Lenin responde: “pela consciência revolucionária”
Como
é sabido Lenin vivia para a causa revolucionária. Para ser vitorioso em sua
luta poderia utilizar de todos os meios tidos por necessários. “A moral”, disse ele, “considerada fora da sociedade humana, não
existe para nós, trata-se de uma mentira. A moral, para nós, está subordinada
aos interesses da classe proletária”. (Nova Gazeta Renana, 1848-49 – in
Piettre, p. 94).
Nessa
lógica fica mais fácil entender porque Lenin e seus camaradas não tiveram pejo
em implantar o terror. Daí dizer Pipes:
“ O primeiro passo para a
introdução do terror em massa foi o banimento da lei e sua substituição pela
“consciência revolucionária”. Nada semelhante jamais existira. As autoridades
soviéticas dispunham de qualquer indivíduo que estivesse no caminho, na
prática, implementando a definição dada por Lenin à “ditadura do proletariado”,
como “governo não restringido pela lei”
(Pipes, p. 219)
(...)
“Em março de 1918, o regime
substituiu os tribunais locais por Cortes do Povo, responsáveis pelo julgamento
de todos os tipos de crimes, exceto aqueles de natureza política. Uma lei de
novembro de 1918 proibiu os juízes dessas cortes de se referirem a normas
anteriores a outubro de 1917, liberando-os da observância dos procedimentos
formais. Seu único critério deveria ser “o senso de justiça socialista” (idem).
A
Tcheka e o Terror
.
A Tcheka foi uma Comissão
Extraordinária, de caráter policial, encarregada de combater a
“contra-revolução e a sabotagem”. “O decreto que a criou, diz Paul Johnson não
veio a público a não ser dez anos depois (Pravda, 18 de dezembro de 1927),
portanto, a força de segurança permaneceu uma polícia secreta no sentido mais
puro, já que sua verdadeira existência não foi oficialmente reconhecida”
“Não havia dúvidas de que,
desde o início, a Tcheka estava destinada a usar de crueldade absoluta e em
larga escala. (...) Ela recrutou pessoal com incrível rapidez, de dezembro de
1917 a janeiro de 1918 (...). A polícia
secreta do czar, a Okhrana, havia chegado a 15 mil homens, o que a tornara, de
longe, a maior corporação dessa natureza no Velho Mundo. Em contraste a Tcheka,
em três anos de existência, tinha uma força de 250 mil homens permanentes. Suas
atividades eram de ampla escala. Enquanto os últimos czares tinham executado
uma média de 17 pessoas por ano (por todo o tipo de crime), até 1918-19 a
Tcheka tinha chegado à média de mil execuções por mês, apenas por razões
políticas”. (Johnson, p. 54)
“Esse número é certamente um
cálculo subestimado – por uma razão intrínseca a iniquidade do sistema criado
por Lenin. (...) Quando a Tcheka prendia, julgava, condenava e punia suas
vítimas, o número delas não era registrado numa lista confiável. A poucas
semanas de sua criação, a Tcheka estava operando seus primeiros campos de
concentração ou de trabalhos forçados. Esses surgiram de um decreto da
Sovnarkom que arrebanhava “homens e mulheres burgueses”, enviando-os para cavar
trincheiras defensivas em Petrogrado. (...) Seus campos começaram a
proliferar... o núcleo do que viria a ser o gigantesco “Arquipélago Gulag”. Lá
pelos fins de 1917, quando Lenin estava no poder há apenas 9 ou 10 semanas,
seria correto dizer que a Tcheka era um “Estado dentro do Estado”, em alguns
casos, ela era inclusive o próprio Estado”. (op.cit. p. 55)
Lenin
foi responsável pelo Terror?
Sem dúvida, afirma Johnson.
Todas as provas que possuímos (mostram isso). “Na verdade foi Lenin quem,
pessoalmente, infundiu o espírito de terror na Tcheka e também foi ele quem, de
janeiro de 1918 em diante, constantemente forçou a Tcheka a ignorar as dúvidas
e os sentimentos humanitários de outros bolcheviques(...). Quando mudou para
Moscou ela tornou-se um “departamento independente”, reportando-se diretamente
a Lenin. (...) Em janeiro de 1918, três meses antes de a guerra civil ter
começado, defendia a ideia de “atirar
para matar in loco um entre cada dez julgados culpados de vadiagem”. (...) em agosto de 1918, Lenin telegrafou ao
Soviete de Nizhni-Novogorod: “Vocês devem
empregar todos os esforços, formar uma troika de ditadores... introduzir
imediatamente um terror de massa, fuzilar e deportar os ex-oficiais, centenas
de prostitutas quem fazem dos soldados uns bêbados, etc. Não se deve perder um
minuto”. No mês seguinte o jornal do exército proclamou: “Sem piedade, sem
hesitação, erradicaremos nossos inimigos às centenas, que sejam aos milhares,
que se afoguem em seu próprio sangue... que haja enchentes de sangue dos
burgueses”. As incitações de Lenin tiveram resultados. (...) por volta de 1920
a Tcheka tinha aplicado cinquenta mil sentenças de morte”.
Contudo, mais do que as mortes,“o mais importante e característico do terror de Lenin, (...) foi o princípio usado para selecioná-las.
(...) Lenin tinha abandonado a ideia de
culpa individual” (para que alguém fosse condenado”. Johnson afirma que
começaram a elencar categorias de pessoas que deveriam ser eliminadas:
“prostitutas”, “vagabundos”, “caixeiros-viajantes”, “especuladores” (...) Os decretos de Lenin, continua o historiador,
em pouco tempo, se estenderam a classes inteiras. Um oficial da Tcheka, o
segundo em importância, era o feroz letão M.Y. Latsis. “Ele é o que mais se
aproximou da verdadeira definição de Lenin:”
Martin Latsis |
Como se vê Pol Pot teve seus mestres. A revolução se repete. Sempre.
Mas, enquanto não está no
poder, o militante revolucionário se diz democrata, humanitário...
E não enrubesce ao entoar loas
à Revolução Russa e aos criminosos que a implantaram.
Bibliografia:
Piettre, André. Marxismo, RJ,
Zahar editores, 1969.
Pipes, Richard. História
Concisa da Revolução Russa, Trad de T. Reis. RJ, BestBolso, 2008
Johnson, Paul. Tempos
Modernos. O mundo dos anos 20 aos 80. Tradução Gilda de Brito Mac-Dowell e
Sergio Maranhão da Mata. RJ. Instituto Liberal, 1990.
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