Valter de Oliveira
Benê nasceu na periferia de S. Paulo, em Itaquera, não muito longe do futuro estádio do Timão. Nasceu pobre como tantos de nosso povo lutador. Também não teve escola boa, nem plano de saúde. Os pais foram um tanto rudes, é verdade, mas bons. Ensinaram-lhe que no mundo há o bem e o mal, o belo e o feio, a alegria e a dor, a fidelidade e a traição. Que tudo isso faz da vida uma bela luta. Que valia a pena vivê-la, a todo momento, plenamente, até o fim. Essas idéias marcaram profundamente a alma de Benê. Cresceu e vive como lutador, e, como conseqüência lógica, viu a beleza de ser corinthiano. Benê é feliz, muito feliz. E aqui começa nossa história, nas últimas rodadas do Brasileirão.
Era um domingo, 14h. Benê saiu de casa com a jovem esposa, com destino ao Pacaembu. Ambos bem uniformizados. Ele com a camisa branca, ela com a nova camisa vinho do Timão. O que ambos não imaginavam é que iriam se defrontar com os “vigilantes” do Estado laico, formados após oito meses de curso de “direitos humanos na perspectiva humana”. Benê e a esposa não sabiam que 800 homens e mulheres tinham sido treinados e que, a partir daquele dia, iriam patrulhar os bairros da capital.
O casal foi abordado pouco depois de sair de casa, antes ainda de chegar ao metrô. Curiosamente, em uma rua quase deserta.
- “Pare aí!” Gritou um dos 4 “vigilantes” ao lado de uma perua do tipo usada pela Rota.
Assustados, pararam. Que desejariam aqueles homens tão parecidos nos rostos quanto nas vestimentas? Por que pareciam sem alma?
Outro grito fez nosso corinthiano voltar a si:
- “Não lê jornal não? Não tem TV? Vai tirando a camisa!”
Benê, que não estava entendendo nada, tentou argumentar:
-“Que que é isso, seu moço. A gente só qué vê o jogo do Timão!”
-“Conversa fiada! Tá fingindo que não sabe de nada? Não viu a nova medida provisória? Não sabe que usar símbolo religioso atenta contra o Estado Laico?”
“Num acompanho política não seu guarda. Sou só um fiel do Timão!
“Pois é: vocês não dizem que Corinthians é religião? O Estado é laico, entendeu? E...
“Que diabos é laico?”, pensou Benê...
O vigilante continuou:
“E símbolo religioso não pode. Só na sua casa. Na rua não! É espaço público. E vai tirando a camisa!”
O tempo ia passando. Aflita, Chiquinha sussurrou ao marido:
“Vambora bem, a gente vai perdê o jogo. É aquele ditado que os rico fala: leva os aner, fica com os dedo. Deixa a camisa com os home. O importante é os jogadô vê que nóis tá lá com eles”...
“Tudo bem, tudo bem. Mas a camisa dela não... tentou dizer Benê. Na moral, seu guarda, e... também não é muito certo ela ficá sem camisa na rua, né?”
A resposta foi inesperada:
“Ficar sem camisa não é problema nenhum. Para nós não tem essa de certo e errado, de moral e imoral. Estado laico também não segue moral nenhuma. Nem sabe dizer o que é certo ou errado e...”
“Cruz credo!”, exclamou Chiquinha.
“e... chega de prosa. Dá aqui seu símbolo religioso.”
Chiquinha entregou a camisa. Benê também. Tirou uma toalha da mochila, colocou no ombro da mulher e ousou perguntar:
“Não é perseguição contra nóis não? Não é preconceito?”
O vigilante 2, cópia do 1, respondeu com voz metálica:
“Preconceito é contra minoria, entendeu? Vocês são maioria! Maioria tem que ficar quieta!”
Vendo que não tinha papo Benê perguntou:
“A gente pode ir?”
“Pode. Mas antes tem que ser fichado. E vai receber um folheto em casa com as novas regras para a torcida corinthiana no campo de futebol. E as primeiras começam hoje”.
-‘Hoje?! Que tem que fazer hoje?”
-“Tem que ficar no Tobogã”.
-“Mas eu comprei ingresso pra arquibancada!”
-“Problema seu. Se quiser ver o jogo vai pro Tobogã”. Vai e aguarda em casa o folheto com as regras.
Desconsolado Benê foi embora. Deu ainda para ouvir um grito:
“E não pode mais cantar o hino!”.
Foi muito triste, mas... o Timão ganhou. Benê, Chiquinha e mais 5.000 corinthianos voltaram felizes para casa. (os demais, barrados por outros vigilantes, ficaram de fora)...
Na semana seguinte chegou o livrinho com novas regras:
1. Era proibido torcer em voz alta. Incomodava os moradores do bairro que não gostam de futebol.
2. Também não se podia dançar. Poderia causar complexos em quem tivesse dificuldades motoras.
3. Regra para certos clubes: Nenhum time pode ter nome de santo! Nenhum nome religioso!
Pois é, numa penada acabaram com São Paulo, São Caetano, Santos...
E estava tudo bem claro: quem quer participar tem que colaborar. Tem que seguir as regras.
“E quem fez essas malditas regras, o governu?” Perguntava Chiquinha?
“Sei lá, dizia Benê. Qué dizê, é coisa dos político do tal de Estadu Laico. Ele diz que nóis tem fé demais”.
-“Cruz Credo!” exclamou Chiquinha persignando-se. E continuou: Magine só a gente jogando contra o Paulo, o Caetano, o André, o Bernardo, o... Ih! Como fica o Santos? Baleia Futebol Clube?
-“Sei não. O que sei é que a gente não vai desisti. E tá na hora du jogo. Vamo lá!”.
É minha gente, fé é fé. O amor falou mais alto. Foram lá mais uma vez. O Timão venceu! De novo saíram felizes.
Terceira semana.
Nova regra. Torcida corinthiana tinha que ficar em silêncio absoluto. Não podia fazer sinal da cruz nem mover as mãos secando o time adversário na hora de cobrar falta. E era para ficar o tempo todo de costas para o jogo.
-“E agora, Chiquinha?” perguntou Benê. “Que adianta ir lá?”
-“Adianta amô, adianta. Os jogadô vão vê que nóis tá lá. Vão ouvir a gente e os anjo cantando. E nóis ganha. Vamo sê campião. Acredita?”
“Acredito, meu bem, acredito”.
Foram. Não cantaram. Não viram. Ganharam!
Moral da história: Os fiéis sempre vencem.
Era um domingo, 14h. Benê saiu de casa com a jovem esposa, com destino ao Pacaembu. Ambos bem uniformizados. Ele com a camisa branca, ela com a nova camisa vinho do Timão. O que ambos não imaginavam é que iriam se defrontar com os “vigilantes” do Estado laico, formados após oito meses de curso de “direitos humanos na perspectiva humana”. Benê e a esposa não sabiam que 800 homens e mulheres tinham sido treinados e que, a partir daquele dia, iriam patrulhar os bairros da capital.
O casal foi abordado pouco depois de sair de casa, antes ainda de chegar ao metrô. Curiosamente, em uma rua quase deserta.
- “Pare aí!” Gritou um dos 4 “vigilantes” ao lado de uma perua do tipo usada pela Rota.
Assustados, pararam. Que desejariam aqueles homens tão parecidos nos rostos quanto nas vestimentas? Por que pareciam sem alma?
Outro grito fez nosso corinthiano voltar a si:
- “Não lê jornal não? Não tem TV? Vai tirando a camisa!”
Benê, que não estava entendendo nada, tentou argumentar:
-“Que que é isso, seu moço. A gente só qué vê o jogo do Timão!”
-“Conversa fiada! Tá fingindo que não sabe de nada? Não viu a nova medida provisória? Não sabe que usar símbolo religioso atenta contra o Estado Laico?”
“Num acompanho política não seu guarda. Sou só um fiel do Timão!
“Pois é: vocês não dizem que Corinthians é religião? O Estado é laico, entendeu? E...
“Que diabos é laico?”, pensou Benê...
O vigilante continuou:
“E símbolo religioso não pode. Só na sua casa. Na rua não! É espaço público. E vai tirando a camisa!”
O tempo ia passando. Aflita, Chiquinha sussurrou ao marido:
“Vambora bem, a gente vai perdê o jogo. É aquele ditado que os rico fala: leva os aner, fica com os dedo. Deixa a camisa com os home. O importante é os jogadô vê que nóis tá lá com eles”...
“Tudo bem, tudo bem. Mas a camisa dela não... tentou dizer Benê. Na moral, seu guarda, e... também não é muito certo ela ficá sem camisa na rua, né?”
A resposta foi inesperada:
“Ficar sem camisa não é problema nenhum. Para nós não tem essa de certo e errado, de moral e imoral. Estado laico também não segue moral nenhuma. Nem sabe dizer o que é certo ou errado e...”
“Cruz credo!”, exclamou Chiquinha.
“e... chega de prosa. Dá aqui seu símbolo religioso.”
Chiquinha entregou a camisa. Benê também. Tirou uma toalha da mochila, colocou no ombro da mulher e ousou perguntar:
“Não é perseguição contra nóis não? Não é preconceito?”
O vigilante 2, cópia do 1, respondeu com voz metálica:
“Preconceito é contra minoria, entendeu? Vocês são maioria! Maioria tem que ficar quieta!”
Vendo que não tinha papo Benê perguntou:
“A gente pode ir?”
“Pode. Mas antes tem que ser fichado. E vai receber um folheto em casa com as novas regras para a torcida corinthiana no campo de futebol. E as primeiras começam hoje”.
-‘Hoje?! Que tem que fazer hoje?”
-“Tem que ficar no Tobogã”.
-“Mas eu comprei ingresso pra arquibancada!”
-“Problema seu. Se quiser ver o jogo vai pro Tobogã”. Vai e aguarda em casa o folheto com as regras.
Desconsolado Benê foi embora. Deu ainda para ouvir um grito:
“E não pode mais cantar o hino!”.
Foi muito triste, mas... o Timão ganhou. Benê, Chiquinha e mais 5.000 corinthianos voltaram felizes para casa. (os demais, barrados por outros vigilantes, ficaram de fora)...
Na semana seguinte chegou o livrinho com novas regras:
1. Era proibido torcer em voz alta. Incomodava os moradores do bairro que não gostam de futebol.
2. Também não se podia dançar. Poderia causar complexos em quem tivesse dificuldades motoras.
3. Regra para certos clubes: Nenhum time pode ter nome de santo! Nenhum nome religioso!
Pois é, numa penada acabaram com São Paulo, São Caetano, Santos...
E estava tudo bem claro: quem quer participar tem que colaborar. Tem que seguir as regras.
“E quem fez essas malditas regras, o governu?” Perguntava Chiquinha?
“Sei lá, dizia Benê. Qué dizê, é coisa dos político do tal de Estadu Laico. Ele diz que nóis tem fé demais”.
-“Cruz Credo!” exclamou Chiquinha persignando-se. E continuou: Magine só a gente jogando contra o Paulo, o Caetano, o André, o Bernardo, o... Ih! Como fica o Santos? Baleia Futebol Clube?
-“Sei não. O que sei é que a gente não vai desisti. E tá na hora du jogo. Vamo lá!”.
É minha gente, fé é fé. O amor falou mais alto. Foram lá mais uma vez. O Timão venceu! De novo saíram felizes.
Terceira semana.
Nova regra. Torcida corinthiana tinha que ficar em silêncio absoluto. Não podia fazer sinal da cruz nem mover as mãos secando o time adversário na hora de cobrar falta. E era para ficar o tempo todo de costas para o jogo.
-“E agora, Chiquinha?” perguntou Benê. “Que adianta ir lá?”
-“Adianta amô, adianta. Os jogadô vão vê que nóis tá lá. Vão ouvir a gente e os anjo cantando. E nóis ganha. Vamo sê campião. Acredita?”
“Acredito, meu bem, acredito”.
Foram. Não cantaram. Não viram. Ganharam!
Moral da história: Os fiéis sempre vencem.
Um comentário:
Agora quem não acordou a tempo com os tais direitos humanos de quarta e quinta geração e achou até bonitinho a concessão de privilégios para minorias x, y, e outras, além de leis que tolheram a liberdade de expressar qualquer tipo de desagrado com o comportamento dessas minorias, choram porque perceberam que o verdadeiro fito desses "direitos humanos" de quarta e quinta geração é justamente acabar com os direitos humanos das gerações anteriores, conquistados com muita luta, de forma que uma verdadeira ditadura policiando até pensamentos se pareça com a "busca de uma sociedade mais justa".
Embora a moda seja criticar os EUA eu ainda prefiro o jeito deles, se você é um supremacista branco pode se expressar, se é um supremacista negro idem, se é um pinel da Igreja de Westboro pode se expressar, se é um pinel antirreligioso idem. Hoje em dia parece que todo mundo virou “emo”, não pode ouvir críticas ao seu próprio grupo que já anda querendo cadeia para os críticos, fala-se tanto de tolerância mas não podem tolerar uma religião, filosofia ou qualquer linha de pensamento que se desvie da própria ou da ditadura maior, a ditadura do relativismo.
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