O eterno ou o inefável?
Já vi muita gente elogiando Lenin, incluindo vários colegas de esquerda. "Ah se ele tivesse vivido mais alguns anos", suspiram eles, dando a entender que então a Rússia não teria caído no totalitarismo e no terror. Viveu menos. O suficiente para deixar uma deputada do PSOL louvá-lo como grande homem da revolução de outubro. A mídia não caiu em cima dela por elogiar um extremista... Afinal parece que há um extremismo mau e outro bom, não é mesmo?
Devido a isso achei por bem transcrever alguns pontos do livro: História concisa da Revolução Russa, de Richard Pipes. Vai nos ajudar a conhecer melhor o companheiro de Trotski e Stalin.
O historiador conta que Lenin, ao entrar na Universidade de Kazan, "reconhecido por outros estudantes como o irmão de Alexandre, que acabara de ser executado (...), foi atraído por uma organização política clandestina. Sua participação veio à luz numa inofensiva reunião de protesto (...) e ele foi expulso".
"Proibido de ingressar em outro estabelecimento de ensino, compreensivelmente ressentido, Lenin ficou ocioso durante quatro anos, desesperado a ponto de levar sua mãe a temer que se matasse. Enquanto ela procurava as autoridades universitárias, solicitando que o readmitissem, o jovem familiarizou-se com a literatura radical, transformando-se num revolucionário fanático, determinado a destruir o Estado e a sociedade que o haviam tratado de um modo tão vil. Em contato frequente com ele, ao longo da última década do século XIX, Struve (1) recorda que
"seu estado de espírito predominante era o ódio. Lenin entregou-se à doutrina de Marx basicamente porque encontrava nela resposta para tudo aquilo que ocupava a sua mente. A incansável guerra de classes, objetivando a destruição e o extermínio completo do inimigo, tinha tudo a ver com a atitude emocional de Lenin diante da realidade.Ele odiava não somente a autocracia existente (o czar) e a aristocracia, não apenas a autoridade policial, ilegal e arbitrária, mas seus antípodas - "os liberais" e a "burguesia". Seu rancor tinha algo de repulsivo e terrível; enraizado em emoções e repugnâncias concretas, animais, era abstrato e frio, ao mesmo tempo, como Lenin inteiro"
(...)
"Aos 22 anos, sua têmpera estava forjada. Figura baixa e atarracada, prematuramente calvo, seus olhos de esguelha e maçãs do rosto salientes, aliados à maneira brusca de falar, em geral acompanhada de um riso sarcástico, causavam má impressão. (...) Seu fogo interno ... era a primeira impressão que causava nas pessoas. Ele conhecia apenas duas categorias de homens - amigo e inimigo - os que o seguiam e o resto. Em 1904, muito antes de se juntar a Lenin, Trotsky comparou-o a Robespierre, que só conhecia "dois partidos - o dos bons e o dos maus cidadãos" (...) o dualismo irreconciliável de "amigo-inimigo" acarretou duas importantes consequências históricas:
"Em primeiro lugar, levou Lenin a considerar a política como conflito permanente. Num raro momento de franqueza, ao definir a paz como "pausa para a guerra", inadvertidamente, ele nos permitiu um vislumbre dos mais profundos recessos de sua mente - sua incapacidade total de transigir, a não ser por alguma razão tática. No poder, sua atitude e de seus companheiros impregnaram todo o regime".
Em segundo lugar, provocou uma total inabilidade, ou intolerância diante de pontos de vista contrários. Enxergando em qualquer grupo ou indivíduo que não fosse membro de seu partido ipso facto uma ameaça, tornava-se imperiosa sua eliminação."
Eis um breve retrato de Lenin, "o eterno"... A seguir veremos como ele agiu no poder.
Até mais.
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