Valter de Oliveira
Há muito, aqui no Brasil, é dito que nos faltam líderes. Aliás, não só aqui. Recentemente o pensador israelense Yuval Harari, escreveu um ensaio intitulado: "Na batalha contra o coronavírus faltam líderes à humanidade". Enfim, é uma carência sentida por todos nós. Carência particularmente sentida quando nos defrontamos com candidatos em época de eleição. Eu, em especial, para cargos executivos, sempre votei no "mal menor". Nunca encontrei quem representasse, de modo pleno, os princípios e valores que defendo. Em um certo sentido é compreensível. Defendo um ideal cristão, cada vez menos vivo e valorizado em nossa sociedade. Ademais, não bastam as ideias, supondo que as expressas pelo candidato sejam realmente as que ele tem. É preciso saber se ele sabe como atuar para implementá-las, se sabe conciliar ética com prudência política, bem como muitos outros valores.
Na semana passada, lendo um livro de história da Igreja para rever episódios da vida de Leão XIII encontrei uma passagem na qual Daniel-Rops faz uma descrição do grande Papa. Imediatamente lembrei-me do perfil de tantos políticos, tão longe daquilo que gostaríamos de ter. Eu, por exemplo, gostaria de encontrar um candidato que tivesse as virtudes de um S. Luis IX ou do grande S. Tomás Morus. Ou pelo menos a firmeza de um Churchill, a visão de um Adenauer ou o estilo e a verve de Margaret Thatcher... Gosto de sonhar!
Mas, dito isso, vejamos o texto de Rops.
Leão XIII "tinha o temperamento de um condutor de homens. (...) Do autêntico chefe, tinha ele a clareza nos propósitos, a firmeza na execução e, ao mesmo tempo, o absoluto autodomínio que faz os grandes políticos. Como Bismarck ou como Richelieu, poderia ter dito de si próprio que era alguém "livre de qualquer sentimento, de qualquer ressentimento", radicalmente desligado de preferências pessoais,desde que estivessem em causa os interesses da Igreja. Nem mesmo lhe faltava, apesar de muita efusão verbal, uma certa secura que deve ser indispensável a quem tenha de governar a espécie humana. Mas, acima de quaisquer outros traços, o que o distinguia eram os altíssimos dons de observar os acontecimentos e os homens com olhos de águia, sem nunca se deixar iludir, medindo como que instintivamente o possível e o impossível, e, em seguida, quando a decisão estava tomada, lançar sua ação com um tato, uma habilidade e uma flexibilidade fora do comum. Tudo isso fazia dele o tipo exato do diplomata, do político. Os romanos, algum tanto irônicos para com os seus papas, costumam dizer que todos eles se podem classificar numa de três categorias: os dotti, os zelanti, os politici. É evidente que foi na última categoria que meteram Leão XIII.´
É isso amigos. Será que ainda veremos grandes políticos?
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