Valter de Oliveira
Desde a
campanha eleitoral os eleitores de Bolsonaro sonhavam com o início de mudanças
na composição do STF. O candidato acenou com a futura indicação de Moro,
baluarte na campanha contra a corrupção política no Brasil.
Muita
gente ficou entusiasmada.
Certos entusiasmos fazem parte da cultura brasileira. Já
acontecera antes com a atuação do ministro Joaquim Barbosa quando este criticou seus
colegas que teriam negado coisas evidentes no processo do mensalão (1). Bastou para que muita gente pensasse em lançá-lo
como candidato a presidente.
Na verdade
falta visão de conjunto. Certas posturas acertadas de certos atores políticos
em determinada ocasião não nos garantem que acertarão em muitos outros pontos.
Temos que saber o que eles pensam sobre muitas outras coisas e se são coerentes
entre teoria e prática.
A
divergência Moro-Bolsonaro provocou frustração entre os eleitores de Bolsonaro
que se dividiram. As faíscas prejudicaram a ambos. Perdeu também o Brasil com a
não indicação de Moro?
Descartado o antigo ministro falou-se em novos nomes que
poderiam ser indicados. Esperava-se a indicação de alguém com grandes
qualidades jurídicas, ilibada reputação, coerente, identificado com os valores
conservadores desejados por grande parte da população e, principalmente, na
capacidade de aplicar a justiça. (2)
Repentinamente surgiu o nome do desembargador Kassio
Nunes, do Piauí. Houve quem dissesse que era só balão de ensaio para sentir a
opinião do eleitorado do presidente. A base não gostou. Expressou isso
claramente.
Apesar disso Kassio foi indicado. Conforme as notícias
com as bênçãos de Toffoli, Gilmar Mendes e do Centrão. Indicação também recebida com agrado pela
bancada nordestina.
Prevaricação do presidente? Pragmatismo político?
Sagacidade maquiavélica?
Eleitores mais fiéis afirmam que Bolsonaro sabia que
outros nomes não seriam aprovados. Assim teria acertado em indicar quem é mais
próximo e toma tubaína com ele.
De minha parte preferiria a indicação de Ives Gandra
Martins Filho. Mas, vejam só, como o jurista é numerário do Opus Dei isso já
seria uma coisa difícil de engolir. A entidade seria ultraconservadora ou até
franquista, como insistem em afirmar os pseudoinformadores.
Fingem que não sabem que o Opus Dei, tal como a Igreja,
não impõe um credo político. Só o que se pede é que seus associados sejam fiéis
ao ensinamento católico.
Contudo nada disso interessa à nova inquisição laicista revolucionária.
Se Bolsonaro tivesse indicado Ives Gandra teria
demonstrado a coragem de Trump. O Chefe de Estado norte-americano que é
presbiteriano, sem pestanejar, indicou para a suprema corte americana uma
jurista católica com seis filhos.
Verdade que lá os republicanos têm a maioria do Senado. A
indicação provavelmente será aprovada. E aqui? Quem garante que nossos nobres
senadores estão ávidos para indicar um conservador? Mesmo assim, cabe a
pergunta: teriam a coragem de rejeitar quando jamais fizeram isso no passado?
Bolsonaro, que ao contrário do que se imagina conhece os
bastidores da política, pode ter informações que desconhecemos. Resolveu ser
pragmático. Acertou?
Kassio Nunes certamente será indicado. Votará bem? Irá
contra a corrente? O futuro dirá. Confesso que minha esperança não é grande.
É sabido que a política é a arte do possível. Ela não é
fácil.
De qualquer modo o presidente sabe que não agradou sua
base. Esperava-se mais dele neste momento. Prometeu-se muito. Por enquanto,
infelizmente, o episódio lembra o famoso caso do parto da montanha.
Notas:
2.
Editorial da Gazeta do Povo do dia 02 de
outubro p.p. indica detalhadamente - e
com todo acerto - as qualidades necessárias a um magistrado do STF.
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