A proposta e apologia do Terror
Parte
II do livro de Richard Pipes sobre a Revolução Russa.
No capítulo 10 o historiador trata do
Terror Vermelho. Diz ele:
(...) “Os objetivos e métodos
bolcheviques implicavam em terror, que – ao contrário do protótipo jacobino,
com um ano de duração – estendeu-se por toda a sua existência. Terror não
significava somente execuções sumárias, mas uma permanente atmosfera de
ilegalidade, na qual a minoria governante detinha todos os direitos, ao passo
que a maioria governada, nenhum: ao cidadão comum restava a impotência”. Assim, nas palavras de Isaac Steinberg,
membro do comissariado da justiça, “um manto pesado, sufocante, foi jogado
sobre a população do país” (...)
A justificativa dos
apologistas de Lenin
“Seguidores
e apologistas de Leni costumam justificar o recurso ao terror como uma
lamentável necessidade. Assim escreveu Angélica Balabanoff, apoiadora crítica
do regime e primeira secretária da internacional comunista:
“Embora lamentável, o terror e a repressão instalados
pelos bolcheviques foram impostos pela intervenção estrangeira e por
reacionários russos, determinados a defender seus privilégios e a restabelecer
a velha ordem”.
Na verdade...
“Tal apologia suscita mais
perguntas do que respostas. Os bolcheviques fundaram a Tcheka, principal agência
do terror, em dezembro de 1917, antes de
qualquer intervenção estrangeira ou oposição doméstica organizada. Uma nota
manuscrita de Lenin encontrada no Arquivo Central do Partido, sem data, mas a julgar
por seu conteúdo, escrita pouco antes de a Tcheka surgir, provavelmente em
novembro de 1917, deixa isso claríssimo. Dirigida a N.N.Krestinski, secretário
do Partido Comunista Bolchevique, diz”:
“Sugiro que formemos imediatamente (de início, pode ser
feito em segredo) uma comissão para formular medidas excepcionais (no espírito
de Lárin: Lárin tem razão). Digamos você + Lárin + Vladimirski (ou Dzerjinski)
+ Rikov? Ou Miliutin? Preparar em
segredo o terror: essencial e urgente. E
decidiremos na terça formalizá-lo através do Sovnarkóm ou de outro jeito”. (1)
Destaque em negrito é do Oliver, Em itálico é do livro).
Lenin não tinha escrúpulos
“Exemplo da predileção de Lenin pelo terror é lembrado
por Isaac Steinberg. No Sovnarkóm, quando foi apresentado o decreto intitulado
“A pátria socialista em perigo”, cominando vários delitos mal definidos –
“agitação contra-revolucionária”, entre outros – com penas de execução sumária,
o SR de esquerda se opôs:
“Objetei que essa cruel ameaça matava todo o espírito do
manifesto. Lenin retrucou com escárnio: “Ao contrário, o decreto encerra o
verdadeiro espírito revolucionário”. Você realmente acredita que possamos
vencer renunciando à crueldade do terror vermelho?” Foi difícil argumentar contra ele a esse
respeito, e logo chegamos a um impasse. O que estava em discussão era uma
medida política rigorosa, que a longo prazo poderia converter-se no terror.
Lenin ofendeu-se com minha oposição em nome da justiça revolucionária. Então
gritei, exasperado. “Por que nos incomodamos com um Comissariado de Justiça?
Vamos chama-lo de Comissariado para o Extermínio Social e pronto!” Com o rosto
subitamente iluminado, ele respondeu:”Bem posto... é isso, exatamente, mas não
podemos falar assim”.
Até os totalitários, com o poder nas mãos, cuidam em esconder suas intenções. No caso não falaram; agiram. E usaram toda a crueldade julgada necessária. (V.O.).
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Obs: subtítulos em negrito foram introduzidos pelo Olivereduc.
Nota: 1. Destaque em negrito é do Oliver, exceto a palavra "urgente", em itálico. Tudo leva a crer que foi ênfase dada por Lenin.
Fonte: Pipes, Richard. História Concisa da
Revolução Russa. Tradução de T. Reis – RJ, BestBolso, 2008, p.237-239.
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