Valter de Oliveira
Vimos que a Igreja defende claramente que há uma justa autonomia tanto do poder temporal - o Estado - quanto do poder espiritual - a Igreja. Na Idade Média ensinava-se que deviam estar unidos. Ensinamento que durou até o Concílio Vaticano II. A Igreja era o sol, o Estado era a lua. Como tal, não tinha luz própria. Também foi dito que a Igreja era a alma; o Estado era o corpo. Este, para ter verdadeira vida, deveria estar unido à Igreja.
Apesar disso se ensinava claramente que cada um tinha sua esfera específica de atuação. Cabia ao Estado cuidar do bem comum da sociedade temporal. Cabia à Igreja cuidar do bem espiritual dos fiéis para que conseguissem a salvação.
Também era muito claro para todos que a autonomia do Estado não significava que ele pudesse não respeitar as leis divinas e a lei natural. Na prática, também, os governantes tinham que respeitar a lei consuetudinária; os legítimos costumes da sociedade.
Apesar das inúmeras mudanças ocorridas na idade moderna tais princípios permaneceram vivos no magistério católico. A Igreja ainda se valeu deles para julgar a questão social, o liberalismo e o socialismo.
A crítica ao totalitarismo
A Igreja sempre ensinou que o poder deve ser limitado. A defesa que o bispo Bossuet fez da teoria do poder divino dos reis nunca foi consonante com o ensinamento do magistério católico.
O totalitarismo é algo muito mais grave que o absolutismo dos reis. É uma ideologia surgida no mundo contemporâneo que afirma que o Estado é, na realidade, o único detentor de todos os direitos. Assim, ele intervém em todos os grupos sociais, e acaba por intervir, planejar, e dirigir totalmente toda a vida da sociedade. Deste modo ele afoga todas as aspirações particulares, facilmente tidas como oposição ao governo e dignas de severos castigos.
Llovera, em seu manual de "Sociologia Cristiana" diz que no totalitarismo:
"A moral, o direito, a religião, o ensino, a agricultura, a indústria, o comércio, tudo deve não somente submeter-se à inspeção universal de um governo que se considera omnisciente e omnipotente, mas também obedecer a uma moção impulsora e diretiva, sem ficar nenhum outro campo à iniciativa individual e privada senão o de mover-se dentro dos moldes de antemão assinalados pela ação governativa do poder (Llovera, Tratado de Sociologia Cristiana, p. 105).
Um parenteses para esclarecer conceitos. Ditadura não é sinônimo de totalitarismo. Elas podem ou não ser totalitárias. Por outro lado todo totalitarismo é ditatorial.
Totalitarismos do século XX:
São quatro: O fascismo, o nazismo, o socialismo e o comunismo
1. O fascismo
Fascismo é palavra polivalente. Seu uso mais comum é como sinônimo de autoritarismo e violência. A esquerda usa a palavra fascista a torto e a direito. Claro, o alvo, pode ser realmente alguém que defenda os ideais de Mussolini. Mas, pode ser também FHC, Dória, Bolsonaro e até uma freira palestrando em defesa da família tradicional...
Na verdade, pouca gente conhece o fascismo doutrinariamente. Basta perguntar a alguns conhecidos.
Quem conhece um pouquinho do assunto é capaz de dizer que o fascismo era um movimento de direita contra o comunismo. Se guardou um pouquinho mais do que aprendeu na escola vai dizer, além disso, que foi uma reação do capitalismo contra os movimentos de esquerda. Será? Vamos responder a questão enquanto elencamos, sumariamente, suas características.
Características do fascismo.
1. Combate ao socialismo e ao comunismo. Era o que julgava a imensa maioria dos apoiadores e militantes das fileiras fascistas. O partido dizia que as duas ideologias eram destrutivas dos valores ocidentais. Não percebiam o que havia de socialista nas propostas do partido.
2. Crítica feroz ao liberalismo acusado de criar o caos que imperava na Europa após a Primeira Guerra Mundial. Daí:
2.1. A rejeição do sistema representativo democrático (na Europa o Parlamentarismo), acusado de gerar divisões (partidos defendem partes...) e de enfraquecer a unidade nacional.
2.2. Desprezo pela liberdade e direitos individuais, uma vez que, para os fascistas, os direitos dos indivíduos tinham de estar submetidos aos interesses da Nação e do Estado.
2.3. Fortíssima crítica ao capitalismo, especialmente o capitalismo financeiro, que colocaria o capital acima dos interesses nacionais e que a todos estaria explorando através da usura. Com a influência do nazismo alemão a propaganda governamental começou a colocar como culpados os grande banqueiros que, em sua maioria, seriam judeus...
Este ponto já mostra o erro em se afirmar que o fascismo é capitalista. É certo que foi apoiado por certos capitalistas mas o regime gerado perdeu as características do sistema de mercado.
2.5. O corporativismo, sistema através do qual se criavam associações de classe, supostamente baseadas em costumes medievais, que iriam impedir a luta de classes pregada pelos marxistas. Patrões e empregados estariam unidos nessas corporações sob a tutela e a direção do Estado.
2.6. Ultranacionalismo. A Nação era o valor mais importante, exaltando as glórias do passado, as realizações do presente e a grandeza do futuro. A partir daí preconceitos racistas foram usados para afirmar uma suposta superioridade. Tal nacionalismo vai se aproveitar de ideologias geopolíticas. Por exemplo: a teoria do espaço vital que foi usada como pretexto para a invasão e ocupação de territórios de outras nações.
2.7. Enaltecimento da autoridade do chefe (Duce, na Itália). Lider carismático, forte, considerado o guia e o salvador da Nação e a quem se devia obediência cega.
2.8. Existência de um partido único. Ele formava seus quadros e dele sairiam aqueles designados para dirigir todas as instituições da Nação.
2.9. Militarismo (até educação de crianças e jovens passava a ter um caráter militarizado) e criação de milícias armadas, usadas para reprimir pela violência os adversários do regime.
2.9. Militarismo (até educação de crianças e jovens passava a ter um caráter militarizado) e criação de milícias armadas, usadas para reprimir pela violência os adversários do regime.
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No próximo post vamos detalhar brevemente a doutrina do fascismo e porque ele foi condenado pela Igreja.
Obra citada: LLOVERA, José M. Tratado de Sociologia Cristiana, Barcelona, Luis Gili editor.s/d.
Um comentário:
Muito bom!
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