos direitos humanos. É que, como tem acontecido com frequência, os ideólogos revolucionários. utilizam de forma equivocada muitíssimas palavras, tais como liberdade, igualdade, dignidade, direitos humanos. 

Tendo isso em vista é bom ler recente documento do Consistório da Doutrina da Fé, Dignitas Infinita,  através do qual a Santa Sé mantém e aprofunda o ensinamento milenar da Igreja sobre o que é a dignidade humana, sua origem e sua finalidade. Em seu ponto 47, ao condenar o aborto provocado, é afirmado claramente: 

"A pura razão é suficiente para reconhecer o valor inviolável de toda vida humana, mas se a contemplamos também a partir da fé, “cada violação da dignidade pessoal do ser humano grita por reparação diante da face de Deus e se configura como ofensa ao Criador do homem”».[90] Merece aqui ser recordado o generoso e corajoso empenho de Santa Teresa de Calcutá pela defesa de todo concebido"

No meu site claravalcister.com  já escrevi três artigos sobre a Dignitas Infinita. Escreverei mais alguns. Vale a pena entender melhor a questão e a importância da batalha na qual estão empenhados não só os católicos, mas também todos os homens que procuram a verdade e a amam. 

Seguem os links dos artigos e o do documento do Vaticano. 

https://www.claravalcister.com/dogma/consideracoes-sobre-a-dignitas-infinita-1/

https://www.claravalcister.com/moral/consideracoes-sobre-a-dignitas-infinita-2/

https://www.claravalcister.com/dogma/consideracoes-sobre-a-dignitas-infinita-3/

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https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_ddf_doc_20240402_dignitas-infinita_po.html





CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA PROÍBE MATAR BEBÊS POR ASSISTOLIA FETAL

Valter de Oliveira



PSOL ENTROU NA JUSTIÇA PARA REVOGAR A MEDIDA




Erika Hilton
PSOL

 É isso mesmo que você leu. O CFM (Conselho Federal de Medicina), no último dia   21 de março, publicou uma norma que proíbe os médicos de matarem bebês através   da  Assistolia Fetal. No caso todos aqueles que já estão com mais de 22 semanas de   gestação. O PSOL, então, apelou para a Justiça para que a resolução seja suspensa.   Ou  seja, acha que não há nada de mais em se matar um bebê intrauterino   inocente!!!...

Incrível, não é mesmo? E o que seria a tal de Assistolia?

O relator da matéria no CFM explica melhor a questão:

"Desde que foi publicada a Resolução 2378 do Conselho Federal de Medicina da qual fui relator, as hostes abortistas estão em polvorosa em conluio com a grande mídia progressista inventando mentiras sem nos dar qualquer espaço para o contraditório. Para surpresa de ninguém, entidades que defendem a descriminalização do aborto e o onipresente PSOL entraram com ações judiciais dispersas na tentativa de revogar a resolução. A ação do PSOL se tornou a ADPF 1134 sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes no STF e a ação do MPF foi ajuizada na Justiça Federal do RS.

(...) 

Assistolia fetal
Fundamental explicarmos do que se trata a técnica do feticídio ou assistolia fetal. Os defensores da técnica têm pavor a esse debate porque ninguém tem coragem de explicar como é feita e muitos dos que a defendem, quando sabem do que se trata, mudam de opinião. Feticídio consiste em perfurar com grande agulha a barriga da mãe e tentar acertar os vasos do coração do bebê para injetar cloreto de potássio e o matar. Não estamos falando de embrião ou um bebê formado, ou sem condições de sobreviver, mas de bebês viáveis, de seis a nove meses de gestação, com circuitos neurológicos de dor formados. Analogia seria nos colocar num caixão sem anestesia e alguém de fora, através de um pequeno furo, tentar acertar nosso coração com uma agulha com diversas espetadas até nos acertar, pois ficaríamos nos debatendo. Isso provoca uma dor tão grande que é proibido para pena de morte e eutanásia de animais.

"Só tem como defender o método quem não sabe do que se trata ou quem é muito cruel. O assustador é que esse procedimento é feito minutos antes da retirada do bebê por via vaginal ou cesariana com o único intuito de o matar antes da retirada. Não traz vantagem segundo estudos científicos. O único motivo para ser feito segundo defensores é o de evitar o “grande trauma” que o choro do bebê poderia causar à mãe. Para evitar o choro, a solução é matar. E para fugir desse debate, as manchetes da grande mídia de forma mentirosa em uníssono escreveram: “CFM proíbe aborto legal após 22 semanas”. A primeira mentira é o uso do termo “aborto legal” já que isso não existe no jurídico brasileiro. Existem excludentes de punibilidade que não pune quem o faz em situações autorizadas. Seria o mesmo de nomear homicídio legal a legítima defesa.


"Reparem que não se encontra vídeos da técnica no Google ou mesmo em artigos científicos médicos. Eles escondem porque sabem que se o procedimento for visto provocará comoção popular. É fundamental que os juízes que vão julgar a resolução peçam para ver o procedimento. Fica o obstetra em frente ao ultrassom com uma agulha pela barriga numa caçada mórbida que pode durar horas tentando acertar o coração do bebezinho que se debate tentando fugir pela dor que sente. Até que quando é atingido, dá um último movimento e morre para, muitas vezes, a felicidade de seu carrasco, ou melhor, do especialista em medicina fetal que faz o procedimento".

(...)                                                                                                           

Por enquanto temos a vitória da vida,
mas o PSOL não vai desistir
 O Artigo é mais longo e vale a pena ler o texto completo.   Aqui  só decidi destacar para o amigo leitor até que ponto tem   chegado a barbárie humana.

 Veja o texto completo no link. 

https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/resolucao-cfm-proibe-matar-bebes-assistolia-fetal-evitar-barbarie/




segunda-feira, 29 de maio de 2023

LULA, MADURO E TSE

 Valter de Oliveira


Maduro chegou hoje ao Brasil. Visita oficial, como chefe de Estado. Foi recebido com pompa e circunstância.

No discurso ao ditador venezuelano Lulinha destacou seu contentamento: "Primeiro, eu queria dizer aos meus amigos do Brasil e à imprensa brasileira a alegria desse momento histórico que estamos vivendo agora", ressaltou Lula no início de sua fala. 

Logo em seguida aproveitou para afirmar que há um complô contra o governo venezuelano: "disse durante o evento no Planalto que a Venezuela é "vítima de uma narrativa de antidemocracia e autoritarismo". 

"Se eu quiser vencer uma batalha eu preciso construir uma narrativa para destruir o meu potencial inimigo. Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela de antidemocracia e do autoritarismo", disse Lula se dirigindo a Maduro. 

De acordo com o petista, cabe à Venezuela "mostrar a sua narrativa para que as pessoas possam mudar de opinião".

"Eu vou em lugares que as pessoas nem sabem onde fica a Venezuela, mas sabe que a Venezuela tem problema na democracia. É preciso que você construa a sua narrativa e eu acho que, por tudo que conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a que eles têm contado contra você
", pontuou Lula. 

Pois é amigos, conforme Lulinha, o veraz, inimigo extremo de fake news, é falso que haja uma ditadura na Venezuela. É só narrativa da oposição. E dos gringos, é claro. 

Tanto é falso que o presidente pseudo-operário quer a Venezuela fazendo parte dos BRICS. Eita sujeito bonzinho, não é mesmo?

Voltando no tempo: tempo da eleições

Outubro de 2022. Algumas pessoas ousaram postar na internet que Lula apoiava a ditadura Venezuelana. Outras postagens afirmavam a amizade entre Lula e o governo ditatorial da Nicarágua. Notícias que poderiam prejudicar sua candidatura. O PT, rapidinho, apelou para o TSE. Bolsonaristas estariam propagando Fake Neus.

No dia 05 de outubro o ministro do TSE, \Paulo de Tarso Sanseverino,  "manda Gazeta do Povo remover peça que associa Lula ao ditador.da Nicarágua ."

Já notícia do dia 22 do mesmo mês no Antagonista  mostra  que o mesmo ministro mandou "remover peça que associa Lula a ditadores da Nicarágua e Venezuela".

"Sanseverino atendeu a um pedido de censura da coligação de Lula, que alegou que, em conjunto, as postagens promoviam “reiterada campanha difamatória” contra o petista, “com o objetivo de incutir no eleitor a ideia de que ele persegue e ameaça cristãos, assim como seu aliado e amigo, o ditador da Nicarágua Daniel Ortega”. Na decisão, o ministro diz que as postagens, apresentadas ao TSE pela coligação de Lula, têm “conteúdos manifestamente inverídicos em que se propaga a desinformação de que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a invasão de igrejas, perseguiria os cristãos, bem como apoiaria a ditadura da Nicarágua”.

É isso amigos. O TSE garantiu que Lulinha não apoia ditadores. 

Será que a postura de certos ministros influenciou o resultado das eleições?

Será que alguém vai pedir desculpas? 

Seguem os links:

1. O Antagonista: https://oantagonista.uol.com.br/brasil/tse-manda-pl-remover-peca-que-associa-lula-a-ditadores-da-nicaragua-e-venezuela/

2. Gazeta do Povo: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/tse-censura-gazeta-do-povo-post-apoio-lula-ditadura-nicaragua/


sábado, 18 de março de 2023

LIÇÕES DA MATER ET MAGISTRA. DSI


 A DUPLA MISSÃO DA IGREJA

Comemorando o 70º aniversário da famosa encíclica "Rerum Novarum", de Leão XIII,  em 15 de maio de 1961, o Papa João XXIII publicou a "MATER ET MAGISTRA". Nela, de modo atualizado, renovado, aprofundado, o Pontífice volta a tratar da questão social, agora de modo mais aimpliado, indo além da questão operária provocada pela Revolução Industrial. 

No Brasil ela provocou polêmica. Já estávamos nos tempos conturbados da escalada socialista em vários pontos do mundo. Escalada que começou a ser apoiada, de um modo ou de outro, pelo que se convencionou chamar de esquerda católica. Esta passou a exigir do clero católico uma ação mais decisiva na esfera política. 

Quando a Mater et Magistra foi publicada tivemos uma tradução - se não me engano realizada pela editora vozes, que colocou alguns subtítulos na encíclica com a palavra socialização. A palavra não tem sentido único e isso foi suficiente para que determinados esquerdistas a interpretassem como uma abertura para o socialismo... Como veremos em outros artigos que vou postar não era bem assim...

Hoje vou simplesmente colocar aqui os seis primeiros pontos do documento. Neles são destacados claramente o duplo papel da Igreja do ponto de vista espiritual e temporal. Papel que muitos não conhecem e que alguns rejeitam ou deturpam. Papel esplendoroso que a Igreja prima por ensinar há dois mil anos. 

Vamos aos pontos (V.O.)


"1. A Igreja Católica foi constituída por Jesus Cristo, com MÃE e MESTRA das Nações, para que, ao longo dos séculos, todos quantos se acolhessem ao seu regaço nele encontrassem a salvação na plenitude de uma vida superior. A essa Igreja, "coluna e fundamento da verdade" (1), seu Santo Fundador confiou a dupla tarefa de gerar-lhe filhos e de eduvá-los  e governá-los, orientando com solicitude materna a vida dos indivíduos como a dos povos, cuja eminente dignidade Ela sempre teve na mais alta conta e defendeu sempre com indormida vigilância.

2, A doutrina de Cristo, com efeito, une, por assim dizer, a terra ao céu, pois assume o homem na sua totalidade, alma e corpo, intelecto e vontade, ao mesmo tempo que o impele a elevar a mente das mutáveis condições da vida presente às alturas da vida eterna, onde lhe será dado gozar um dia de uma felicidade e de uma paz que não terão fim.

3. Essa a razão pela qual, ainda que à Igreja caiba o dever primordial de santificar as almas e faze-las participantes dos bens eternos, Ela se preocupa, entretanto, com as necessidades cotidianas dos homens, não só as que dizem respeito à subsistência e às condições de vida, como as que se referem ao seu bem estar e à sua prosperidade, sob todas as formas que possam assumir com o progresso dos tempos.

4. Ao proceder desse modo, a Igreja está pondo em prática o preceito de Cristo, seu Fundador, que quando afirma, numa passagem: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida (2), e, noutra, "Eu sou a luz do mundo" (3) Certamente se refere, antes de tudo, à sallvação eterna dos homens; mas, quando contempla ao redor de si a multidão faminta e exclama como num gemido, "Tenho pena deste povo" (4), demonstra que as necessidades materiais da humanidade constituem, também, objeto dos seus cuidados. E, nem só por meio de palavras o demonstra, senão com os atos de sua vida como quando, para aplacar a fome da multidão, mais de uma vez, multiplica miraculosamente o pão.

5. Pão, dado à nutrição do corpo, mas que Ele quis, ao mesmo tempo, fosse figura do celeste alimento, que às vésperas de sua Paixão, haveria de dar aos homens.

6. Nenhuma espécie, pois, há de causar, se a Igreja Católica, seguindo as pegadas de Cristo e fiel aos seus mandamentos, durante dois mil anos, do ministérios dos primeiros diáconos aos nossos dias, tenha mantido viva, na doutrina e nas obras, a chama da caridade. Caridade que, unindo estreitamente o preceito do amor fraterno e a sua prática, realiza, de modo admirável, a missão da Igreja, contida na dúplice doação da sua doutrina e da sua ação social". 



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Observação: Nas próximas semanas voltaremos a abordar outros pontos da encíclica.

Notas:

1. Cf. I Tim 3, 15.

2. João, 14, 6.

3. João, 8, 12.

4. Marcos, 8, 2.

Fonte: 

"Encíclicas e Documentos Sociais. Da Rerum Novarum à Octogesima Adveniens. São Paulo, Edições LTr, 1971


segunda-feira, 31 de outubro de 2022

ELEIÇÓES 6. UMA NOVA LUTA

 MENSAGEM A CONSERVADORES E LIBERAIS


Valter de Oliveira


Aparentemente conservadores e liberais foram derrotados na última eleição. Isso se levarmos em conta apenas os votos dados ao que será nosso futuro presidente. Já para governadores e para o Congresso Nacional tiveram uma expressiva vitória. Não esqueçamos disso. 

Contudo, não deixa de ser verdade que a vitória de Lula foi duro para os que desejam um Brasil mais mais  empreendedor, determinado a voltar às raízes da Civilização Cristã. 

Razão para desanimar? Nem de longe. 

A todos os que lutaram bravamente, com justiça, lealdade e patriotismo, lembro o início da Canção do Tamoio, de Gonçalves Dias:


"Não chores meu filho:

Não chores, que a vida

É luta renhida: Viver é lutar.

A vida é combate, 

Que os fracos abate,

Que os fortes, os bravos, 

Só pode exaltar". 


A luta continua. Com mais garra, mais resiliência, mais confiança, mais sagacidade. 

Que Deus abençoe a todos!



https://nova-acropole.org.br/blog/cancao-do-tamoio/