Valter
de Oliveira
Jânio Quadros |
Era só um garoto quando ouvi
falar pela primeira vez em corrupção. Foi através do rádio que não cansava de
tocar a marchinha de Jânio Quadros: “Varre, varre, vassourinha”... Quem era
Jânio? Não o conhecia. Nem tinha TV. Finalmente vi sua foto na revista Cruzeiro.
Lá estava ele, sentado no meio fio, comendo banana... Não me lembro se era
candidato a governador ou a presidente. Não gostei. Não me parecia digno de
quem iria, talvez, ocupar um alto cargo no Executivo. E eu nem sabia o que era
populismo...
Anos depois, passava pelo
viaduto do Chá rumo ao dentista na Conselheiro Crispiniano. Perplexo, deparei-me
com uma multidão. Era a famosa “Marcha da Família com Deus pela liberdade”. Um
carro da Record filmava tudo. Da época só lembro que se fazia muita greve
(estava muito preocupado com futebol, música jovem e Ray Conniff). Era tão
comum que eu e um amigo decidimos convocar os colegas para uma greve no Colégio
Emília de Paiva Meira, em Itaquera. O sucesso foi rápido. O castigo também.
Minha turma pegou 3 dias de suspensão. Achamos graça.
Em outubro de 1964 minha
vida mudou totalmente. Motivo: religião. Depois de vacilar por um longo tempo
recebi a graça de compreender que valia a pena viver por Deus. Desde então
tenho tentado. Deus é paciente...
O resultado é que comecei a
preocupar-me com política, filosofia, história, religião. Diariamente lia o
Estadão acompanhando tudo o que ocorria no Concílio. E no mundo. Por acréscimo
as inúmeras aulas extras que tive com meu professor de História ajudaram muito
na minha formação.
As leituras levaram-me, a
saber, que os militares argumentavam que haviam tomado o poder para combater
três coisas: 1. A subversão. 2. A inflação. 3. A corrupção.
Laudo Natel |
Conseguiram sucesso nos dois
primeiros pontos. Já quanto à corrupção não tinha ideia. O que sei é que nas
duas ocasiões em que estive próximo de dois governadores – Laudo Natel em São
Paulo e Eraldo Gueiros em Recife – fiquei incomodado com o séquito de ambos.
Tive a impressão de ser um bando de oportunistas. “Conservadores”...
Eraldo Gueiros |
No final dos anos 70 tive um
contato maior com um jovem engenheiro de uma grande empresa. Começou a
enriquecer e resolveu diversificar suas aplicações financeiras. Meu pai
trabalhava com imóveis e construção (Construção e decoração já foram meus
hobbies). Convidou-nos para uma parceria. Durou algum tempo.
No aprofundamento da amizade
soube que ele estava envolvido na intermediação de negócios entre a iniciativa
privada e o governo. Foi assim que ele começara a enriquecer. Um dia perguntei-lhe
se não achava que tal procedimento feria a ética. Respondeu-me que não. “Ninguém
rouba ninguém, disse ele, só se combinam os resultados. Aliás, disse ele, é o
único meio que as coisas são feitas no Brasil. Todo mundo ganha um pouco. Tudo é
combinado”...
Um belo dia, em visita a seu
escritório, perguntei-lhe:
-“Você viu o Ferreira Neto
(programa político da TV Gazeta) ontem”?
- “Não”, respondeu. “Por quê?”
- “Fulano (deputado federal
bem conhecido na época) fez uma catilinária contra a corrupção do Maluf e do
PMDB”.
- “Que pilantra! Dei sete
milhões para ele na semana passada”!
Pois é... E soube de várias
outras histórias...
Nosso relacionamento
comercial durou pouco mais de um ano e passamos a nos ver esporadicamente (1). Um
dia, nos tempos do governo Collor fui visita-lo em sua casa. Estava triste e
preocupado. De algum modo foi posto de lado nos esquemas governamentais. Ainda
tinha, disse-me ele, alguma chance. Se conseguisse um negócio importante
relacionado com o projeto do trem bala. (se o começo do negócio desse certo a
caixinha seria de 180 milhões de dólares... Para quantos? 7 políticos...)
poderia voltar a ter seu espaço no esquema. Soube depois que não conseguiu. Foi
perdendo os bens. Morreu. Recentemente contaram-me que sua morte não foi repentina.
No hospital tinha recebido os últimos
sacramentos. Foi um consolo para mim que também testemunhei muitas coisas boas
que ele fez.
Assim, caros amigos, quero
deixar bem claro que há muito conheço, por testemunhos fidedignos, a corrupção
que assola nosso país. (Evidente que não foi o PT que a inventou... Ele só
mergulhou nela, inebriou-se nela). Depois, quando voltei novamente para a área de
História – em 1987 – fui conhecendo-a mais a fundo por leituras e por aulas. Principalmente
depois que fiz um mestrado em Estudos Brasileiros na Universidade Mackenzie.
Curso idealizado pelo saudoso general Meira Mattos e por Alfredo do Amaral
Gurgel. O melhor que tive na área
acadêmica. Nele tive a felicidade de conhecer o amigo – e grande economista da
UERJ – Ubiratan Jorge Iório de Souza que me abriu os olhos para os encantos da
economia (2).
Tudo isso para dizer que, se
desde jovem, como já disse, encantava-me tudo o que é relativo à área de
humanas, esse amor cresceu ainda mais a partir de 88 quando vi muita coisa de
política e geopolítica. Aprendi a ver Ciência política e Economia com teoria e
prática, sem utopismos ideologizantes e sem alienação. Política que
naturalmente nada tem a ver com a politicagem rasteira da oligarquia que dirige
nosso país.
Vejam! Eu, um simples
professor de História, há muito sei como as coisas ocorrem em nossos
bastidores. Pergunto: É possível que nossos políticos não saibam?
Deus do Céu! Vejam Roberto
Jefferson, no “Mesa Redonda” da Cultura (3). Lá diz ele, claramente,
estrondosamente, que é assim que as coisas funcionam no Brasil. O PT só foi
mais ousado... O que me impressionou, disse ele, foi a “coragem do PT” em
avançar tanto! Depois Dulcídio, no mesmo programa, bateu na mesma tecla (4):
“Todos sabem”... E olhando para os jornalistas: “Vocês sabem!” Ninguém o
desmentiu...
Pois é. Eu sei, a classe
política sabe, os empresários sabem, os jornalistas sabem e... Maravilha, Dilma
e Lula, candidamente, nada sabem!
É uma ignorância tão santa
que ainda há quem acredite e os queira de volta!
Bem se diz que a esquerda é
uma religião.
“Esquerda”? “E o marxismo”?
É seita fundamentalista.
Notas:
(1)
os negócios se resumiram na construção de 2 sobrados em um terreno meu.
(2)
Lembro-me ainda de uma de nossas primeiras conversas quando ele disse: -“Puxa!
Você é o primeiro professor de História que conheço que não é de esquerda!
Um
fato curioso: minha formação era de forte oposição ao marxismo mas também ao
liberalismo já que defendo a doutrina social da Igreja. Meu caro Bira disse-me
que não entendia a oposição do Magistério Católico ao liberalismo. Acontece que
o que ele apresentou nas aulas não parecia ser o que as encíclicas
criticavam. Era um liberalismo
simpático...pelo menos em economia. Com o tempo parece-me que ele mudou em
alguns pontos já que ficou um adepto entusiasmado da escola liberal austríaca. Dá
para conciliar tudo? Não sei. Preciso conversar mais com o cara mestre...
(3)
Roberto Jefferson no Roda Viva (link https://www.youtube.com/watch?v=wnpQRw01ztQ)
(4)
Delcídio no Roda Viva (link https://www.youtube.com/watch?v=h1Aa1K-ky9g)
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