Valter de Oliveira
A partir de hoje vou usar mais o blog para comentários sobre política nacional e internacional. Não é nem fácil e nem agradável. Não é fácil porque os atores políticos - todos eles, em grau maior ou menor - têm falas e atitudes incoerentes. Isso contribui para que tenhamos a impressão que tudo vai ficando caótico. Desagradável porque, infelizmente, há quem fique incomodado por procurarmos a verdade. Procurá-la implica em saber reconhecer quando nosso lado político está errado e quando nosso adversário político está certo. Nada fácil quando vemos uma opinião pública infantilizada que pensa, erradamente, de modo maniqueista, ou seja, o lado que defendo é bom sempre e o outro é mau, completamente mau.
Um exemplo: a PEC da blindagem.
Em artigo na Gazeta do Povo do dia 18.09, sob o título "Critério Infalível" (1) Rodrigo Constantino escreveu:
Tenho, ainda, um critério infalível: quando diante de algo polêmico, procuro ver como a turma que sempre esteve do lado errado está pensando. Ora, eis o pessoal que tem feito um escarcéu diante da PEC, condenando sua aprovação: PT, PSOL, Globo, Renan Calheiros, Caetano Veloso e Anitta. Precisa dizer mais alguma coisa?
Para justificar que o voto favorável à PEC da blindagem era conveniente ele argumenta: (...) "a impunidade para corruptos já é realidade em nosso país. Enquanto isso, parlamentares mais conservadores são perseguidos por ministros supremos. É isso que a PEC tenta resolver, ainda que de forma imperfeita. Veja o caso do voto em sigilo: em condições normais isso é um erro, pois queremos transparência dos nossos representantes; mas num estado de exceção pode ser a única maneira de proteger o congressista de retaliações supremas!
Não vivemos numa condição normal. Nossas instituições estão esgarçadas. Somente partindo dessa premissa podemos avaliar esta PEC e outras medidas propostas. E quando estiver na dúvida, lembre de verificar como PT e PSOL estão votando, considerando que estiveram do lado errado em todas as questões importantes até hoje..."
Aqui está um claro exemplo de visão maniqueia. O que o inimigo ou adversário faz ou diz é sempre mau. Para fazer o bem, faço o oposto. Ou: posso fazer o errado quando não vivemos "em uma situação normal"...
Pergunto: Não foi o que a ministra Carmem Lúcia afirmou quando disse que, para combater o bolsonarismo, era possível se fazer uma exceção ao que estabelece a Constituição?
Ao terminar de ler o artigo fui ver o que pensaram dele os leitores da Gazeta, em sua grande maioria conservadores. Infelizmente, a maior parte concordou com Rodrigo Constantino. Mais um sinal da dificuldade em se aceitar os erros dos que, de um modo ou de outro, estão de nosso lado.
Por outro lado alguns reagiram contra. Firmemente. Eis dois exemplos:
ANTONIO MARCOS. 18.9. ÀS 16:20.
"Triste Constantino! Isso claramente foi criado para bandidos. Existiam sim outras alternativas. Acabar com o foro privilegiado. Deixar o Supremo apenas para questões relativas à Constituição. A blindagem apenas para opiniões de deputados. Não crimes comuns. Dava sim para fazer um projeto decente. Não passe o pano! Conheço muitos dos deputados que votaram sim. Possuem empresas que prestam serviços ao Estado e que se beneficiam das verbas do Estado! Triste, mas a corrupção vai voltar a graus nunca visto. A Lava jato nunca teria existido com esta PEC!!!"
TERESINHA 18.09.25.
"Em outras palavras está dizendo que um erro justifica outro erro. Pobre indefensável. Após a falta de justiça que vem desde 08.01 e tem um ápice com a condenação do Bolsonaro, esperava-se que, finalmente, a oposição desqualificada faria uma autocrítica e mudaria, ou melhor, se armaria de uma estratégia inteligente. Não. Até hoje caíram em todas as armadilhas da esqueda. Essa é mais uma. E o autor resume a posição da esquerda ao projeto, um sinal que o projeto está certo e que devemos nos basear nisso para saber quando um projeto é bom ou ruim! Qta pobreza sr. Constantino!"
Concluindo:
Pio XI, em 1952, escreveu: "Eis agora a tentativa de edificar a estrutura do mundo sobre bases que não hesitamos em apontar como principais responsáveis pela ameaça que pesa sobre a humanidade: uma economia sem Deus, um Direito sem Deus, uma política sem Deus".
Quem se opõe ao projeto revolucionário da esquerda precisa entender que uma política sem ética é também uma política sem Deus.
Fontes:
1. https://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/criterio-infalivel-pec-imunidade-blindagem/
2. Pio II. Alocução à União dos Homens da Ação Católica Italiana, de 12.10.1952 - Discorsi e Radiomessaggi", vol. XIV, p. 359.
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